10 August 2008

37 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE




(12)


CAMBACO I
Editado em 1982

CAMBACO II
Editado em 1996




AUTOR
José Pardal
Editor: MEIBÉRICA – LIBER EDITORES, Lda
Av. Álvares Cabral, 84, r/c Dtº - 1250 LISBOA


1- BREVES NOTAS ACERCA DO AUTOR

José da Cunha Pardal – Zé Pardal para os amigos e Mestre Pardal para as sucessivas gerações de alunos da Escola e Instituto Comercial de Lourenço Marques (actual Maputo) que o tiveram como professor - é uma figura que dispensa apresentação especial para quem viveu na capital de Moçambique durante os últimos quarenta anos do período colonial, dada a sua popularidade alcançada tanto na área do ensino como nas actividades da caça!

Para além de se ter tornado um excelente caçador de elefantes, o Zé Pardal dedicou grande parte da sua vida em Moçambique à defesa e conservação da vida selvagem do território, como vogal dos organismos de tutela e consultivo deste sector, respectivamente, Comissão Central de Caça e Conselho de Protecção da Natureza. Para estas funções ele fora nomeado em representação dos caçadores, facto que, só por si, lhe granjeava a admiração e respeito dos muitos milhares de praticantes do desporto caça.

Não é demais afirmar que o Zé Pardal fez parte de um punhado de excepcionais caçadores de elefantes que actuaram em Moçambique no século passado, de entre eles me ocorrem os nomes de alguns, como: Harry Manners, José Afonso Ruiz, Orlando Cristina, Manuel Maria Nunes, Virgílio Garcia, Pierre Maia, Gustavo Guex e Francisco Daniel Roxo.

Em relação a todos estes o Zé Pardal leva a vantagem de ter sido um estudioso de balística, sabendo como melhor utilizar as armas e munições para determinadas situações ou posição dos elefantes, chegando ao ponto de, ele próprio, fabricar e carregar os seus projécteis, balanceando-os em função dos estudos de impacto e perfuração que ao longo dos anos foi fazendo. Este aspecto tornou-o conhecido e respeitado no mundo da caça e por isso muitas vezes solicitado a proferir palestras e escrever artigos de grande craveira científica. É, ainda hoje, um assíduo colaborador da revista portuguesa “Calibre 12”!

Conheci o Zé Pardal em 1955, exactamente durante as provas de concurso para fiscal de caça, a que concorri e ele era membro do respectivo júri na qualidade de vogal da Comissão Central de Caça.

Antes disso ouvira muitas vezes falar dele e as referências que tinha levaram-me a ter por este homem um elevado respeito e admiração.

O nosso relacionamento institucional, iniciado depois da minha entrada para os quadros da fiscalização da caça, em 1957, depressa conduziu a uma amizade que se mantém até aos dias de hoje e inclui a sua simpática esposa, a Maria Amélia.

Alguns anos depois do seu regresso a Portugal, resultante da independência de Moçambique em 1975, visitei o casal na sua confortável residência às portas de Lisboa e foi um desfiar de recordações!

Posteriormente, em 1995, voltei à sua casa para o felicitar pela sua excelente obra “Cambaco I”, cujo volume levei debaixo do braço para o indispensável autógrafo, que foi assim:


Os anos passaram ligeiros como o vento nas estepes africanas e eis que estamos no ano da graça de 2008!

Entretanto, em 1996, o Zé Pardal publicou o “Cambaco II”, outro sucesso que correu mundo visto que foi traduzido, tal como o "Cambaco I", em duas das principais línguas universais: inglês e espanhol.

Por descuido meu não adquiri esta segunda obra na altura em que foi lançada. Depois dessa fase desapareceu do mercado e só agora, com a nova visita que lhe fiz, passou a fazer parte do meu acervo graças à generosa oferta do autor, que previamente lhe colocou a sua chancela por baixo de uma simpática dedicatória, também assinada pela Maria Amélia !

Não obstante os anos que já passaram e o profundo desgosto que sentem pelo afastamento forçado de Moçambique nas condições que são conhecidas daqueles que viveram o trauma da descolonização mal conduzida pelos governantes da época, ambos conservam nos seus rostos serenos a felicidade das suas vidas!


