COMEMORAÇÕES DO 50º ANIVERSÁRIO
MINISTRO DO TURISMO PRESIDIU À CERIMÓNIA EM CHITENGO QUE INCLUIU
A INAUGURAÇÃO DE UM CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA -
REPORTAGEM DO JORNAL "NOTÍCIAS" DE MAPUTO
(27-07-2010)
PNG aos 50 anos: Servir e cada vez melhor a humanidade
O PARQUE Nacional da Gorongosa (PNG), na província central de Sofala, completou na passada 6ª feira, dia 23, 50 anos de existência como tal. Mais de uma centena de pessoas foi juntar-se a outras centenas oriundas das comunidades locais para assinalarem a efeméride, numa altura em que aquela estância turística já vai fazendo parte do mapa turístico mundial ou mesmo já vai dando o seu contributo não só ao país como à humanidade.
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
Foram 50 anos que conheceram várias fases desde a sua existência apenas como reserva de caça, depois a sua passagem já para parque, a sua destruição e abandono em consequência da guerra que foi imposta ao país e que destruiu tudo, até aos dias de hoje em que se ergue a olhos vistos e se reafirma como referencia nacional e internacional embora o caminho ainda seja longo.
As comemorações destas bodas de ouro decorreram sob o lema 50º Aniversário do Parque Nacional da Gorongosa, 1960-2010: Um Paraíso Que Moçambique Oferece Ao Mundo”.
O Ministro do Turismo, Fernando Sumbana, presidiu à cerimónia, que consistiu principalmente na inauguração de um centro de educação comunitária (CEC) no interior do parque. Depois foi a praxe, própria de ocasiões desta natureza.
Falando a jornalistas pouco depois de inaugurar e visitar o CEC, o ministro começou por dizer que os 50 anos do PNG eram uma mistura de ganhos e perdas, mas que acima de tudo a reflexão do Governo era de que havia um rumo pela frente e que era preciso trabalhar mais para multiplicar os ganhos registados até este momento.
Sumbana recordou que este parque foi declarado mesmo antes da independência, primeiro como reserva de caça, passando depois a parque, com o objectivo de preservação dos ecossistemas. Mais tarde conquistou uma grande reputação internacional dada a sua grande biodiversidade, a quantidade de fauna que era possível avaliar, como os leões, era o parque com maior quantidade de leões em África, a proximidade com a reserva de búfalos de Marromeu. Para nossa infelicidade, posteriormente, veio a desgraça trazida pela guerra de desestabilização, que destruiu a sua fauna e o seu tecido humano.
“Felizmente, encontrámos uma plataforma em 1992, quando entrámos num processo de paz. Em 97, já o então Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, vinha para aqui inaugurar a relançamento do PNG. A partir daí trabalhou-se no sentido de posicionar este parque a nível global, fazer com que ele seja uma referência no Continente Africano. Hoje verificamos que estão sendo introduzidos aqui elementos de referência não só nacional mas que também vão constituir um marco para aqueles que preservam o desenvolvimento social, a integração das comunidades na preservação da sua própria riqueza em benefício da humanidade porque este parque não beneficia só Moçambique mas todo o mundo, o efeito positivo no que diz respeito ao dióxido de carbono que este parque tem estado a jogar faz com o Governo moçambicano revele a grande responsabilidade que tem”.
Fernando Sumbana fez questão de recordar o ano de 2007, ao qual chamou mesmo de outro marco quando se fez este casamento com a Fundação Greg Carr, que compreendeu os objectivos do Governo moçambicano, mesmo tendo em conta que quando chegou o seu propósito era trabalhar na reserva especial de Maputo mas Convidados os seus elementos a visitar o PNG estes ficaram surpreendidos com a biodiversidade e ecossistemas, pelo que decidiram apostar num desafio que já tinha sido manifestado em 97 quando o parque foi reaberto, trabalhando na perspectiva social, mas ao mesmo tempo na preservação das espécies, no desenvolvimento de actividades económicas e na vertente tecnológica.
