02 October 2010

86 - FILME "AFRICA´S LOST EDEN" VENCE ART&TUR


PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA

FILME "AFRICA´S LOST EDEN" VENCEU O FESTIVAL INTERNACIONAL DE
FILMES DE TURISMO (ART&TUR 2010) EM BARCELOS


Foto de família dos premiados do Festival Internacional de Filmes de Turismo
(ART&TUR 2010)

O filme “Africa’s Lost Eden”, da National Geographic, sobre o Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique, foi o vencedor do Grande Prémio Art&Tur 2010. A película ilustra o esforço que está a ser desenvolvido para restaurar um dos ex-libris naturais daquele país africano, tendo merecido o principal prémio do Festival Internacional de Filmes de Turismo, em Barcelos.
O filme é uma produção da National Geografic e destaca o trabalho do filantropo norte-americano Greg Car, que tomou a seu cargo a recuperação da Gorongoza, um parque criado pelos portugueses em 1960 mas que foi devastado pela guerra civil. Greg Car esteve no domingo em Barcelos a acompanhar o Festival com o Embaixador de Moçambique em Portugal. Os dois receberam o primeiro prémio do Festival Art&Tur das mãos do Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, presente na cerimónia.
A película “Africa’s Lost Eden”, que também arrecadou os prémios para Melhor Filme nas Categorias de Biodiversidade e Planeta Saudável, tem a duração de 50 minutos e foi projectado no terceiro dia de Festival, com uma plateia absolutamente entusiasmada.
Produtores, realizadores, membros do júri Art&Tur, jornalistas e demais convidados fizeram da cerimónia de entregas dos prémios Art&Tur 2010 um momento de grande elevação cultural através da partilha de experiências oriundas de países como o Brasil, a Espanha, a Suécia, Moçambique, Cabo Verde, Estados Unidos da América, França, Polónia ou Grécia.
No encerramento do Festival, o Presidente da Câmara Municipal de Barcelos, Miguel Costa Gomes, agradeceu a vinda a Barcelos das centenas de pessoas que participaram no Art&Tur, sublinhando que o Festival será para «manter em Barcelos com o apoio da Autarquia nos próximos dez anos». O presidente ouviu palavras de agrado sobre a organização do certame e o carinho com que todos os convidados e participante do Art&Tur falaram de Barcelos e dos barcelenses: «Estes momentos são absolutamente gratificantes», disse, «sinto-me feliz ao saber que Barcelos está a passar uma imagem de um concelho que sabe receber e tem capacidade para crescer abrindo horizontes culturais».
Francisco Dias, o director do Festival, em jeito de surpresa, apresentou um filme que mostra as mais belas imagens de Barcelos e do Porto, um pouco à imagem de crescimento do Festival. No discurso final agradeceu a todos que participaram no Art&Tur e que ajudaram a fazer do Festival uma referência internacional. Deu os parabéns aos barcelenses pela forma «bastante acolhedora» como souberam receber todos os participantes do Festival, sublinhando o apoio incansável que a Câmara Municipal de Barcelos deposita para que o Art&Tur cresça de ano para ano.
Quase no final do Festival, Francisco Dias apresentou um filme dedicado a Aristides Sousa Mendes, dando assim mote à instituição do Prémio com o mesmo nome para o melhor filme na categoria Vida Humana. Um prémio que foi entregue pelo neto do humanista e elemento do Conselho de Administração da Fundação Aristides Sousa Mendes e pelo Embaixador de Cabo Verde ao Filme “Aldeia da Baía”, em Cabo Verde, numa realização do barcelense Carlos Araújo e produção de Miguel Henriques, do Rotary Clube de Barcelos.
O realizador barcelense recebeu uma das mais calorosas ovações da cerimónia ao que se seguiu um discurso bastante emocionado de agradecimento pelo prémio.
Esta é a lista completa dos vencedores: Melhor Filme na Categoria “Destinos”: Is it true what they say… about Luxembourg? Melhor Filme na Categoria “Turismo Cultural”: Santiago é Grande: Melhor Filme na Categoria “Turismo Religioso”: Um Caminho de Santiago: Melhor Filme na Categoria “Ecologia e Turismo”: Bonito e Pantanal – O Brasil no seu Melhor; Melhor Filme na Categoria “Turismo de Montanha”: Eaglewalk; Melhor Filme na Categoria “Aventura, Expedições e Viagens”: Nature Propelled”; Melhor Filme na Categoria “Vida Humana”: Life in Aldeia da Baía; Melhor Filme na Categoria “Biodiversidade”: Africa’s Lost Eden; Melhor Filme na Categoria “Planeta Saudável”: Africa’s Lost Eden; Melhor Filme na Categoria “Animação Turística/Eventos”: Frederic 2010; Melhor Filme na Categoria “Turismo Acessível”: Lisboa; Melhor Filme na Categoria “Gastronomia e Vinhos”: Vinho 8; Melhor Filme na Categoria “Experiências Memoráveis”: Styria – The Grenn Heart of Austria; Melhor Filme na Categoria “Jovens Talentos”: Dali no Porto; Melhor Filme da Losofonia: Foz do Iguaçu Destino do Mundo; Melhor Spot Publicitário: Mochila; Melhor Filme Promocional: Zaffari – Porto Alegre é de Mais; Melhor Documentário: Sintra, Capital do Romantismo; Melhor Imagem: Africa’s Lost Eden; Melhor Som: Is it true what they say… about Luxembourg? Melhor Conceito/Criatividade: Santiago é Grande.

O Festival Internacional de Filmes de Turismo Art&Tur é uma organização da APTUR – Associação Portuguesa de Turismologia e da Câmara Municipal de Barcelos, decorreu de 23 a 26 de Setembro. Este é já considerado como um dos mais importantes eventos para a promoção turística do concelho de Barcelos no país e no mundo. Durante quatro dias foram exibidos os 80 melhores filmes dos mais de 285 a concurso, provenientes de 35 países, o que faz do Art&Tur um dos mais importantes Festivais de Filmes de Turismo do mundo. Por isso, o Festival Art&Tur terminou com um balanço muito positivo, tornando Barcelos cada vez mais a Hollywood dos Filmes de Turismo.

