25 April 2009

55 - CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO (16)





CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO


(16)


ÚLTIMO DIA DE FÉRIAS EM MOÇAMBIQUE

(2008/2009)

A ENTREVISTA QUE SE IMPUNHA




Deixei Maputo há cerca de quatro horas atrás!

A bordo do avião da TAP na viagem de regresso a Lisboa e ainda sob a emoção da despedida, que é sempre difícil para quem deixa a família, os amigos e a sua terra do coração, interrogo-me como passaram tão depressa os últimos seis meses, tempo que durou a nossa estadia em Moçambique!

Não obstante o desconforto dos assentos da turística, exíguos e forrados com tudo menos espuma de borracha, aproveito a viagem para alinhavar estas breves linhas, que encerram a série das “cartas” que escrevi e publiquei durante a estadia. Serão breves e pouco inspiradas porque carrego ainda o cansaço do último dia muito agitado em Maputo e de uma noite mal dormida!

No Moçambique actual e concretamente na cidade de Maputo, não é fácil programar e executar atempadamente qualquer tarefa, sobretudo se a mesma depende de deslocações. Ali tudo mudou e os velhos hábitos de vida pacata são apenas resquícios do passado! Anda tudo numa roda viva na corrida para o emprego, a levar os filhos à escola, a fazer compras, etc. Perde-se um tempo infinito no trânsito, que é simplesmente caótico não só nas horas de ponta mas durante todo o dia, onde uma praga chamada “chapas” se instalou e tomou conta da cidade em todas as suas principais artérias!
Como numa boa parte dos dias passados em Maputo andei envolvido nesse trânsito, acabei por me habituar a adiar para o dia seguinte o que não podia fazer no dia aprazado.

Nesse ciclo vicioso, acabei por ser apanhado com montes de coisas por fazer no último dia da estadia. Compras de última hora e despedidas obrigaram-me a um corre-corre pela cidade, que não foi fácil e até me causou alguns arrepios quando cruzava ou era ultrapassado pelos “chapas”!

Uma tarefa especial fora agendada para esse dia e por isso me condicionou ainda mais, sobretudo para distribuir abraços de despedida a alguns amigos que tiveram de se contentar com um telefonema.


A Rádio Televisão Portuguesa (RTP), em parceria com o consagrado escritor e biólogo moçambicano, Mia Couto, e a sua empresa “IMPACTO”, desde o ano passado que iniciou filmagens para documentários sobre os 12 Parques Nacionais e Reservas de Fauna Bravia de Moçambique. Aproveitando a minha estadia em Moçambique, convidaram-me para participar neste projecto para falar sobre a história dessas áreas de conservação a que estive ligado devido às  funções que exerci neste país, tendo sido programada uma prolongada deslocação, durante o mês de Março, a algumas dessas áreas. Contudo,  devido a uma inesperada viagem, por motivos de saúde,  que o Mia Couto foi forçado a fazer  a Portugal,  essa colaboração foi limitada a uma entrevista a realizar em Maputo após o seu regresso.

Conduzida pelo próprio Mia, acabado de regressar a Maputo, a  entrevista realizou-se justamente na véspera do meu regresso a Lisboa, tendo  decorrido nos jardins  do mais categorizado complexo turístico da capital, o moderno Indy Village (Grupo Visabeira),  em plena Sommerschield II.


Porque o tema principal era a Gorongosa e o episódio relacionado com o primeiro encontro entre os responsáveis do Parque  e da Frelimo, em 1974, logo após o 25 de Abril em Portugal, a entrevista englobou também o coronel Cara Alegre, um histórico comandante da Luta Armada que teve papel preponderante em Manica e Sofala nos últimos anos da guerra colonial. Foi este, precisamente, o responsável da Frelimo que em Agosto de 1974, na vila da Gorongosa, fez o primeiro contacto com as autoridades coloniais, civis e militares, da região, num encontro que ficou memorável pela forma cordial e entusiástica como ambas as partes se reuniram e apertaram as mãos.  A esse encontro eu próprio estive presente, com uma delegação composta por veteranos do Parque, e daí resultou uma estreita ligação com este responsável da Frelimo que desde logo se mostrou receptivo aos apelos que lhe fizemos para colaborar na defesa do Parque, que na altura vivia uma da suas maiores crises justamente por se atravessar um período de grande instabilidade política e, sobretudo, de grande incerteza quanto ao futuro da colónia.