Respondendo a uma pergunta sobre a aderência dos cidadãos moçambicanos ao PNG, o ministro afirmou que os moçambicanos já visitam o parque. Compatriotas, sobretudo das cidades da Beira, Chimoio e Maputo, vêm ao parque mas considerou que era preciso continuar um programa de promoção porque, no seu entender, há possibilidades de muitas mais pessoas visitarem o local.
“Muitas vezes temos o produto disponível mas o marketing é que é importante. Tenho que dizer que de certo modo concordamos com aquilo que foi a perspectiva da Administração do Parque de criarmos as condições mínimas, por exemplo estas que já permitem as pessoas não só virem ver o elefante ou o leão mas também ter uma educação em termos ambientais e mesmo de negócios”.
Os dados disponíveis indicam que as visitas turísticas ao parque têm estado a aumentar de ano para ano, ao mesmo tempo que vão sendo diversificados os produtos disponibilizados às pessoas que chegam àquele local.
Entretanto, neste momento, segundo conseguimos apurar das autoridades do PNG. Está em negociação um processo de importação de cerca de 200 zebras do Zimbabwe, está igualmente em curso um processo interno de capacitação da reserva de Marromeu, de búfalos. A ideia é capturar e translocar búfalos de Marromeu. Esta é a primeira vez que as reservas e os parques estão a trabalhar em conjunto para restabelecerem as populações de animais.
O Parque Nacional da Gorongosa, com cerca de 3770km2, situa-se no extremo sul do Grande Vale do Rift africano. Ostenta uma diversidade de ecossistemas distintos desde as pradarias salpicadas por áreas de acácias, savanas, floresta seca em zona de áreas térmitas. Também possui planaltos que contêm florestas de miombo e de montanha e uma floresta húmida no sopé de uma série de desfiladeiros.
A REABILITAÇÃO: ALGUNS DISSERAM QUE NUNCA SERIA POSSÍVEL
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
UM dos convidados a estes 50 anos foi o Eng.º Baldeu Chande, o homem a quem foi atribuída a responsabilidade de, depois de rubricado o Acordo Geral de Paz em 1992, reunir os “cacos do copo partido” e começar tudo de novo tendo em vista a reposição do Parque Nacional da Gorongosa. Enquanto decorria a cerimónia tradicional à volta da inauguração do centro de educação descobrimo-lo entre os presentes, sempre na sua modéstia, como quem não tem nada a ver com a coisa. Mas como nós sabemos que ele tem sim a ver com a coisa, convidámo-lo a esta breve conversa:
N- Foi a pessoa indicada para vir dar os primeiros passos na recuperação do PNG depois da guerra. Como se deu com a experiencia?
BC- Sim, eu vim aqui logo depois do AGP, fiz a ocupação do espaço, montei a primeira equipa de gestão e comecei a trabalhar. Tinha certeza de que isso ia levar tempo. O que mais agrada é que a minha projecção era que o parque voltaria a ocupar o seu lugar provavelmente em 2015, mas agrada ver que antes dessa altura o parque já deu os passos que deu.
N- Qual foi o segredo?
BC- O segredo foi praticamente montar uma equipa de fiscalização e trabalhar com as pessoas no sentido de conservarem aquilo que ainda existia. Foi preciso entrar em diversos acordos, alguns deles difíceis, com as comunidades, para que não continuassem a caçar nos níveis em que caçavam. Hoje posso verificar que embora possam continuar a caçar há uma certa sustentabilidade porque os efectivos animais continuam a aumentar.
N- Quais foram os outros grandes desafios que enfrentou nesse período?
C- Bom, primeiro havia uma certa falta de compreensão nas pessoas. Tínhamos poucos recursos na altura. As pessoas quase que não acreditavam naquilo que estávamos a fazer, o que era conflituoso, mas foi preciso estar de pé e acreditar naquilo que estava a acontecer e ir para frente. Havia o problema da desminagem do parque, era preciso reabrir as picadas todas e começar a erguer as infra-estruturas com as pessoas que estavam cá a trabalhar, motivá-las, principalmente para o trabalho de fiscalização enquanto muito timidamente fazíamos alguns estudos que nos mostravam alguns caminhos.