Pelo Gabinete de Comunicação,

Sónia Sá.
28 de Setembro de 2010


Greg Carr (Presidente do Projecto de Restauração da Gorongosa) com o Grande Prémio do Festival.Com ele no palco o Embaixador de Moçambique, Miguel Mkaima e o Presidente da Câmara de Barcelos, Miguel Costa Gomes.


NOTA FINAL:

O presente comunicado foi-nos enviado pelo director de comunicação e turismo do Parque Nacional da Gorongosa, Dr. Vasco Galante, a quem agradecemos e felicitamos por mais este honroso prémio, que se junta a vários outros obtidos pelo mesmo filme em importantes certames internacionais de turismo, conforme temos dado conta neste espaço.


Saudações amigas!

Celestino Gonçalves

22 September 2010

85 - FALECIMENTO DE FRANCISCO COIMBRA


FALECIMENTO DE UM HISTÓRICO CAÇADOR-GUIA

DE MOÇAMBIQUE

FRANCISCO COIMBRA (CHICO)
Em 1977 durante os trabalhos da "Operação Búfalo" em Marromeu

Numa primeira notícia recebida de sua sobrinha, a nossa querida amiga Helena Raposo, não havia dados concretos que sustentassem uma informação vaga sobre o falecimento do caçador-guia Francisco Coimbra, o categorizado e bem conhecido Chico Coimbra como era conhecido e tratado por toda a gente na cidade da Beira.

Contudo, a infausta notícia acaba de nos ser confirmada pela esposa do amigo Luís Pedro de Sá e Melo, colega do falecido que actua numa grande empresa de safáris de caça na Tanzania, país de residência do Chico há muitos anos!

Segundo a Ana Maria, o marido transmitiu-lhe por telefone, que a notícia lhe fora dada no próprio dia do falecimento do Chico, em 27 de Agosto último, por outro caçador português, o Orlando Cardoso, amigo comum que também actua na Tanzania. Ele tinha sido internado de urgência num hospital de Arusha e ali falecera pouco depois, não havendo, contudo, referência às causas que a tal conduziram. Foi sepultado no cemitério daquela cidade do interior tanzaniano.

O Chico tinha 80 anos! Pertenceu à elite dos caçadores-guias que na época de ouro dos safáris de caça em Moçambique (1960/1975) fez história nesta indústria cinegética em África.

Como essa indústria foi suspensa quando Moçambique se tornou independente, ele e praticamente todos os bons profissionais do ramo, partiram para outros países africanos onde continuaram a exercer a sua actividade. O Chico escolheu a Tanzania e radicou-se na região de Arusha, onde acabaria por se reformar. Era ali muito estimado pelas autoridades tanzanianas que o destinguiram e apoiaram em vários momentos da sua carreira.

A informação que o Luís Pedro transmitiu deu pormenores de uma singela e louvável homenagem que foi prestada ao Chico por parte da Tanzania Professional Hunters Association, que no dia do funeral emitiu um comunicado louvando a acção do Chico como profissional e como cidadão, terminando o mesmo com estas bonitas e justas palavras: "CHICO WAS 80 YEARS YOUNG"!

De louvar também a presença do colega Orlando Cardoso no funeral, o que não foi possível ao Luís Pedro devido a encontrar-se no sul da Tanzania, muito longe de Arusha.

Ao transmitir esta notícia não posso deixar de evocar a figura simpática e o comportamento profissional exemplar do Chico, durante aquela fase de ouro em Moçambique. Com efeito, ele era muito estimado tanto por colegas de profissão como por clientes que com ele caçavam, primeiro na Coutada de Kanga N´Thole, do Alberto Araújo e depois na SAFRIQUE.

Chico com o seu inseparável pisteiro Fombe, em Kanga N´Thole

Conheci o Chico na altura em que era o braço direito do velho Araújo e desde logo me habituei a respeitá-lo por admirar a sua postura, sempre consciente e serena, na condução dos safáris a seu cargo e na forma como se empenhava nos problemas da conservação da fauna bravia. Acompanhou-me em muitas missões de fiscalização no combate à caça furtiva naquela Coutada e estivemos juntos noutras acções como foram os safáris oficiais dos Marqueses de Villaverde (1963 e 1964) e Operação Búfalo de Marromeu (1977).

Chico (primeiro plano), com os seus colegas Coelho e Garcia
durante a "Operação Búfalo" em 1977

Uma forte amizade nos ligou graças às muitas ideias em comum e à entre-ajuda que praticamos no mato em defesa do património faunístico que ambos defendíamos, cada um no seu posto, mas com a mesma paixão!

Sem exagero posso afirmar que o Chico Coimbra fez parte dos melhores caçadores-guias de Moçambique, valorizando-se sobretudo pela simplicidade como encarava os problemas da complicada e arrojada actividade cinegética. Discreto, calmo e experiente, nunca recorreu a cenários ou a dramas que alguns caçadores usavam para se auto-elogiarem e imporem na profissão.

Partiu um grande profissional, um grande Homem, um bom Amigo!
Sentidos pêsames à Família!

Paz à sua Alma!


22 de Setembro de 2010

Celestino Gonçalves

11 September 2010

84 - GORONGOSA NO FESTIVAL ART&TUR EM BARCELOS

Filme sobre Gorongosa favorito no Festival ART&TUR 26.09.10 - Barcelos (Portugal)

Conforme comunicado de imprensa dos organizadores do Festival Internacional de Cinema ART&TUR, o filme "Africa's Lost Eden", uma produção da National Geographic que ilustra o esforço que está a ser desenvolvido para restaurar o Parque Nacional da Gorongosa em Moçambique, é um dos grandes candidatos ao Grande Prémio do Festival, cuja cerimónia de entrega decorrerá no dia 26 de Setembro de 2010.

COMUNICADO DE IMPRENSA

Festival ART&TUR celebra o Centenário da República e o Ano Internacional da Biodiversidade

A 3ª edição do Festival ART&TUR terá lugar em Barcelos, de 23 a 26 de Setembro, e as inscrições estão abertas ao público através do site do Festival: http://www.tourfilm-festival.com/.

