13 March 2011

92 - MAIS UMA HOMENAGEM A MALANGATANA

Só agora me chegou às mãos este artigo de Mia Couto (com fotos de Abraão Vicente), que sendo um verdadeiro hino à memória de Malangatana, não podia deixar de o reproduzir  neste cantinho onde por várias vezes recordei o "Mestre", a última das quais e com muito pesar para anunciar a sua morte ocorrida no passado mês de Janeiro (Ver postagens 87 e 88). 


A Alma


Texto de Mia Couto, fotografias de Abrãao Vicente 


O país chorou e, com verdade, Malangantana. Todos, povo, partidos, governo foram verdadeiros na dor da despedida. Vale a pena perguntar, no entanto: fizemos-lhe em vida a celebração que ele tanto queria e merecia? Ou estamos reeditando o exercício de que somos especialistas: a homenagem póstuma? Quem tanto substitui pedir por conquistar acaba confundindo chorar por celebrar. E talvez o Mestre quisesse hoje menos lágrima e mais cor, mais conquista, mais celebração de uma utopia nova. Na verdade, Malangatana Valente Ngwenya produziu tanto em vida e produziu tanta vida que acabou ficando sem morte. Ele estará para sempre presente do lado da luz, do riso, do tempo. Este é um primeiro equívoco: Malangatana não tem sepultura. Nós não nos despedimos.

Existe, na verdade, um outro equívoco. E o logro pode ser este: Malangatana não foi apenas um grande artista. Ele foi a alma de um país. Foi alma de todos nós, Moçambique e moçambicanos. Através dele fizemo-nos ser escutados como gente, capaz de ter rosto e nome, capaz de sonhar.

O pintor resgatou e colocou não apenas em tela, mas em toda a sua vida, aquilo que eram os nossos quase sempre atabalhoados sonhos, povoados mais de monstros do que luminosas certezas. Malangatana fez por Moçambique o que todas as embaixadas do país juntas não fizeram. Não se trata aqui de menorizar o trabalho diplomático, certamente intenso e árduo. Trata-se sim de entender o quanto pode a arte como linguagem universal e como veículo de afirmação e dignidade de um povo.





O que estamos celebrando, mais do que um exímio artista, é a sua dimensão humana feita de afecto, verdade e universalidade. Mais do que um homem de cultura, ele foi um homem de culturas. A sua individualidade construiu-se na pluralidade. A necessidade dessa pluralidade é, talvez, a mensagem mais importante que ele nos deixa. Num momento em que vivemos uma versão única da nossa própria história, num momento em cresce a tentação de um pensamento único, esse legado do Mestre torna-se quase uma urgência. A diversidade é o maior alimento da alma humana.Tendo militado politicamente, não foi nunca um político. Não fez favores de conveniência, não se converteu num funcionário, num yes man cultural. A lógica dos seus quadros, mesmo quando ele se entregou à luta política, não foi subordinada a qualquer simplificação ao serviço da causa. O que ele nos revela, na sua pintura, foi o invisível. Tendo sido todos os outros, o que ele mais foi, foi ele mesmo.

Sendo um nacionalista, escolheu o mundo como nação. Tendo erguido Matalana como emblema e raiz, ele olhou como terra natal todos os lugares onde renascia, desde Tóquio a Nova Iorque. A sua Matalana era uma centopeia, um pé junto ao rio Incomáti, os outros em cada canto do mundo. Em todos esses recantos ele sentia-se à vontade. Trauteava com o mesmo à vontade as canções tradicionais rongas, uma ária de Verdi e um fado de Amália. Não tinha medo dessa pluralidade. Não teve receio nunca de nomear os que, sendo portugueses e vivendo num mesmo regime colonial, o ajudaram no início da carreira. Porque estava para além da raça, para além da nacionalidade, para além de si mesmo. Não precisava de veementes proclamações para ser moçambicano. E quanto mais ele era todos os outros, mais se convertia em Moçambique. Generoso, acolhedor, robustecido pela sua pluralidade e respeitado e amado por isso.






A grande pergunta é esta: o nosso país está produzindo mais Malangatanas? Mais Craveirinhas? Mais Fanni Mpfumos?

Não existe resposta. Cada um destes artistas é evidentemente irrepetível e cada época tem a sua dinâmica própria. Mas tenho sérias dúvidas que o nosso ambiente seja favorável à gestação de arte de qualidade. Prevalecem entre nós condições profundamente adversas. O meu dedo não se ergue, às pressas, contra ninguém. É verdade que o governo podia fazer mais. Por exemplo, podia chamar mais a si a política de investimento e apoio às artes e não abandonar esse exercício ao arbítrio dos patrocinadores. Mas seria triste que, em qualquer país, a cultura fosse produzida pelo governo. Parece tautológico, mas a verdade é que a cultura nasce da cultura. E a cultura dominante de hoje, aquela que a nossa elite promove, não é exactamente a mais fértil. Porque apela para o sucesso fácil e imediato, para a fama e o dinheiro como critérios únicos, para o vazio e para a aparência.

O que faz emergir talentos é um ambiente de debate aberto e de gente trocando ideias. Malangatana, Craveirinha e Mpfumo foram o resultado desse cadinho efervescente, onde rivalizaram propostas, escolas e tendências. 





Esse ambiente de pluralidade é hoje olhado com receio. Aos poucos fomos substituindo a mensagem de emancipação por um discurso de aumento de rendimentos. Em lugar de políticas culturais convertemos a política numa cultura. O grande estímulo hoje repetido até à exaustão resume-se ao apelo, ao empreendedorismo e à promoção no vazio do chamado “empresário de sucesso”. A cultura dos Big Brothers saltou do campo do espectáculo televisivo e invadiu o nosso quotidiano.