N- Em algum momento sentiu algum desânimo ou a perder energias?
BC- Não diria que perdi energias. Tenho uma característica que é esta quando acredito em alguma coisa vou para frente mesmo que tenha várias pessoas a dizerem que não, eu vou para frente.
N- Neste caso havia pessoas a dizerem que não ao projecto?
BC- Houve várias pessoas que disseram que não era possível reabilitar este parque, que falavam principalmente da importação de animais para repovoar o parque, mas eu pus-me de pé e disse não, este parque tem capacidade porque o ecossistema estava em condições, tem capacidade para sarar as feridas que tinham sido provocadas nele principalmente em termos de fauna, e o resultado foi que, acreditando nisso, nós vimos. Aliás, pode observar que todos os animais que está a ver no parque nenhum deles foi trazido, os que foram trazidos estão no santuário. Significa que este esforço valeu a pena, embora nós não sejamos técnicos cotados dentro daquilo que é top quality, como se costuma dizer. Mas os conhecimentos que tínhamos permitiram que fizéssemos um trabalho que hoje dignifica o nosso país.
N- Hoje em que lugar colocaria o PNG no mundo?
BC- Acho que o parque está a dar passos muito gigantes e provavelmente dentro da África Austral pode não estar como o parque melhor cotado, mas a sua fama está a regressar e a equiparar-se a um Kruger e outros. A única diferença é que ele tem as características que tem, só pode ser visitado durante uma parte do ano porque na outra não é possível por causa das chuvas, mas acredito que com um pouco mais de trabalho que está mais ou menos projectado nas nossas cabeças sem violar muito o ambiente natural, podemos criar condições para termos visitantes ao longo de todo o ano e criarmos uma série de produtos que possam ser diversificados. Quem vier no tempo de chuva pode ter produtos que possam satisfazer o seu desejo de apreciar a natureza.
N- Olhando para o futuro o que é que está a ver mais?
BC- Tenho uma filosofia. Conservação para mim é o mais importante porque precisamos de olhar para isto com muita responsabilidade tendo em conta que há mudanças climáticas globais que estão a ocorrer. Então todo o esforço que deve ser dado em termos de conservação é primário, depois diria que, como tem o seu preço fazer conservação, temos que desenvolver um turismo que possa atrair pessoas para que possam ir contribuindo com as suas visitas para que a gente vá desenvolvendo outras actividades.
CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA: O QUE É?
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
Coube ao director de Relações Comunitárias do Parque Nacional da Gorongosa, Mateus Muthemba, fazer a explicação sobre o que é, efectivamente, este conjunto de infra-estruturas. Disse que se pretende que o CEC seja um lugar de convergência das comunidades que circundam o parque e que seja usado para reforçar a participação das comunidades e seus líderes na vida daquela estância, mas também que sirva para a valorização da cultura e do saber local em benefício da protecção da biodiversidade e da redução da pobreza.
Mais especificamente, Muthemba falou de seis objectivos, a saber, dar continuidade aos programas de educação ambiental do PNG dirigidos às crianças das escolas da zona tampão, aos líderes comunitários e a outros membros da comunidade; realizar programas na área da Saúde, com ênfase na educação para a prevenção de doenças; promover a divulgação de práticas de agricultura sustentável na zona tampão; formar membros das comunidades em áreas ligadas ao desenvolvimento de negócios; formar os membros das comunidades vizinhas nas profissões relevantes para o turismo e conservação; e promover a cidadania e a consciência cívica das comunidades vizinhas do parque.
O CEC foi construído com fundos da Fundação Carr, da USAID e da Cooperação Portuguesa. Está erguido num campus com seis hectares a partir de materiais extraídos de forma sustentável. Segundo Muthemba, o centro é um exemplo da combinação de ideias modernas de construção amigas do ambiente, com a aplicação de abordagens de construção que o nosso povo conhece e tem usado.