No Ano Internacional da Biodiversidade, o programa do festival aposta na sensibilização do público para esta importante temática, dando especial ênfase à protecção de áreas sensível do planeta, como o Parque Nacional da Gorongosa (Moçambique) e a Amazónia. Sendo o filme "Africa’s Lost Eden", sobre o Parque Nacional da Gorongosa, um dos principais candidatos ao Grande Prémio do Festival, nada melhor do que a presença confirmada de Greg Carr, o filantropo norte-americano que tomou a ser cargo a recuperação de um parque criado pelos portugueses em 1960, mas que foi devastado pela guerra civil.
Greg Carr vem ao ART&TUR acompanhado por Vasco Galante, Director de Comunicação do Parque da Gorongosa, pelo Embaixador de Moçambique e pelo director da National Geographic, entidade que produziu o filme, e que muito tem feito em prol do conhecimento e da preservação das espécies.

Também relacionado com o Ano Internacional da Biodiversidade, será a participação do município de Barcelos da Amazónia na qualidade de “destino convidado” ART&TUR 2010. O público poderá assim conhecer o município brasileiros homónimo, situado em pleno “pulmão do Planeta”, que tem a particularidade de possuir 25 mil habitantes, mas dispor de um território muito superior ao de Portugal (125 mil km2). Paralelamente, o ART&TUR 2010 presta também um tributo ao Centenário da República, ao integrar na programação a exposição “Cem Anos de Presidência”. Trata-se de uma colecção de bustos de todos os presidentes da República Portuguesa ao longo de um século – projecto da autoria do escultor e caricaturista barcelense Joaquim Esteves, e um contributo original de Barcelos e do Festival ART&TUR para as comemorações nacionais do Centenário da República. Esta exposição ficará patente na Galeria de Arte de Barcelos, a partir do dia 26 de Setembro.

Francisco Dias (director) tel: 968054342 ; ftpdias@gmail.com;

tourfilmportugal@gmail.com Sónia Sá (Gabinete de Imprensa da CM de Barcelos)tel: 913500212 ; soniasa.apr@cm-barcelos.pt


NOTA FINAL:
O presente comunicado foi-nos enviado pelo director de comunicação do Parque Nacional da Gorongosa, Dr. Vasco Galante.


Saudações amigas!

Celestino Gonçalves


05 September 2010

83 - HOMENAGEM A UM BEIRENSE DE GEMA!



ALMOÇO DE CONVÍVIO EM MIRAFLORES
COM O CASAL IVO




FRANCISCO IVO (Chico entre os amigos), um beirense de gema que continua a viver na terra que o viu nascer e ali exerce a sua profissão de Arquitecto, é uma figura muito estimada por todos que o conhecem, quer residam ou não em Moçambique!

Filho de um respeitável senhor - o Arquitecto Carlos Ivo - que residiu naquela mesma cidade praticamente durante toda a sua vida activa, deixando ali uma obra ímpar na construção da cidade capital de Manica e Sofala, reconhecida não só pelas autoridades do período colonial como do actual governo moçambicano que o condecorou a título póstumo por ocasião do centenário da cidade, recentemente comemorado. O Chico continuou não só a obra de seu pai como preencheu o seu lugar no campo social visto que seguiu o seu progenitor no comportamento cívico exemplar que o caracterizou como das pessoas mais estimadas pela população beirense!

Com alguma regularidade o Chico Ivo vem a Portugal onde tem dois filhos a estudar. E tal como tem acontecido em anos anteriores, os seus amigos não desperdiçaram a oportunidade de se reunirem com ele e sua simpática Esposa num almoço convívio, no passado sábado, dia 4, em Miraflores-Algés.

O convívio juntou mais de meia centena de beirenses e foi pretexto para mais uma festa de amigos que vivem em vários pontos do país e ali se deslocaram respondendo à chamada do anfitrião do costume, o dinâmico e bem conhecido Mário Santos. Eu próprio, que tenho por esta família uma especial estima desde os tempos em que privei com o saudoso pai Ivo, marquei presença e tive a honrosa incumbência da direcção da ACRENARMO (Associação Cultural e Recreativa dos Naturais e ex-Residentes de Moçambique) de apresentar uma mensagem de saudação ao homenageado. Aproveitei, naturalmente, para dirigir a minha mensagem ao Chico , realçando as ligações profissionais e de amizade que mantive com o seu pai durante a minha estadia na Província de Manica e Sofala na década de 60, quando ele, na condição de vogal da Comissão Distrital de Caça, em representação dos caçadores, muito colaborou com os Serviços da Fauna Bravia nas decisões sobre as actividades cinegéticas, quer profissionais quer amadoras.

Desejamos ao simpático casal Ivo boa estadia e óptimas férias em Portugal!



O Chico Ivo fazendo o brinde de agradecimento aos amigos


Momento em que o Celestino Gonçalves
proferia a mensagem de saudação da ACRENARMO


Um aspecto do almoço


Outro aspecto do convívio

Saudações amigas!

Celestino Gonçalves


VER ÁLBUM PICASA DA AUTORIA DO ANTÓNIO JORGE, JÁ DISTRIBUÍDO EM:


OPORTUNAMENTE SERÃO ADICIONADAS MAIS FOTOS DA AUTORIA DO MÁRIO SANTOS E CELESTINO GONÇALVES

31 July 2010

82 - GORONGOSA - 50º ANIVERSÁRIO



COMEMORAÇÕES DO 50º ANIVERSÁRIO





MINISTRO DO TURISMO PRESIDIU À CERIMÓNIA EM CHITENGO QUE INCLUIU
A INAUGURAÇÃO DE UM CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA -
REPORTAGEM DO JORNAL "NOTÍCIAS" DE MAPUTO
(27-07-2010)

PNG aos 50 anos: Servir e cada vez melhor a humanidade

O PARQUE Nacional da Gorongosa (PNG), na província central de Sofala, completou na passada 6ª feira, dia 23, 50 anos de existência como tal. Mais de uma centena de pessoas foi juntar-se a outras centenas oriundas das comunidades locais para assinalarem a efeméride, numa altura em que aquela estância turística já vai fazendo parte do mapa turístico mundial ou mesmo já vai dando o seu contributo não só ao país como à humanidade.
Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias

Foram 50 anos que conheceram várias fases desde a sua existência apenas como reserva de caça, depois a sua passagem já para parque, a sua destruição e abandono em consequência da guerra que foi imposta ao país e que destruiu tudo, até aos dias de hoje em que se ergue a olhos vistos e se reafirma como referencia nacional e internacional embora o caminho ainda seja longo.
As comemorações destas bodas de ouro decorreram sob o lema 50º Aniversário do Parque Nacional da Gorongosa, 1960-2010: Um Paraíso Que Moçambique Oferece Ao Mundo”.