E foi acerca desse encontro e das acções que do mesmo resultaram que os entrevistados falaram para as câmaras da RTP, recordando episódios marcantes da vida do Parque da Gorongosa, então ameaçado de uma verdadeira catástrofe que era o desaparecimento da sua fauna!

Ver a crónica desse memorável encontro em:


Esperamos que esta nossa contribuição valorize o interessante trabalho que a RTP/IMPACTO  está a fazer para divulgar os Parques e Reservas de Moçambique.

Não posso esquecer a alegria que senti ao rever o amigo comandante Cara Alegre e com ele recordar os momentos do nosso encontro e recepção que lhe proporcionamos na Gorongosa, em 1974,  assim como o convívio dessa gratificante tarde, em que, à margem da entrevista,  Mia Couto e os elementos da equipa da RTP, nos rodearam de atenções e felicitaram pelo trabalho que ambos desenvolvemos há mais de três décadas em defesa do Parque Nacional da Gorongosa. Direi mesmo que foi um dos pontos altos da estadia e um saboroso presente  a encerrar com chave de ouro as maravilhosas férias em Moçambique.  

NOTA FINAL
Sendo esta a última Carta da beira do Índico, relacionada com a prolongada estadia em Moçambique, quero agradecer a todos quantos pacientemente acompanharam estas modestas crónicas, particularmente aos que deixaram os seus comentários e me enviaram mensagens de incentivo.

A todos o meu abraço e a promessa de, na próxima viagem, voltar a escrever sobre as Terras da beira do Índico!



Saudações amigas!

Algures sobre o continente africano, 16 de Abril de 2009

Celestino Gonçalves


                                                              *   *   *





ALGUMAS FOTOS DA ENTREVISTA




Um brinde com o comandante Cara Alegre antes da entrevista



Mia Couto apresenta o guião da entrevista



Montagem do cenário para a entrevista



Uma fase da entrevista


Uma pose final com o chefe da equipa da RTP


F I M 





10 April 2009

54 - CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO (15)

CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO

(15)

FÉRIAS DA PÁSCOA NAS PRAIAS DE XAI-XAI E PARADISE VIEW


Aproxima-se do fim a nossa estadia em Moçambique, iniciada em Outubro do ano transacto nesta querida terra onde vivi e fiz o meu percurso profissional entre 1952 e 1990!

Quis o destino que parte da minha família directa tivesse ficado ligada ao país pelos laços da nacionalidade e isso me dá a grande felicidade de poder vir cá, pelo menos de dois em dois anos e com estadias que variam entre os três e os seis meses, sempre acompanhado, naturalmente, pela xinavanense que me atura há mais de meio século!

Depois de termos atingido o estatuto de anciãos, a dificuldade de suportar os rigorosos invernos na santa terrinha é cada vez maior, daí sentirmos cada vez mais necessidade de permanecer por mais tempo aqui pela beira do Índico!

E é justamente à beirinha do Índico, quando faltam poucas horas para regressarmos a Maputo, que estou a alinhavar estas linhas, provavelmente as últimas desta estadia para a série das “Cartas”, pois faltam poucos dias para o regresso a Lisboa.

Aproveitando as férias da Páscoa das netas (a mais velha foi para a Ponta do Ouro integrada no grupo de finalistas da Escola Portuguesa), a família decidiu passar estes dias na praia e como é habitual o Xai-Xai foi o local de preferência! Até parece que lhes transmitimos esta “doença”, pois na verdade é a nossa praia de eleição desde que aqui passamos a lua de mel no já longínquo ano de 1956!