Consiste de vários edifícios, salas de aulas, dormitórios, escritórios, cozinha e refeitório, uma residência para o gestor e outra para hóspedes. Tem também uma área de acampamento e prevê uma capacidade de pouco mais de 60 pessoas em cada um dos momentos de formação. A sua construção durou cerca de um ano e meio e consistiu no uso intensivo de mão-de-obra local, tendo empregue durante grande parte desse período ao mesmo tempo até um número total de 150 moçambicanos das comunidades vizinhas.
CONTINUA APOIO
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
Uma das convidadas de honra a este evento foi a embaixadora dos Estados Unidos da América em Moçambique, Leslie Rowe. Usando da palavra momentos antes da inauguração do Centro de Educação Comunitária, recordou que o seu país tinha trabalhado através do USAID naquele local, mas também tinha trabalhos de voluntários de um corpo de paz no parque e nas comunidades vizinhas que trabalham para ajudar as comunidades locais a aprenderem sobre ecologia básica e a forma como podem contribuir para a protecção ambiental deste recurso natural e nacional.
Manifestou-se certa de que este CEC iria tornar-se num recurso valioso para a educação e desenvolvimento ambiental desta comunidade. Falou das cerca de 200 mil pessoas que vão beneficiar desta iniciativa. Disse também que estava muito satisfeita por ter sabido há dias que a Serra da Gorongosa passará a fazer parte da zona do PNG, o que vai protegê-lo.
Prometeu que os dois países iriam continuar com o diálogo sobre como os EUA podem apoiar o PNG e também atrair muitos turistas norte-americanos. Revelou igualmente que este projecto já está a atrair muitos académicos de algumas das melhores universidades norte-americanas, que pretendem entender a riqueza deste parque.
ACABARAM AS PAREDES INICIA O PROJECTO DAS PESSOAS
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias
PRESENTE nesta cerimónia esteve igualmente o conselheiro para a Cooperação na Embaixada de Portugal em Maputo, Diogo Franco, que usou da palavra em representação do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), entidade que igualmente desembolsou fundos para a construção do CEC.
Diogo Franco disse que este projecto significa não apenas e evidentemente a preservação de um património ecológico, ambiental de valor incalculável, mas uma aposta nas pessoas. Sublinhou que este era um projecto de desenvolvimento integrado com respeito pelo ambiente, pela economia social, mas sobretudo uma aposta nas pessoas, designadamente nas pessoas que vivem na zona tampão do PNG.
“Diria que estamos no primeiro dia do resto de um projecto. Estão montados e acabados os tijolos e as paredes, mas hoje começa o projecto das pessoas, as pessoas que aqui virão aprender a preservar o ambiente que as rodeia, receber formação com objectivo de viverem de forma sustentável no seu próprio meio. Continuaremos a apoiar Moçambique nas valências que tem e na melhor infra-estrutura que Moçambique tem, que são as suas pessoas”- prometeu.
Eliseu Bento
DISCURSO DE GREG CARR
O presidente da Fundação Carr, Gregory Carr, financiador do Projecto de Restauração do Parque, proferiu o seguinte discurso durante a cerimónia comemorativa dos 50 anos desta instituição:
" Como todos sabemos, a Terra foi formada há 4.500 milhões de anos. Há 1.000 milhões de anos apareceram as primeiras forma de vida multi-celular. Em seguida, apareceram as plantas terrestres. E depois os insectos, os répteis, os mamíferos e os pássaros. Há 200.000 anos foi a vez dos primeiros humanos semelhantes a nós caminharem na Terra. Nós, seres humanos, os últimos a habitar o nosso planeta, contamos com 6.800 milhões de indivíduos. Haverão, pelo menos, 9.000 milhões de seres humanos até meados do presente século. E em relação à população das outras espécies? À medida que a população humana aumenta, diminui o número das outras espécies. Porquê? Primeiro: a destruição do habitat natural – os ecossistemas naturais estão a desaparecer, e a dar lugar à expansão de aglomerados urbanos e suburbanos, à silvicultura comercial, à agricultura comercial, à sobrecarga dos solos, ao uso excessivo de queimadas, à erosão do solo e à exploração mineira. O aquecimento global está a provocar mudanças nos habitats. As espécies mais vulneráveis estão em risco de extinção e as espécies que dependem destas serão igualmente extintas, como que em forma de espiral da morte. Os cientistas estimam que poderemos perder 25% de todas as espécies, ainda neste século (plantas e animais). Podemos inferir que todos os seres humanos estão a obter benefícios à medida que dominamos o planeta? Não. Pelo menos 2.000 milhões de pessoas, do total de 2.500 milhões de pessoas que se adicionarão às actuais, estarão entre as camadas mais pobres das populações desfavorecidas, pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia – são estas as mais vulneráveis à perda de habitats, às variações climáticas, às inundações, às secas, e aos solos empobrecidos. O Ecossistema da Grande Gorongosa é um microcosmo da história do nosso planeta. As comunidades locais estão entre as mais pobres do mundo. O nosso ecossistema está ameaçado pela desflorestação, a diminuição e poluição das bacias hidrográficas, o desaparecimento de espécies, e a degradação das terras agrícolas.