O Ministro do Turismo, Fernando Sumbana, presidiu à cerimónia, que consistiu principalmente na inauguração de um centro de educação comunitária (CEC) no interior do parque. Depois foi a praxe, própria de ocasiões desta natureza.

Falando a jornalistas pouco depois de inaugurar e visitar o CEC, o ministro começou por dizer que os 50 anos do PNG eram uma mistura de ganhos e perdas, mas que acima de tudo a reflexão do Governo era de que havia um rumo pela frente e que era preciso trabalhar mais para multiplicar os ganhos registados até este momento.

Sumbana recordou que este parque foi declarado mesmo antes da independência, primeiro como reserva de caça, passando depois a parque, com o objectivo de preservação dos ecossistemas. Mais tarde conquistou uma grande reputação internacional dada a sua grande biodiversidade, a quantidade de fauna que era possível avaliar, como os leões, era o parque com maior quantidade de leões em África, a proximidade com a reserva de búfalos de Marromeu. Para nossa infelicidade, posteriormente, veio a desgraça trazida pela guerra de desestabilização, que destruiu a sua fauna e o seu tecido humano.

“Felizmente, encontrámos uma plataforma em 1992, quando entrámos num processo de paz. Em 97, já o então Primeiro-Ministro, Pascoal Mocumbi, vinha para aqui inaugurar a relançamento do PNG. A partir daí trabalhou-se no sentido de posicionar este parque a nível global, fazer com que ele seja uma referência no Continente Africano. Hoje verificamos que estão sendo introduzidos aqui elementos de referência não só nacional mas que também vão constituir um marco para aqueles que preservam o desenvolvimento social, a integração das comunidades na preservação da sua própria riqueza em benefício da humanidade porque este parque não beneficia só Moçambique mas todo o mundo, o efeito positivo no que diz respeito ao dióxido de carbono que este parque tem estado a jogar faz com o Governo moçambicano revele a grande responsabilidade que tem”.

Fernando Sumbana fez questão de recordar o ano de 2007, ao qual chamou mesmo de outro marco quando se fez este casamento com a Fundação Greg Carr, que compreendeu os objectivos do Governo moçambicano, mesmo tendo em conta que quando chegou o seu propósito era trabalhar na reserva especial de Maputo mas Convidados os seus elementos a visitar o PNG estes ficaram surpreendidos com a biodiversidade e ecossistemas, pelo que decidiram apostar num desafio que já tinha sido manifestado em 97 quando o parque foi reaberto, trabalhando na perspectiva social, mas ao mesmo tempo na preservação das espécies, no desenvolvimento de actividades económicas e na vertente tecnológica.

Respondendo a uma pergunta sobre a aderência dos cidadãos moçambicanos ao PNG, o ministro afirmou que os moçambicanos já visitam o parque. Compatriotas, sobretudo das cidades da Beira, Chimoio e Maputo, vêm ao parque mas considerou que era preciso continuar um programa de promoção porque, no seu entender, há possibilidades de muitas mais pessoas visitarem o local.

“Muitas vezes temos o produto disponível mas o marketing é que é importante. Tenho que dizer que de certo modo concordamos com aquilo que foi a perspectiva da Administração do Parque de criarmos as condições mínimas, por exemplo estas que já permitem as pessoas não só virem ver o elefante ou o leão mas também ter uma educação em termos ambientais e mesmo de negócios”.

Os dados disponíveis indicam que as visitas turísticas ao parque têm estado a aumentar de ano para ano, ao mesmo tempo que vão sendo diversificados os produtos disponibilizados às pessoas que chegam àquele local.

Entretanto, neste momento, segundo conseguimos apurar das autoridades do PNG. Está em negociação um processo de importação de cerca de 200 zebras do Zimbabwe, está igualmente em curso um processo interno de capacitação da reserva de Marromeu, de búfalos. A ideia é capturar e translocar búfalos de Marromeu. Esta é a primeira vez que as reservas e os parques estão a trabalhar em conjunto para restabelecerem as populações de animais.

O Parque Nacional da Gorongosa, com cerca de 3770km2, situa-se no extremo sul do Grande Vale do Rift africano. Ostenta uma diversidade de ecossistemas distintos desde as pradarias salpicadas por áreas de acácias, savanas, floresta seca em zona de áreas térmitas. Também possui planaltos que contêm florestas de miombo e de montanha e uma floresta húmida no sopé de uma série de desfiladeiros.

A REABILITAÇÃO: ALGUNS DISSERAM QUE NUNCA SERIA POSSÍVEL

Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias

UM dos convidados a estes 50 anos foi o Eng.º Baldeu Chande, o homem a quem foi atribuída a responsabilidade de, depois de rubricado o Acordo Geral de Paz em 1992, reunir os “cacos do copo partido” e começar tudo de novo tendo em vista a reposição do Parque Nacional da Gorongosa. Enquanto decorria a cerimónia tradicional à volta da inauguração do centro de educação descobrimo-lo entre os presentes, sempre na sua modéstia, como quem não tem nada a ver com a coisa. Mas como nós sabemos que ele tem sim a ver com a coisa, convidámo-lo a esta breve conversa:

N- Foi a pessoa indicada para vir dar os primeiros passos na recuperação do PNG depois da guerra. Como se deu com a experiencia?

BC- Sim, eu vim aqui logo depois do AGP, fiz a ocupação do espaço, montei a primeira equipa de gestão e comecei a trabalhar. Tinha certeza de que isso ia levar tempo. O que mais agrada é que a minha projecção era que o parque voltaria a ocupar o seu lugar provavelmente em 2015, mas agrada ver que antes dessa altura o parque já deu os passos que deu.

N- Qual foi o segredo?

