02 December 2011

103 - ESTUDOS SOBRE AVES E MAMÍFEROS NA SERRA DA GORONGOSA




Colaboração Internacional na Serra da Gorongosa


Durante o passado mês de Agosto, uma equipa de investigadores do Field Museum of Natural History (FMNH) (Chicago, EUA), colaborou com a Universidade Eduardo Mondlane, de Maputo e o Departamento Científico do Parque Nacional da Gorongosa na realização de pesquisas sobre aves, mamíferos e respectivos parasitas na Serra da Gorongosa.

  A equipa de investigadores Moçambicanos e Internacionais 


Outros membros da equipe incluíram cientistas dos Museus de Malawi (Blantyre), estudantes do Instituto Agrário de Chimoio, e residentes locais. As pesquisas forneceram dados de referência da biodiversidade na montanha, a qual foi recentemente incorporado no Parque Nacional da Gorongosa. Foram obtidas amostras de aves e mamíferos de diferentes micro-habitats, incluindo a floresta de galeria ao longo do rio Murombodzi, a floresta seca de miombo, a zona de pastagens, a floresta húmida de montanha, e o extenso prado alpino no cume.



Holly Lutz e Sushma Reddy preparando os espécimes de aves


As informações desta pesquisa servirão como referência para futuras actividades de controlo da serra, o que é especialmente importante numa época em que a mudança climática pode vir a ter impactos significativos. Foram colhidos espécimes valiosos de aves e mamíferos (para ficarem arquivados no FMNH e no Museu de História Natural, em Maputo) e cada um deles foi investigado ​para apurar a diversidade de organismos que vivem sobre e dentro deles. Os parasitas encontrados na pele, penas, sangue, intestinos e outros órgãos destes animais proporcionarão informações importantes sobre a presença de doençasnas populações selvagens. Muitas das doenças que afectam os seres humanos muitas vezes são derivadas de patógenos que infectam outras espécies pelo que os dados sobre a prevalência natural destes patógenos serão úteis no futuro paraentender como os agentes transmissores de doenças podem mudar de hospedeiro e infectar outras espécies.


  Um parasita encontrado num gavião 

Apesar do curto período de tempo passado na serra, mais de sessenta espécies de aves, 27 espécies de mamíferos, e milhares de ecto e endo-parasitas foram analisadas. Algumas das aves observadas durante este estudo eram espécies que anteriormente não se sabia que ocorriam nesta região, e que portanto, expandiram as áreas geográficas dessas espécies. Algumas espécies podem vir a revelar-se diferentes, por exemplo, os musaranhos (Myosorex sp.)encontrados na montanha não correspondem à espécie que se pensava anteriormente que ocorria aqui (Myosorex cafer). Estão a ser desenvolvidos estudos com uma equipe Sul-Africana para determinar a sua identidade e se se trata de uma espécie nova para a ciência.


Julian Kerbis com um morcego Rhinolophus
  Outro objectivo da expedição era o de treinar estudantes e técnicos locais em técnicas de investigação. Alunos do Instituto Agrário de Chimoio e técnicos do departamento científico do Projeto de Restauração da Gorongosa aprenderam os métodos usados ​​para colher e preparar amostras de aves e mamíferos.




Striped-cheeked Greenbul (Andropadus milanjensis)


  Muito importante foi ter durante a expedição um cinematógrafo para documentar todo o processo: Federico Pardo esteve sempre por perto para tirar fotos evídeos e efectuar entrevistas Ele irá produzir pequenos vídeos que irão ser exibidos nowebsites do FMNH e do PNG, quer em Inglês quer em Português.




Black-throated Wattle-eye (Platysteira peltata)


  A equipe de Field Museum incluía Julian C. Kerbis (Curador-adjunto de Mamíferosna FMNH e Professor de Biologia da Roosevelt University)Sushma Reddy (Investigadora-associada em Aves e Professora-assistente de Biologia na Universidade Loyola de Chicago), Holly Lutz (Cientista da equipe e actualmenteuma estudante de pós-graduação na Cornell University), e Federico Pardo(Produtor de Media). De instituições de ensino Moçambicanas, estava José Dumbo (Docente) que representava a Universidade Eduardo Mondlane e os estudantes Titos Rafael Samuel, Fernando Zacarias Mugadui, e Marino PiedosoLino, do Instituto Agrário de Chimoio. Christopher Salema (Curador das Aves) eJimmy Mussa (Assistente Técnico em Mamíferos) vieram dos Museus de Malawi.O pessoal científico do Projeto de Restauração da Gorongosa incluiu Franziska Steinbruch (Directora), Alan Short (Cientista), Tongai Antonio Castigo e LuisOliveira (Técnicos), e Silvestre Braga (Funcionário do Parque). Pedro Muagura, o Gestor-florestal da Serra, prestou assessoria e apoio inestimáveis​​. A equipe recebeu ainda a ajuda de residentes locais, incluindo Mateus Zarte, Braga Lopese Silvestre Antonio Braga Tomo.

A viagem também foi útil na construção de colaborações e na promoção de futuras oportunidades de investigação entre várias instituições e países. Membros da equipa têm em mente escrever em publicações científicas relatando os resultados desta investigação e pretendem trabalhar com outros investigadores em vários e diferentes estudosAlgumas das pesquisas que se prevêem a curto prazo incluem o uso da informação genética de amostras para o estudo da história evolutiva dessas espéciesanalisar sangue para testar a presença de malária; examinar a co-evolução de espécies de piolhos e seus hospedeiros;usar a metagenómica para examinar bactérias intestinais; e descrever novas espécies e suas características únicas. Os espécimes colhidos  nesta viagem são cruciais para o estudo da fauna na Gorongosa e serão valiosos para as próximas décadas.

Sushma Reddy (Chicago Field Museum)



08.11.11 - Parque Nacional da Gorongosa



COMENTÁRIO À MARGEM

Nunca é demais enaltecer projectos desta natureza e sobretudo aqueles que, como é o caso, visam o estudo da fauna bravia em  áreas que albergam espécies ainda desconhecidas da ciência como é a Serra da Gorongosa, considerada, no conjunto do Parque Nacional onde se encontra integrada, um dos mais importantes e completos ecossistemas africanos que tem vindo a ser protegido nos últimos anos.

Dezembro de 2011
Celestino Gonçalves