DE MOÇAMBIQUE
Em 1977 durante os trabalhos da "Operação Búfalo" em Marromeu
Chico com o seu inseparável pisteiro Fombe, em Kanga N´Thole
Chico (primeiro plano), com os seus colegas Coelho e Garcia
Numa primeira notícia recebida de sua sobrinha, a nossa querida amiga Helena Raposo, não havia dados concretos que sustentassem uma informação vaga sobre o falecimento do caçador-guia Francisco Coimbra, o categorizado e bem conhecido Chico Coimbra como era conhecido e tratado por toda a gente na cidade da Beira.
Contudo, a infausta notícia acaba de nos ser confirmada pela esposa do amigo Luís Pedro de Sá e Melo, colega do falecido que actua numa grande empresa de safáris de caça na Tanzania, país de residência do Chico há muitos anos!
Segundo a Ana Maria, o marido transmitiu-lhe por telefone, que a notícia lhe fora dada no próprio dia do falecimento do Chico, em 27 de Agosto último, por outro caçador português, o Orlando Cardoso, amigo comum que também actua na Tanzania. Ele tinha sido internado de urgência num hospital de Arusha e ali falecera pouco depois, não havendo, contudo, referência às causas que a tal conduziram. Foi sepultado no cemitério daquela cidade do interior tanzaniano.
O Chico tinha 80 anos! Pertenceu à elite dos caçadores-guias que na época de ouro dos safáris de caça em Moçambique (1960/1975) fez história nesta indústria cinegética em África.
Como essa indústria foi suspensa quando Moçambique se tornou independente, ele e praticamente todos os bons profissionais do ramo, partiram para outros países africanos onde continuaram a exercer a sua actividade. O Chico escolheu a Tanzania e radicou-se na região de Arusha, onde acabaria por se reformar. Era ali muito estimado pelas autoridades tanzanianas que o destinguiram e apoiaram em vários momentos da sua carreira.
A informação que o Luís Pedro transmitiu deu pormenores de uma singela e louvável homenagem que foi prestada ao Chico por parte da Tanzania Professional Hunters Association, que no dia do funeral emitiu um comunicado louvando a acção do Chico como profissional e como cidadão, terminando o mesmo com estas bonitas e justas palavras: "CHICO WAS 80 YEARS YOUNG"!
De louvar também a presença do colega Orlando Cardoso no funeral, o que não foi possível ao Luís Pedro devido a encontrar-se no sul da Tanzania, muito longe de Arusha.
Ao transmitir esta notícia não posso deixar de evocar a figura simpática e o comportamento profissional exemplar do Chico, durante aquela fase de ouro em Moçambique. Com efeito, ele era muito estimado tanto por colegas de profissão como por clientes que com ele caçavam, primeiro na Coutada de Kanga N´Thole, do Alberto Araújo e depois na SAFRIQUE.
Chico com o seu inseparável pisteiro Fombe, em Kanga N´Thole
Conheci o Chico na altura em que era o braço direito do velho Araújo e desde logo me habituei a respeitá-lo por admirar a sua postura, sempre consciente e serena, na condução dos safáris a seu cargo e na forma como se empenhava nos problemas da conservação da fauna bravia. Acompanhou-me em muitas missões de fiscalização no combate à caça furtiva naquela Coutada e estivemos juntos noutras acções como foram os safáris oficiais dos Marqueses de Villaverde (1963 e 1964) e Operação Búfalo de Marromeu (1977).
Chico (primeiro plano), com os seus colegas Coelho e Garcia
durante a "Operação Búfalo" em 1977
Uma forte amizade nos ligou graças às muitas ideias em comum e à entre-ajuda que praticamos no mato em defesa do património faunístico que ambos defendíamos, cada um no seu posto, mas com a mesma paixão!
Sem exagero posso afirmar que o Chico Coimbra fez parte dos melhores caçadores-guias de Moçambique, valorizando-se sobretudo pela simplicidade como encarava os problemas da complicada e arrojada actividade cinegética. Discreto, calmo e experiente, nunca recorreu a cenários ou a dramas que alguns caçadores usavam para se auto-elogiarem e imporem na profissão.
Partiu um grande profissional, um grande Homem, um bom Amigo!
Sentidos pêsames à Família!
Paz à sua Alma!
22 de Setembro de 2010
Celestino Gonçalves