BC- O segredo foi praticamente montar uma equipa de fiscalização e trabalhar com as pessoas no sentido de conservarem aquilo que ainda existia. Foi preciso entrar em diversos acordos, alguns deles difíceis, com as comunidades, para que não continuassem a caçar nos níveis em que caçavam. Hoje posso verificar que embora possam continuar a caçar há uma certa sustentabilidade porque os efectivos animais continuam a aumentar.

N- Quais foram os outros grandes desafios que enfrentou nesse período?

C- Bom, primeiro havia uma certa falta de compreensão nas pessoas. Tínhamos poucos recursos na altura. As pessoas quase que não acreditavam naquilo que estávamos a fazer, o que era conflituoso, mas foi preciso estar de pé e acreditar naquilo que estava a acontecer e ir para frente. Havia o problema da desminagem do parque, era preciso reabrir as picadas todas e começar a erguer as infra-estruturas com as pessoas que estavam cá a trabalhar, motivá-las, principalmente para o trabalho de fiscalização enquanto muito timidamente fazíamos alguns estudos que nos mostravam alguns caminhos.

N- Em algum momento sentiu algum desânimo ou a perder energias?

BC- Não diria que perdi energias. Tenho uma característica que é esta quando acredito em alguma coisa vou para frente mesmo que tenha várias pessoas a dizerem que não, eu vou para frente.

N- Neste caso havia pessoas a dizerem que não ao projecto?

BC- Houve várias pessoas que disseram que não era possível reabilitar este parque, que falavam principalmente da importação de animais para repovoar o parque, mas eu pus-me de pé e disse não, este parque tem capacidade porque o ecossistema estava em condições, tem capacidade para sarar as feridas que tinham sido provocadas nele principalmente em termos de fauna, e o resultado foi que, acreditando nisso, nós vimos. Aliás, pode observar que todos os animais que está a ver no parque nenhum deles foi trazido, os que foram trazidos estão no santuário. Significa que este esforço valeu a pena, embora nós não sejamos técnicos cotados dentro daquilo que é top quality, como se costuma dizer. Mas os conhecimentos que tínhamos permitiram que fizéssemos um trabalho que hoje dignifica o nosso país.

N- Hoje em que lugar colocaria o PNG no mundo?

BC- Acho que o parque está a dar passos muito gigantes e provavelmente dentro da África Austral pode não estar como o parque melhor cotado, mas a sua fama está a regressar e a equiparar-se a um Kruger e outros. A única diferença é que ele tem as características que tem, só pode ser visitado durante uma parte do ano porque na outra não é possível por causa das chuvas, mas acredito que com um pouco mais de trabalho que está mais ou menos projectado nas nossas cabeças sem violar muito o ambiente natural, podemos criar condições para termos visitantes ao longo de todo o ano e criarmos uma série de produtos que possam ser diversificados. Quem vier no tempo de chuva pode ter produtos que possam satisfazer o seu desejo de apreciar a natureza.

N- Olhando para o futuro o que é que está a ver mais?

BC- Tenho uma filosofia. Conservação para mim é o mais importante porque precisamos de olhar para isto com muita responsabilidade tendo em conta que há mudanças climáticas globais que estão a ocorrer. Então todo o esforço que deve ser dado em termos de conservação é primário, depois diria que, como tem o seu preço fazer conservação, temos que desenvolver um turismo que possa atrair pessoas para que possam ir contribuindo com as suas visitas para que a gente vá desenvolvendo outras actividades.

CENTRO DE EDUCAÇÃO COMUNITÁRIA: O QUE É?

Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias

Coube ao director de Relações Comunitárias do Parque Nacional da Gorongosa, Mateus Muthemba, fazer a explicação sobre o que é, efectivamente, este conjunto de infra-estruturas. Disse que se pretende que o CEC seja um lugar de convergência das comunidades que circundam o parque e que seja usado para reforçar a participação das comunidades e seus líderes na vida daquela estância, mas também que sirva para a valorização da cultura e do saber local em benefício da protecção da biodiversidade e da redução da pobreza.

Mais especificamente, Muthemba falou de seis objectivos, a saber, dar continuidade aos programas de educação ambiental do PNG dirigidos às crianças das escolas da zona tampão, aos líderes comunitários e a outros membros da comunidade; realizar programas na área da Saúde, com ênfase na educação para a prevenção de doenças; promover a divulgação de práticas de agricultura sustentável na zona tampão; formar membros das comunidades em áreas ligadas ao desenvolvimento de negócios; formar os membros das comunidades vizinhas nas profissões relevantes para o turismo e conservação; e promover a cidadania e a consciência cívica das comunidades vizinhas do parque.

O CEC foi construído com fundos da Fundação Carr, da USAID e da Cooperação Portuguesa. Está erguido num campus com seis hectares a partir de materiais extraídos de forma sustentável. Segundo Muthemba, o centro é um exemplo da combinação de ideias modernas de construção amigas do ambiente, com a aplicação de abordagens de construção que o nosso povo conhece e tem usado.

Consiste de vários edifícios, salas de aulas, dormitórios, escritórios, cozinha e refeitório, uma residência para o gestor e outra para hóspedes. Tem também uma área de acampamento e prevê uma capacidade de pouco mais de 60 pessoas em cada um dos momentos de formação. A sua construção durou cerca de um ano e meio e consistiu no uso intensivo de mão-de-obra local, tendo empregue durante grande parte desse período ao mesmo tempo até um número total de 150 moçambicanos das comunidades vizinhas.

CONTINUA APOIO

Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias

Uma das convidadas de honra a este evento foi a embaixadora dos Estados Unidos da América em Moçambique, Leslie Rowe. Usando da palavra momentos antes da inauguração do Centro de Educação Comunitária, recordou que o seu país tinha trabalhado através do USAID naquele local, mas também tinha trabalhos de voluntários de um corpo de paz no parque e nas comunidades vizinhas que trabalham para ajudar as comunidades locais a aprenderem sobre ecologia básica e a forma como podem contribuir para a protecção ambiental deste recurso natural e nacional.