Cinquentenário do PNG e sua Restauração
O Parque da Gorongosa - um tesouro mundial de biodiversidade - celebra, este ano, 50 anos. Se a Gorongosa e outras reservas naturais por todo o mundo florescerem, poderão vir a desempenhar um papel preponderante no que respeita à protecção das espécies e respectivos habitats, de modo a não termos necessariamente de perder um quarto das espécies terrestres neste século. No entanto, adoptámos uma nova filosofia relativamente aos parques nacionais que difere daquela vigente há 50 anos. Agora, reconhecemos que um parque nacional deve ajudar os seres humanos que residem nas suas redondezas e não apenas preservar a natureza. A parceria público-privada de 20 anos para a co-gestão da restauração da Gorongosa disponibiliza-nos um mandato de forma a prosseguir os dois objectivos relativos ao desenvolvimento humano e à protecção da biodiversidade. Na verdade, quem excluir um ou outro objectivo da sua perspectiva perderá de vista a interligação entre os dois. Os seres humanos precisam da natureza: os ecossistemas dão-nos ar puro, água, solo fértil, abrigo, nutrição, inúmeros recursos naturais e recompensas estéticas e espirituais. Por outro lado, a natureza precisa de nós. Os ecossistemas naturais não irão sobreviver, a não ser que os seres humanos se mostrem motivados para a sua conservação. Para gerar a vontade política para a conservação, deverá ser abordada a questão das necessidades humanas, agora que pedimos às sociedades que apoiem e protejam os pontos críticos de biodiversidade. Uma citação da sabedoria local africana esclarece que somos um com a natureza: Passo a citar: “Nós reconhecemos o poder do Todo-Poderoso por meio de uma tempestade de trovões; sentimos confiança e conforto do eterno com o sol nascente; celebramos as inúmeras qualidades da natureza aparentes ou ocultas em cada forma. Cada planta, pedra, animal e pessoa narra a história da criação e serve para criar, ensinar e guiar-nos por entre os caminhos da vida.” Prosseguir os desafios relativos à protecção da biodiversidade e ao desenvolvimento humano não significa que terá de haver um perdedor de um dos lados, e um vencedor do outro. As actividades do nosso projecto incidem sobre ambos os objectivos: -- uma agricultura sustentável protege o solo, à medida que aumenta os índices de produção agrícola; -- o ecoturismo gera emprego, uma vez que valoriza a preservação do ecossistema (os turistas querem ver animais, árvores e paisagens idílicas); -- os sistemas hidrológicos saudáveis fornecem água potável às pessoas e à natureza;-- os projectos florestais restauram as serras, ao mesmo tempo que proporcionam a criação de postos de trabalho, o arrefecimento do ar e a preservação do solo, das plantas medicinais e de outros produtos florestais sustentáveis.