Somos ricos em homenagens e, grande parte das vezes, fazemo-las tardiamente. Arriscamo-nos, desse ponto de vista, a ser um país póstumo. As homenagens podem bastar para gente que tem ausência. O legado de moçambicanos como Craveirinha, Mpfumo e Malangatana merece que nos questionemos sobre como Moçambique se manterá como nação geradora da sua memória viva.

Publicado no jornal moçambicano O País, 15/1/2011


Saudações amigas!

Marrabenta, 13 de Março de 2011

Celestino Gonçalves



02 March 2011

91 - GORONGOSA NA BTL 2011

CONVÍVIO DE AMIGOS DO PNG NO DIA DE ENCERRAMENTO 
DA BOLSA DE TURISMO DE LISBOA




A propósito da representação do Parque Nacional da Gorongosa na importante Bolsa de Turismo de Lisboa, que decorreu na FIL de 23 a 27 de Fevereiro último, um grupo restrito de amigos e ex-colegas do mesmo Parque reuniu-se num almoço-convívio num dos restaurantes do Shoping Vasco da Gama, a dois passos dos pavilhões onde tal certame teve lugar. 

Este encontro, onde também participou o director de comunicação e turismo do referido Parque, Dr. Vasco Galante, decorreu em franca alegria e camaradagem, proporcionando  momentos muito agradáveis  porque  ali se recordaram  os tempos e momentos inesquecíveis  que a maioria dos presentes passou no famoso santuário da vida bravia de Moçambique.

No final do almoço o grupo visitou o   pavilhão de Moçambique onde a Gorongosa esteve  integrada com a sua mostra de cartazes, fotografias e panfletos.  Mais uma vez o PNG foi o sector do pavilhão mais solicitado pelos visitantes da BTL.

Do almoço-convívio e da visita ao pavilhão, registamos alguns desses agradáveis momentos nas fotografias  que podem ser vistas no Álbum que se segue:



Concentração para o almoço

Já na sala o Vasco mostra as novidades do Parque

 Rita e Mizé trocam segredos

 O Vasco sempre ocupado com as novidades registadas no PC

Conversa animada conduzida pelo Zé Canelas 

O canto do fundo escuta com atenção


Já na BTL - Luís Fernandes, Celestino Gonçalves,
André Couto e Luís Pedro Sá Mello

Saudações amigas!
2 de Março de 2011
Celestino Gonçalves

NOTA POSTERIOR

Com a concordância do seu autor, o nosso companheiro do convívio de  27 de Fevereiro último, José Canelas de Sousa, que foi o último director da SAFRIQUE (Sociedade de Safaris de Moçambique) durante a década de 70, transcrevemos a carta que a propósito do mesmo convívio enviou a Adelino Serras Pires, conhecido industrial de safaris e autor do Livro "Ventos de Destruição" : 


Bom dia Adelino,

Reenvio-lhe o mail do amigo Celestino, que para além de ter organizado tudo, está a preparar um album alargado da reunião que tivemos.
É natural que o Adelino não conheça algumas das pessoas, nomeadamente as senhoras, pois os anos passam e conviviamos mais com os cavalheiros.
O almoço foi simples, mais á base do celebre bife com batatas fritas no restaurante Lusitania ( tipo Portugália ) , na Expo,  mas o convívio foi excelente.
O amigo Celestino é um óptimo contador de histórias e conheceu bastante bem a “ familia SAFRIQUE “, caçadores, clientes , etc , pelo que recordámos momentos vividos e amigos comuns.
É sempre com nostalgia que “regresso ao passado “ e lamento que a “independencia “ não tivesse sido feita de forma diferente, sem tantos traumas, sem tanta destruição de património , sem tantas separações e percas irreparáveis ...
 Mas tenho de reconhecer que fomos uns privilegiados. Vivemos uma vida única, tivemos o previlégio de viver África convivendo de perto com o fantástico, quase mágico, mundo da fauna bravia, que só poucos conheceram. Muito poucos .
E convivemos com pessoas unicas que nos visitavam para partilharem comnosco esses momentos. E vivemos felizes os melhores anos das nossas vidas, pois estávamos a fazer aquilo de que gostávamos .

A nostalgia vem quando olho para trás e constacto que FOMOS OBRIGADOS  a deixar toda essa vida que adorávamos e reconhecer que a Africa que vivemos jamais voltará a existir como a conhecemos.

Várias pessoas me perguntaram se tinha voltado a visitar Moçambique, ou quando pensaria faze-lo. Tive várias oportunidades de voltar, mas preferi não o fazer. Assim, continuo a reter na minha memória todo um filme de vivências , de momentos , de amigos e lugares que sei já não iria encontrar. E assim segui o conselho de alguém que disse : Nunca voltes ao lugar onde foste feliz !

Tenho as recordações e ainda alguns amigos. Por isso é importante fazermos estas reuniões, convivermos e pensarmos que seria bom, com a participação de todos, unirmos as nossas recordações e memórias, para deixarmos um registo de toda essa fantástica geração que ajudou a colocar Moçambique como um dos melhores lugares do mundo para fazer Safaris, bem organizados e com a calorosa recepção que só nós portugueses sabemos dar.

Fica o desafio . Colaborarei modestamente no que puder .

Um abraço amigo

Zé Canelas


 Saudações Amigas!
5 de Março de 2011
Celestino Gonçalves