CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO
(16)
ÚLTIMO DIA DE FÉRIAS EM MOÇAMBIQUE
(2008/2009)
A ENTREVISTA QUE SE IMPUNHA
Deixei Maputo há cerca de quatro horas atrás!
A bordo do avião da TAP na viagem de
regresso a Lisboa e ainda sob a emoção da despedida, que é sempre difícil para
quem deixa a família, os amigos e a sua terra do coração, interrogo-me como
passaram tão depressa os últimos seis meses, tempo que durou a nossa estadia em
Moçambique!
Não obstante o desconforto dos assentos da turística, exíguos e
forrados com tudo menos espuma de borracha, aproveito a viagem para alinhavar
estas breves linhas, que encerram a série das “cartas” que escrevi e publiquei
durante a estadia. Serão breves e pouco inspiradas porque carrego ainda o cansaço
do último dia muito agitado em Maputo e de uma noite mal dormida!
No Moçambique actual e concretamente na
cidade de Maputo, não é fácil programar e executar atempadamente qualquer
tarefa, sobretudo se a mesma depende de deslocações. Ali tudo mudou e os velhos
hábitos de vida pacata são apenas resquícios do passado! Anda tudo numa roda
viva na corrida para o emprego, a levar os filhos à escola, a fazer compras,
etc. Perde-se um tempo infinito no trânsito, que é simplesmente caótico não só
nas horas de ponta mas durante todo o dia, onde uma praga chamada “chapas” se
instalou e tomou conta da cidade em todas as suas principais artérias!
Como numa boa parte dos dias passados em
Maputo andei envolvido nesse trânsito, acabei por me habituar a adiar para o
dia seguinte o que não podia fazer no dia aprazado.
Nesse ciclo vicioso, acabei por ser
apanhado com montes de coisas por fazer no último dia da estadia. Compras de
última hora e despedidas obrigaram-me a um corre-corre pela cidade, que não foi
fácil e até me causou alguns arrepios quando cruzava ou era ultrapassado pelos
“chapas”!
Uma tarefa especial fora agendada para
esse dia e por isso me condicionou ainda mais, sobretudo para distribuir
abraços de despedida a alguns amigos que tiveram de se contentar com um
telefonema.
Conduzida pelo próprio Mia, acabado de
regressar a Maputo, a entrevista
realizou-se justamente na véspera do meu regresso a Lisboa, tendo decorrido nos jardins do mais categorizado complexo turístico da capital,
o moderno Indy Village (Grupo Visabeira), em plena Sommerschield II.
Porque o tema
principal era a Gorongosa e o episódio relacionado com o primeiro encontro
entre os responsáveis do Parque e da
Frelimo, em 1974, logo após o 25 de Abril em Portugal, a entrevista englobou
também o coronel Cara Alegre, um histórico comandante da Luta Armada que teve
papel preponderante em Manica e Sofala nos últimos anos da guerra colonial. Foi
este, precisamente, o responsável da Frelimo que em Agosto de 1974, na vila da
Gorongosa, fez o primeiro contacto com as autoridades coloniais, civis e
militares, da região, num encontro que ficou memorável pela forma cordial e
entusiástica como ambas as partes se reuniram e apertaram as mãos. A
esse encontro eu próprio estive presente, com uma delegação composta por
veteranos do Parque, e daí resultou uma estreita ligação com este responsável
da Frelimo que desde logo se mostrou receptivo aos apelos que lhe fizemos para
colaborar na defesa do Parque, que na altura vivia uma da suas maiores crises
justamente por se atravessar um período de grande instabilidade política e,
sobretudo, de grande incerteza quanto ao futuro da colónia.
E foi acerca desse encontro e das acções
que do mesmo resultaram que os entrevistados falaram para as câmaras da RTP,
recordando episódios marcantes da vida do Parque da Gorongosa, então ameaçado
de uma verdadeira catástrofe que era o desaparecimento da sua fauna!
Ver
a crónica desse memorável encontro em:
Esperamos que esta nossa contribuição
valorize o interessante trabalho que a RTP/IMPACTO está a fazer para
divulgar os Parques e Reservas de Moçambique.
Não posso esquecer a alegria que senti ao
rever o amigo comandante Cara Alegre e com ele recordar os momentos do nosso
encontro e recepção que lhe proporcionamos na Gorongosa, em 1974, assim como
o convívio dessa gratificante tarde, em que, à margem da entrevista, Mia Couto e os elementos da equipa da RTP, nos
rodearam de atenções e felicitaram pelo trabalho que ambos desenvolvemos há
mais de três décadas em defesa do Parque Nacional da Gorongosa. Direi mesmo que
foi um dos pontos altos da estadia e um saboroso presente a encerrar com chave de ouro as maravilhosas
férias em Moçambique.
NOTA FINAL
Sendo esta a última Carta da beira do
Índico, relacionada com a prolongada estadia em Moçambique, quero agradecer a
todos quantos pacientemente acompanharam estas modestas crónicas,
particularmente aos que deixaram os seus comentários e me enviaram mensagens de
incentivo.
A todos o meu abraço e a promessa de, na próxima viagem, voltar a escrever sobre as Terras da beira do Índico!
Saudações amigas!
Algures sobre o continente africano, 16 de Abril de 2009
Celestino Gonçalves
* * *
ALGUMAS FOTOS DA ENTREVISTA
Um brinde com o comandante Cara Alegre antes da entrevista
Mia Couto apresenta o guião da entrevista
Uma fase da entrevista
Uma pose final com o chefe da equipa da RTP
F I M