O simpático casal – Zé Pardal e Maria Amélia.

Bem me enganei quando, antes de lhe telefonar a anunciar a visita, pensei que iria encontrar o casal abatido pelo peso dos anos e o desgosto de viverem longe da sua terra amada! Pelo contrário, ambos conservam a jovialidade de duas ou três décadas antes, o que me deixou surpreendido, cheio de inveja, mas feliz!

A bela tarde que passei com estes velhos amigos trouxe-me à memória esses tempos em que ambos éramos novos e tínhamos ideais comuns, sobretudo os de conservação da vida animal selvagem de Moçambique, onde estivemos envolvidos com grande paixão e entusiasmo e nos empenhados por fazer o nosso melhor.

Mas não só, também tínhamos um hobby que contribuiu para uma mais estreita amizade, que era a fotografia. No pequeno laboratório da sua casa da Fernandes Tomas, em Lourenço Marques, passamos muitas horas lidando com as revelações, os negativos e as reproduções de fotos, um passatempo que se transformou numa paixão depois que recebi mais lições do mestre Ricardo Rangel e mais tarde do Xico Magalhães, em Vila Pery.

O entusiasmo pela fotografia foi tal que antes da minha partida para o Norte, em 1957, resolvi apetrechar-me do material necessário para um pequeno laboratório amador, assim como de uma máquina de 35 mm que substituíu a velha e anacrónica Kodak 6x6 que possuía. O próprio Pardal me vendeu a sua "Clarus", uma famosa máquina americana em aço inox, equipada com três lentes, uma delas teleobjectiva ideal para captar imagens a média distância. O bonito e resistente estojo em cabedal rígido, vinha repleto de pertences, tais como filtros, fotómetro, pinceis de limpeza, borracha de ventilação, etc. Era a máquina ideal para me acompanhar nas campanhas do mato que iria ter pela frente, visto que fora concebida para suportar a dureza das reportagens nas frentes de combate durante a segunda guerra mundial.
Ao Zé Pardal devo grande parte deste entusiasmo!


Uma das minhas fotos favoritas, tirada com a "Clarus" em 1958, em Montepuez. Um contra luz sem filtro, que apesar do desgaste de 50 anos aos trambolhões, ainda mostra a excelência da lente e do sistema de velocidade!

A facilidade que passei a ter, de fazer as minhas próprias fotografias com considerável economia, levou-me, ao longo de quase vinte anos de vivência no interior de Moçambique, a encher álbuns sobre álbuns que deixaram de caber nas exíguas estantes das casas que habitava, depois a encher as gavetas destinadas às roupas e por fim a meter as fotos em caixas de sapatos!

Ao longo de meio século que já passou desde o início dessa fobia, consegui desfazer-me de uma boa parte desse espólio, dando-o aos filhos e às netas, mas ainda vivo atolado nesses arquivos que já cheiram a bafio!

Felizmente que as novas tecnologias do digital acabaram com tudo isso!




A foto que se impunha - os velhos "cambacos" juntos!


Para além das muitas pessoas do nosso tempo que recordámos durante a maravilhosa tarde passada com o simpático casal, uma figura especial mereceu particular atenção: o saudoso Francisco Pardal, irmão do José Pardal!

O Xico Pardal (como era tratado pelos familiares e amigos), foi o melhor taxidermista de sempre em Moçambique, com reputação mundial. Teve a sua oficina/atellier na cidade da Beira, centro nevrálgico das actividades cinegéticas de Moçambique. Os trabalhos ali executados em qualquer montagem parcial ou total dos grandes, médios ou pequenos animais, obedeciam à melhor tecnologia das famosas taxidermias americanas e espanholas, graças aos conhecimentos e permanente aperfeiçoamento do Xico nesta matéria. Daí ser muito requisitado pelos mais exigentes caçadores que efectuavam safaris de caça em Moçambique.


O prestígio alcançado pelo Xico Pardal, na área da taxidermia, muito contribuíu para o bom nome da indústria dos safaris de caça no território, que durante os quinze anos que precederam a independência em 1975, foi considerado o destino preferido dos amantes da caça africana. O mano Zé, naturalmente orgulhoso disso, não deixou de lhe prestar a merecida homenagem na sua obra!