Manifestou-se certa de que este CEC iria tornar-se num recurso valioso para a educação e desenvolvimento ambiental desta comunidade. Falou das cerca de 200 mil pessoas que vão beneficiar desta iniciativa. Disse também que estava muito satisfeita por ter sabido há dias que a Serra da Gorongosa passará a fazer parte da zona do PNG, o que vai protegê-lo.

Prometeu que os dois países iriam continuar com o diálogo sobre como os EUA podem apoiar o PNG e também atrair muitos turistas norte-americanos. Revelou igualmente que este projecto já está a atrair muitos académicos de algumas das melhores universidades norte-americanas, que pretendem entender a riqueza deste parque.

ACABARAM AS PAREDES INICIA O PROJECTO DAS PESSOAS

Maputo, Terça-Feira, 27 de Julho de 2010:: Notícias

PRESENTE nesta cerimónia esteve igualmente o conselheiro para a Cooperação na Embaixada de Portugal em Maputo, Diogo Franco, que usou da palavra em representação do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD), entidade que igualmente desembolsou fundos para a construção do CEC.

Diogo Franco disse que este projecto significa não apenas e evidentemente a preservação de um património ecológico, ambiental de valor incalculável, mas uma aposta nas pessoas. Sublinhou que este era um projecto de desenvolvimento integrado com respeito pelo ambiente, pela economia social, mas sobretudo uma aposta nas pessoas, designadamente nas pessoas que vivem na zona tampão do PNG.

“Diria que estamos no primeiro dia do resto de um projecto. Estão montados e acabados os tijolos e as paredes, mas hoje começa o projecto das pessoas, as pessoas que aqui virão aprender a preservar o ambiente que as rodeia, receber formação com objectivo de viverem de forma sustentável no seu próprio meio. Continuaremos a apoiar Moçambique nas valências que tem e na melhor infra-estrutura que Moçambique tem, que são as suas pessoas”- prometeu.
Eliseu Bento



DISCURSO DE GREG CARR



O presidente da Fundação Carr, Gregory Carr, financiador do Projecto de Restauração do Parque, proferiu o seguinte discurso durante a cerimónia comemorativa dos 50 anos desta instituição:



" Como todos sabemos, a Terra foi formada há 4.500 milhões de anos. Há 1.000 milhões de anos apareceram as primeiras forma de vida multi-celular. Em seguida, apareceram as plantas terrestres. E depois os insectos, os répteis, os mamíferos e os pássaros. Há 200.000 anos foi a vez dos primeiros humanos semelhantes a nós caminharem na Terra. Nós, seres humanos, os últimos a habitar o nosso planeta, contamos com 6.800 milhões de indivíduos. Haverão, pelo menos, 9.000 milhões de seres humanos até meados do presente século. E em relação à população das outras espécies? À medida que a população humana aumenta, diminui o número das outras espécies. Porquê? Primeiro: a destruição do habitat natural – os ecossistemas naturais estão a desaparecer, e a dar lugar à expansão de aglomerados urbanos e suburbanos, à silvicultura comercial, à agricultura comercial, à sobrecarga dos solos, ao uso excessivo de queimadas, à erosão do solo e à exploração mineira. O aquecimento global está a provocar mudanças nos habitats. As espécies mais vulneráveis estão em risco de extinção e as espécies que dependem destas serão igualmente extintas, como que em forma de espiral da morte. Os cientistas estimam que poderemos perder 25% de todas as espécies, ainda neste século (plantas e animais). Podemos inferir que todos os seres humanos estão a obter benefícios à medida que dominamos o planeta? Não. Pelo menos 2.000 milhões de pessoas, do total de 2.500 milhões de pessoas que se adicionarão às actuais, estarão entre as camadas mais pobres das populações desfavorecidas, pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia – são estas as mais vulneráveis à perda de habitats, às variações climáticas, às inundações, às secas, e aos solos empobrecidos. O Ecossistema da Grande Gorongosa é um microcosmo da história do nosso planeta. As comunidades locais estão entre as mais pobres do mundo. O nosso ecossistema está ameaçado pela desflorestação, a diminuição e poluição das bacias hidrográficas, o desaparecimento de espécies, e a degradação das terras agrícolas.
Cinquentenário do PNG e sua Restauração
O Parque da Gorongosa - um tesouro mundial de biodiversidade - celebra, este ano, 50 anos. Se a Gorongosa e outras reservas naturais por todo o mundo florescerem, poderão vir a desempenhar um papel preponderante no que respeita à protecção das espécies e respectivos habitats, de modo a não termos necessariamente de perder um quarto das espécies terrestres neste século. No entanto, adoptámos uma nova filosofia relativamente aos parques nacionais que difere daquela vigente há 50 anos. Agora, reconhecemos que um parque nacional deve ajudar os seres humanos que residem nas suas redondezas e não apenas preservar a natureza. A parceria público-privada de 20 anos para a co-gestão da restauração da Gorongosa disponibiliza-nos um mandato de forma a prosseguir os dois objectivos relativos ao desenvolvimento humano e à protecção da biodiversidade. Na verdade, quem excluir um ou outro objectivo da sua perspectiva perderá de vista a interligação entre os dois. Os seres humanos precisam da natureza: os ecossistemas dão-nos ar puro, água, solo fértil, abrigo, nutrição, inúmeros recursos naturais e recompensas estéticas e espirituais. Por outro lado, a natureza precisa de nós. Os ecossistemas naturais não irão sobreviver, a não ser que os seres humanos se mostrem motivados para a sua conservação. Para gerar a vontade política para a conservação, deverá ser abordada a questão das necessidades humanas, agora que pedimos às sociedades que apoiem e protejam os pontos críticos de biodiversidade. Uma citação da sabedoria local africana esclarece que somos um com a natureza: Passo a citar: “Nós reconhecemos o poder do Todo-Poderoso por meio de uma tempestade de trovões; sentimos confiança e conforto do eterno com o sol nascente; celebramos as inúmeras qualidades da natureza aparentes ou ocultas em cada forma. Cada planta, pedra, animal e pessoa narra a história da criação e serve para criar, ensinar e guiar-nos por entre os caminhos da vida.” Prosseguir os desafios relativos à protecção da biodiversidade e ao desenvolvimento humano não significa que terá de haver um perdedor de um dos lados, e um vencedor do outro. As actividades do nosso projecto incidem sobre ambos os objectivos: -- uma agricultura sustentável protege o solo, à medida que aumenta os índices de produção agrícola; -- o ecoturismo gera emprego, uma vez que valoriza a preservação do ecossistema (os turistas querem ver animais, árvores e paisagens idílicas); -- os sistemas hidrológicos saudáveis fornecem água potável às pessoas e à natureza;-- os projectos florestais restauram as serras, ao mesmo tempo que proporcionam a criação de postos de trabalho, o arrefecimento do ar e a preservação do solo, das plantas medicinais e de outros produtos florestais sustentáveis.
Centro de Educação Comunitária
Hoje inauguramos o nosso novo Centro de Educação Comunitária ao mesmo tempo que comemoramos o Cinquentenário do Parque. Este Centro é o lugar onde convergem os esforços multi-disciplinares e onde estes se encontram e consolidam com a cultura e saber locais. Os debates no nosso Projecto têm sido vigorosos.Estamos a experimentar uma convergência de paixões por parte dos profissionais que estão seriamente preocupados com estes assuntos - quer do ponto de vista humano quer do ponto vista ambiental. As profissões nas áreas da Ecologia, da Silvicultura, da Fauna Bravia, da Agronomia, da Saúde, do Planeamento do Território, da Economia, das Ciências Sociais, do Ecoturismo entre outras… todas devem explorar o mais possível o saber local trazido pelas populações da zona tampão e colaborar no planeamento e execução do Projecto de Restauração da Gorongosa, de modo a que este ecossistema interligado apoie as suas múltiplas componentes, sejam estas de grande ou pequena dimensão. Em jeito de conclusão, permitam-me que cite Nelson Mandela, que afirmou: “…em primeiro lugar devemos ser honestos com nós próprios. Nunca poderemos criar um impacto na sociedade se nós próprios não mudarmos. Os grandes pacificadores são todos pessoas de integridade, de honestidade, mas também de humildade.” Este projecto dar-nos-á a oportunidade de crescer interiormente, como pessoas, à medida que aprendemos com os nossos erros, que negociamos eventuais conflitos uns com os outros e que nos tornamos mais receptivos a outras perspectivas, e que nos tornamos mais humildes, uma vez que dissolvemos os nossos egos através da imersão neste grande ecossistema, do qual somos apenas uma componente.