Centro de Educação Comunitária
Hoje inauguramos o nosso novo Centro de Educação Comunitária ao mesmo tempo que comemoramos o Cinquentenário do Parque. Este Centro é o lugar onde convergem os esforços multi-disciplinares e onde estes se encontram e consolidam com a cultura e saber locais. Os debates no nosso Projecto têm sido vigorosos.Estamos a experimentar uma convergência de paixões por parte dos profissionais que estão seriamente preocupados com estes assuntos - quer do ponto de vista humano quer do ponto vista ambiental. As profissões nas áreas da Ecologia, da Silvicultura, da Fauna Bravia, da Agronomia, da Saúde, do Planeamento do Território, da Economia, das Ciências Sociais, do Ecoturismo entre outras… todas devem explorar o mais possível o saber local trazido pelas populações da zona tampão e colaborar no planeamento e execução do Projecto de Restauração da Gorongosa, de modo a que este ecossistema interligado apoie as suas múltiplas componentes, sejam estas de grande ou pequena dimensão. Em jeito de conclusão, permitam-me que cite Nelson Mandela, que afirmou: “…em primeiro lugar devemos ser honestos com nós próprios. Nunca poderemos criar um impacto na sociedade se nós próprios não mudarmos. Os grandes pacificadores são todos pessoas de integridade, de honestidade, mas também de humildade.” Este projecto dar-nos-á a oportunidade de crescer interiormente, como pessoas, à medida que aprendemos com os nossos erros, que negociamos eventuais conflitos uns com os outros e que nos tornamos mais receptivos a outras perspectivas, e que nos tornamos mais humildes, uma vez que dissolvemos os nossos egos através da imersão neste grande ecossistema, do qual somos apenas uma componente.23 de Julho de 2010 Quinquagésimo Aniversário do Parque Nacional da Gorongosa, 1960 – 2010Discurso de Greg Carr Como todos sabemos, a Terra foi formada há 4.500 milhões de anos. Há 1.000 milhões de anos apareceram as primeiras forma de vida multi-celular. Em seguida, apareceram as plantas terrestres. E depois os insectos, os répteis, os mamíferos e os pássaros. Há 200.000 anos foi a vez dos primeiros humanos semelhantes a nós caminharem na Terra. Nós, seres humanos, os últimos a habitar o nosso planeta, contamos com 6.800 milhões de indivíduos. Haverão, pelo menos, 9.000 milhões de seres humanos até meados do presente século. E em relação à população das outras espécies? À medida que a população humana aumenta, diminui o número das outras espécies. Porquê? Primeiro: a destruição do habitat natural – os ecossistemas naturais estão a desaparecer, e a dar lugar à expansão de aglomerados urbanos e suburbanos, à silvicultura comercial, à agricultura comercial, à sobrecarga dos solos, ao uso excessivo de queimadas, à erosão do solo e à exploração mineira. O aquecimento global está a provocar mudanças nos habitats. As espécies mais vulneráveis estão em risco de extinção e as espécies que dependem destas serão igualmente extintas, como que em forma de espiral da morte. Os cientistas estimam que poderemos perder 25% de todas as espécies, ainda neste século (plantas e animais). Podemos inferir que todos os seres humanos estão a obter benefícios à medida que dominamos o planeta? Não. Pelo menos 2.000 milhões de pessoas, do total de 2.500 milhões de pessoas que se adicionarão às actuais, estarão entre as camadas mais pobres das populações desfavorecidas, pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia – são estas as mais vulneráveis à perda de habitats, às variações climáticas, às inundações, às secas, e aos solos empobrecidos. O Ecossistema da Grande Gorongosa é um microcosmo da história do nosso planeta. As comunidades locais estão entre as mais pobres do mundo. O nosso ecossistema está ameaçado pela desflorestação, a diminuição e poluição das bacias hidrográficas, o desaparecimento de espécies, e a degradação das terras agrícolas.