Os manos Pardal - Foto extraída do Livro "Cambaco I"




2 – IMPRESSÕES ACERCA DAS OBRAS



Os “Cambacos” do José Pardal são, por ventura, as obras mais interessantes e genuínas que se escreveram sobre a caça em Moçambique!

Convém esclarecer que a palavra “caça” tem conotação apenas com o acto de caçar e não com os animais (fauna bravia), uma terminologia que no passado foi muito comum para as duas coisas mas que actualmente já não se aplica desta maneira.

Ambos os volumes estão recheados de histórias de caça e de relatos da vivência do autor e de sua família (mulher e dois filhos) no mato em Moçambique. Algumas dessas histórias transmitem com grande fidelidade as emoções e os perigos vividos pelo autor durante as caçadas aos grandes animais, sobretudo elefantes, a espécie maior a que se dedicou ao longo dos anos e o tornou um dos maiores caçadores do seu tempo.




José Pardal, o grande caçador de elefantes!

(Foto do livro "Cambaco I")

O José Pardal é um escritor nato, que sabe transmitir, por palavras adequadas e carregadas de emoção, os mais ínfimos pormenores dos acontecimentos que ele próprio viveu, a maior parte deles recheados de perigos, sobretudo quando relata as caçadas que lhe causaram grandes arrepios e perigaram a sua vida e dos seus acompanhantes.

Por outro lado, o autor valoriza as suas narrativas com um toque de romantismo de rara sensibilidade, só possível a quem viveu e saboreou tão apaixonadamente toda a beleza do interior de África, o contacto com populações no seu estado de pureza e cultura ancestral e observou as mais belas cenas da vida animal selvagem que só nesse profundo interior podem ser vistas!

Mas não só, o José Pardal, a cada passo das suas histórias, dá-nos a grande lição de humildade, de franqueza e de pureza de sentimentos ao valorizar essa gente fantástica do interior com quem conviveu e de quem recebeu ensinamentos preciosos, realçando as amizades que construiu com os seus pisteiros e moradores dos locais onde acampava e caçava.

A atracção que o Zé Pardal teve desde muito novo pela caça e pela vida simples do interior de Moçambique, foi seguida pela mulher e filhos, um clã que ao longo dos anos fez as suas férias nos acampamentos e todos vieram a ser caçadores. Jamais usufruiram das licenças graciosas à metrópole a que tinham direito e este aspecto é salientado pelo autor com grande orgulho porque, dessa forma, construiu uma família unida e cheia de amor!

Melhor que as minhas palavras, são as transcrições que se seguem de alguns trechos de ambos os volumes. A narrativa sobre o "O Elefante que estava ao Lado" é um caso que se repetiu com muitos caçadores de elefantes, alguns mesmo pagaram com a própria vida porque algo falhou na avaliação correcta da situação no momento crucial de disparo. Esta breve amostra deixa claro o valor destas duas obras e aguça a curiosidade para a próxima publicação, que irá surgir em breve e que o autor diz ser uma condensação dos dois volumes, aumentada substancialmente de narrativas de outros acontecimentos da sua vida sertaneja, de aventuras e observações, quer como caçador quer como estudioso do inestimável património que a natureza nos legou - a fauna bravia.

Será, certamente, mais um trabalho de grande craveira que os apreciadores não vão deixar de ler e de ter nos seus escaparates!

Força Zé Pardal!

Marrabenta, Agosto de 2008

Celestino Gonçalves





3 – REPRODUÇÕES DO “CAMBACO I”





3.1 - DEFINIÇÃO DA PALAVRA “CAMBACO”



3.2 – DEFINIÇÃO DE “CAÇADOR”


3.3– NOTA DO EDITOR


3.4– PREFÁCIO


3.5 - INTRODUÇÃO





4 – REPRODUÇÕES DO “CAMBACO II”




4.1 - RETRATO A ÓLEO DO AUTOR




4.2 - NOTA DO AUTOR

4.3 - NOTA DO EDITOR

4.4 – CAPÍTULO II – O ELEFANTE QUE ESTAVA AO LADO







FIM