23 de Julho de 2010 Quinquagésimo Aniversário do Parque Nacional da Gorongosa, 1960 – 2010Discurso de Greg Carr Como todos sabemos, a Terra foi formada há 4.500 milhões de anos. Há 1.000 milhões de anos apareceram as primeiras forma de vida multi-celular. Em seguida, apareceram as plantas terrestres. E depois os insectos, os répteis, os mamíferos e os pássaros. Há 200.000 anos foi a vez dos primeiros humanos semelhantes a nós caminharem na Terra. Nós, seres humanos, os últimos a habitar o nosso planeta, contamos com 6.800 milhões de indivíduos. Haverão, pelo menos, 9.000 milhões de seres humanos até meados do presente século. E em relação à população das outras espécies? À medida que a população humana aumenta, diminui o número das outras espécies. Porquê? Primeiro: a destruição do habitat natural – os ecossistemas naturais estão a desaparecer, e a dar lugar à expansão de aglomerados urbanos e suburbanos, à silvicultura comercial, à agricultura comercial, à sobrecarga dos solos, ao uso excessivo de queimadas, à erosão do solo e à exploração mineira. O aquecimento global está a provocar mudanças nos habitats. As espécies mais vulneráveis estão em risco de extinção e as espécies que dependem destas serão igualmente extintas, como que em forma de espiral da morte. Os cientistas estimam que poderemos perder 25% de todas as espécies, ainda neste século (plantas e animais). Podemos inferir que todos os seres humanos estão a obter benefícios à medida que dominamos o planeta? Não. Pelo menos 2.000 milhões de pessoas, do total de 2.500 milhões de pessoas que se adicionarão às actuais, estarão entre as camadas mais pobres das populações desfavorecidas, pessoas que vivem com menos de 2 dólares por dia – são estas as mais vulneráveis à perda de habitats, às variações climáticas, às inundações, às secas, e aos solos empobrecidos. O Ecossistema da Grande Gorongosa é um microcosmo da história do nosso planeta. As comunidades locais estão entre as mais pobres do mundo. O nosso ecossistema está ameaçado pela desflorestação, a diminuição e poluição das bacias hidrográficas, o desaparecimento de espécies, e a degradação das terras agrícolas.
Cinquentenário do PNG e sua Restauração
O Parque da Gorongosa - um tesouro mundial de biodiversidade - celebra, este ano, 50 anos. Se a Gorongosa e outras reservas naturais por todo o mundo florescerem, poderão vir a desempenhar um papel preponderante no que respeita à protecção das espécies e respectivos habitats, de modo a não termos necessariamente de perder um quarto das espécies terrestres neste século. No entanto, adoptámos uma nova filosofia relativamente aos parques nacionais que difere daquela vigente há 50 anos. Agora, reconhecemos que um parque nacional deve ajudar os seres humanos que residem nas suas redondezas e não apenas preservar a natureza. A parceria público-privada de 20 anos para a co-gestão da restauração da Gorongosa disponibiliza-nos um mandato de forma a prosseguir os dois objectivos relativos ao desenvolvimento humano e à protecção da biodiversidade. Na verdade, quem excluir um ou outro objectivo da sua perspectiva perderá de vista a interligação entre os dois. Os seres humanos precisam da natureza: os ecossistemas dão-nos ar puro, água, solo fértil, abrigo, nutrição, inúmeros recursos naturais e recompensas estéticas e espirituais. Por outro lado, a natureza precisa de nós. Os ecossistemas naturais não irão sobreviver, a não ser que os seres humanos se mostrem motivados para a sua conservação. Para gerar a vontade política para a conservação, deverá ser abordada a questão das necessidades humanas, agora que pedimos às sociedades que apoiem e protejam os pontos críticos de biodiversidade. Uma citação da sabedoria local africana esclarece que somos um com a natureza: Passo a citar: “Nós reconhecemos o poder do Todo-Poderoso por meio de uma tempestade de trovões; sentimos confiança e conforto do eterno com o sol nascente; celebramos as inúmeras qualidades da natureza aparentes ou ocultas em cada forma. Cada planta, pedra, animal e pessoa narra a história da criação e serve para criar, ensinar e guiar-nos por entre os caminhos da vida.” Prosseguir os desafios relativos à protecção da biodiversidade e ao desenvolvimento humano não significa que terá de haver um perdedor de um dos lados, e um vencedor do outro. As actividades do nosso projecto incidem sobre ambos os objectivos: -- uma agricultura sustentável protege o solo, à medida que aumenta os índices de produção agrícola; -- o ecoturismo gera emprego, uma vez que valoriza a preservação do ecossistema (os turistas querem ver animais, árvores e paisagens idílicas); -- os sistemas hidrológicos saudáveis fornecem água potável às pessoas e à natureza;-- os projectos florestais restauram as serras, ao mesmo tempo que proporcionam a criação de postos de trabalho, o arrefecimento do ar e a preservação do solo, das plantas medicinais e de outros produtos florestais sustentáveis.
Centro de Educação Comunitária
Hoje inauguramos o nosso novo Centro de Educação Comunitária ao mesmo tempo que comemoramos o Cinquentenário do Parque. Este Centro é o lugar onde convergem os esforços multi-disciplinares e onde estes se encontram e consolidam com a cultura e saber locais. Os debates no nosso Projecto têm sido vigorosos.Estamos a experimentar uma convergência de paixões por parte dos profissionais que estão seriamente preocupados com estes assuntos - quer do ponto de vista humano quer do ponto vista ambiental. As profissões nas áreas da Ecologia, da Silvicultura, da Fauna Bravia, da Agronomia, da Saúde, do Planeamento do Território, da Economia, das Ciências Sociais, do Ecoturismo entre outras… todas devem explorar o mais possível o saber local trazido pelas populações da zona tampão e colaborar no planeamento e execução do Projecto de Restauração da Gorongosa, de modo a que este ecossistema interligado apoie as suas múltiplas componentes, sejam estas de grande ou pequena dimensão. Em jeito de conclusão, permitam-me que cite Nelson Mandela, que afirmou: “…em primeiro lugar devemos ser honestos com nós próprios. Nunca poderemos criar um impacto na sociedade se nós próprios não mudarmos. Os grandes pacificadores são todos pessoas de integridade, de honestidade, mas também de humildade.” Este projecto dar-nos-á a oportunidade de crescer interiormente, como pessoas, à medida que aprendemos com os nossos erros, que negociamos eventuais conflitos uns com os outros e que nos tornamos mais receptivos a outras perspectivas, e que nos tornamos mais humildes, uma vez que dissolvemos os nossos egos através da imersão neste grande ecossistema, do qual somos apenas uma componente."
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REPORTAGEM FOTOGRÁFICA DO EVENTO