Cinquentenário do PNG e sua Restauração
O Parque da Gorongosa - um tesouro mundial de biodiversidade - celebra, este ano, 50 anos. Se a Gorongosa e outras reservas naturais por todo o mundo florescerem, poderão vir a desempenhar um papel preponderante no que respeita à protecção das espécies e respectivos habitats, de modo a não termos necessariamente de perder um quarto das espécies terrestres neste século. No entanto, adoptámos uma nova filosofia relativamente aos parques nacionais que difere daquela vigente há 50 anos. Agora, reconhecemos que um parque nacional deve ajudar os seres humanos que residem nas suas redondezas e não apenas preservar a natureza. A parceria público-privada de 20 anos para a co-gestão da restauração da Gorongosa disponibiliza-nos um mandato de forma a prosseguir os dois objectivos relativos ao desenvolvimento humano e à protecção da biodiversidade. Na verdade, quem excluir um ou outro objectivo da sua perspectiva perderá de vista a interligação entre os dois. Os seres humanos precisam da natureza: os ecossistemas dão-nos ar puro, água, solo fértil, abrigo, nutrição, inúmeros recursos naturais e recompensas estéticas e espirituais. Por outro lado, a natureza precisa de nós. Os ecossistemas naturais não irão sobreviver, a não ser que os seres humanos se mostrem motivados para a sua conservação. Para gerar a vontade política para a conservação, deverá ser abordada a questão das necessidades humanas, agora que pedimos às sociedades que apoiem e protejam os pontos críticos de biodiversidade. Uma citação da sabedoria local africana esclarece que somos um com a natureza: Passo a citar: “Nós reconhecemos o poder do Todo-Poderoso por meio de uma tempestade de trovões; sentimos confiança e conforto do eterno com o sol nascente; celebramos as inúmeras qualidades da natureza aparentes ou ocultas em cada forma. Cada planta, pedra, animal e pessoa narra a história da criação e serve para criar, ensinar e guiar-nos por entre os caminhos da vida.” Prosseguir os desafios relativos à protecção da biodiversidade e ao desenvolvimento humano não significa que terá de haver um perdedor de um dos lados, e um vencedor do outro. As actividades do nosso projecto incidem sobre ambos os objectivos: -- uma agricultura sustentável protege o solo, à medida que aumenta os índices de produção agrícola; -- o ecoturismo gera emprego, uma vez que valoriza a preservação do ecossistema (os turistas querem ver animais, árvores e paisagens idílicas); -- os sistemas hidrológicos saudáveis fornecem água potável às pessoas e à natureza;-- os projectos florestais restauram as serras, ao mesmo tempo que proporcionam a criação de postos de trabalho, o arrefecimento do ar e a preservação do solo, das plantas medicinais e de outros produtos florestais sustentáveis.
Centro de Educação Comunitária
Hoje inauguramos o nosso novo Centro de Educação Comunitária ao mesmo tempo que comemoramos o Cinquentenário do Parque. Este Centro é o lugar onde convergem os esforços multi-disciplinares e onde estes se encontram e consolidam com a cultura e saber locais. Os debates no nosso Projecto têm sido vigorosos.Estamos a experimentar uma convergência de paixões por parte dos profissionais que estão seriamente preocupados com estes assuntos - quer do ponto de vista humano quer do ponto vista ambiental. As profissões nas áreas da Ecologia, da Silvicultura, da Fauna Bravia, da Agronomia, da Saúde, do Planeamento do Território, da Economia, das Ciências Sociais, do Ecoturismo entre outras… todas devem explorar o mais possível o saber local trazido pelas populações da zona tampão e colaborar no planeamento e execução do Projecto de Restauração da Gorongosa, de modo a que este ecossistema interligado apoie as suas múltiplas componentes, sejam estas de grande ou pequena dimensão. Em jeito de conclusão, permitam-me que cite Nelson Mandela, que afirmou: “…em primeiro lugar devemos ser honestos com nós próprios. Nunca poderemos criar um impacto na sociedade se nós próprios não mudarmos. Os grandes pacificadores são todos pessoas de integridade, de honestidade, mas também de humildade.” Este projecto dar-nos-á a oportunidade de crescer interiormente, como pessoas, à medida que aprendemos com os nossos erros, que negociamos eventuais conflitos uns com os outros e que nos tornamos mais receptivos a outras perspectivas, e que nos tornamos mais humildes, uma vez que dissolvemos os nossos egos através da imersão neste grande ecossistema, do qual somos apenas uma componente."
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REPORTAGEM FOTOGRÁFICA DO EVENTO