Como há muito havia na família a curiosidade de conhecer por dentro um dos Resorts mais famosos desta região, cinco dos oito dias de férias foram reservados para o Paradise View , um complexo turístico à boa maneira sul africana, situado entre as praias de Chongoene e Chidenguele, a 45 Km do Xai-Xai. Para ali nos transferimos no passado dia 5 e ocupámos uma das 60 casas (projecto ainda em construção), dispostas em locais estratégicos das dunas, numa frente de cerca de dois quilómetros junto à praia.
Perto deste complexo existem outros com idênticas condições de alojamento e serviços de apoio, onde não faltam barcos e motas de quatro rodas para alugar, serviço de safaris de pesca e mergulho, piscinas, restaurantes, lojas de alimentos e recordações, etc. A norte, destacam-se os Resorts “Zona Braza”, “Chizavane-Nascer do Sol”, “Nikwaz Lodg” e “Paraíso de Chidenguele”. A sul ficam os complexos “Xai-Xai Beach Resort” e “Paradise Magoo”. Todos eles são servidos por rede pública de energia eléctrica. As construções em madeira cobertas a colmo, conhecidas por bungalows, têm excelente qualidade e estão equipadas a rigor, incluindo ar condicionado, tendo cada uma delas uma pequena piscina no deck virado ao mar. Ficam isoladas umas das outras, com a floresta a protegê-las dos ventos, tornando assim o ambiente muito tranquilo e privado. Basta trazer na bagagem os produtos de alimentação!
As praias aqui são todas ao estilo da do Xai-Xai, com a grande barreira de rocha a cerca de cem metros das areias, o que permite boa segurança aos banhistas em qualquer das marés. Para se atingir a praia a pé utilizam-se carreiros que são complementados por escadarias em madeira nas casas situadas nos pontos mais altos. Contudo, também existem acessos para as viaturas e locais próprios para estacionamento e lançamento dos barcos ao mar.

Como se está na época da Páscoa, os acampamentos estão praticamente lotados de turistas, muitos deles adeptos da pesca em alto mar, o que torna os locais de lançamento dos barcos muito movimentados.

Dada a qualidade destes complexos turísticos, dos locais paradisíacos onde se encontram e os serviços que prestam, naturalmente que os preços não são pêra doce, variando consoante a época (baixa ou alta), e também em função do tamanho da casa. A maioria dos frequentadores são sul- africanos, mas também moçambicanos e de várias outras nacionalidades aqui viemos encontrar, embora se saiba que este tipo de turismo não está ao alcance da maioria esmagadora do cidadão comum deste país!
Uma casa com dois quartos de casal e duas camas de solteiro no sótão aberto, custa por dia 1.600,00 Randes (mais ou menos 170,00 €uros)!

Aproveitámos para visitar os Resorts “Zona Braza” e “Chizavane-Nascer do Sol” e até passamos uma excelente manhã na praia deste último, que é a que mais se assemelha à do Xai-Xai e onde se encontram ainda sinais da presença do comerciante português de nome Nogueira que foi o primeiro a abrir ali um acampamento turístico. A praia tem o nome da povoação comercial de Chizavane, que fica junto da estrada nacional nº 1, a dez quilómetros de distância, onde o mesmo comerciante explorava uma cantina. Actualmente o proprietário, que é sul-africano, acrescentou-lhe "Nascer do Sol", talvez para a tornar mais atraente na propaganda!

São famosos ali os peixes e mariscos servidos no restaurante e nós não quisemos deixar de os saborear, podendo agora testemunhar a veracidade dessa fama!

À beira do Índico, 9 de Abril de 2009

Celestino Gonçalves
REPORTAGEM FOTOGRÁFICA
Recanto sul da praia de Xai-Xai
Comprando caranguejos na praia de Xai-Xai
Ostras do Xai-Xai
Comprando uma túnica em Xai-Xai
Vendedor de artesanato na praia
Recepção do "Paradise View"
Observando o cartaz do "Paradise View"
O bungalow onde ficamos em Paradise View
Quarto de casal do bungalow
Observando a praia no deck do bungalow
Na piscina do bungalow
Parte sul da praia de Paradise View
Praia e bungalows de Paradise View
Uma manada de vacas desceu à praia para refrescar
Placa do Lodge de "Zona Braza"
Placa do Lodge de Chizavave-Nascer do Sol
Um trecho da bonita praia de Chizavane
Outro trecho da mesma praia
Em Chinazane até as crianças usam pranchas!
Placa indicando a proibição de entrada de viaturas na praia
Mas as viaturas circulam e estacionam aqui e noutras praias
O descaramento é tal que entram e saiem pelo portal onde está o aviso do MICOA
"Palácio dos casamentos" na praia de Chizavane
Pescadora em Chizavane
Restaurante da praia de Chizavane
Esperando pelo almoço em Chizavane!
A hora chegou e o manjar era excelente!