Ministro do Turismo de Moçambique, Fernando Sumbana, no acto de Inauguração do Centro de Educação Comunitária, rodeado por membros da Equipa de Gestão do PNG e representantes dos doadores: Carr Foundation, USAID e IPAD.
Aspecto da Celebração do Cinquentenário do PNG no Acampamento de Chitengo
Corte do bolo do 50º aniversário do PNG
AGRADECIMENTO

Ao Dr. Vasco Galante, director do Turismo e Comunicação do PNG, os meus agradecimentos pelo envio do material informativo acima publicado



Saudações amigas

Amor-Leiria, 31 de Julho de 2010

Celestino Gonçalves


21 July 2010

81 - GORONGOSA - DECISÃO FANTÁSTICA




DECISÃO FANTÁSTICA

DO GOVERNO DE MOÇAMBIQUE



Esperei meio século por esta decisão!

Finalmente a Serra da Gorongosa foi agregada ao Parque Nacional do mesmo nome!

Fantástico!

O Governo da antiga colónia de Moçambique nunca teve a coragem de semelhante decisão não obstante as autoridades da fauna bravia terem proposto tal medida depois de um demorado estudo a cargo do notável ecologista sul africano Kenneth Tinley, nos anos de 1968/69, em que ficou demonstrado que a Serra era o pulmão chave de todo o Parque.

O Governo de Moçambique levou 35 anos para tomar esta decisão, que parecia impossível face aos constantes retrocessos nas promessas que nos últimos anos vinham sendo feitas, nomeadamente depois de 2005 quando o Parque passou a ser recuperado pelo Projecto da Fundação Carr, dirigido pelo seu presidente, o filantropo americano Greg Carr. A persistência deste apaixonado pela restauração do Parque acabaria por surtir efeitos, depois de muitas diligências junto do governo.

Sucessivas visitas de altos governantes ao PNG nos últimos anos, incluido dos Presidentes da República Joaquim Chissano e Emílio Guebuza, ajudaram a concluir o difícil processo de anexação da Serra que se arrastava por diversas razões, nomeadamente de ordem social por se tratar de uma medida que colidia com os hábitos culturais das populações residentes, habituadas a utilizar a Serra como seu celeiro, cultivando as suas encostas até níveis superiores aos admissíveis, caçando a seu belo prazer, desflorestando sem qualquer controlo o próprio planalto superior onde em total liberdade tinham as suas culturas clandestinas de suruma. Uma anarquia total que se agravou durante a guerra civil e por tão arreigada que estava não foi (nem será) fácil de combater. O corte das árvores magestosas que sustentam os solos dos planaltos e das encostas, as machambas em locais impróprios e as queimadas, conduziram já a níveis irreversíveis de uma boa parte da Serra com a consequente erosão, o assoreamento dos leitos dos rios e até a diminuição das respectivas nascentes. Nos últimos anos proliferam por todo o lado os garimpeiros de ouro, transformando os riachos em autênticas crateras e as suas águas em veneno com níveis de radioactividade altamente prejudiciais a quem a utiliza. O coração do Parque já não recebe, nos períodos de estiagem, como outrora, as águas necessárias para manter os seus ecossistemas que assim estão em avançado estado de degradação.

Todo este cenário tem colocado em perigo o futuro do Parque, restando saber se a decisão tomada de inclusão da Serra no Parque vai ser respeitada e implementadas as leis de protecção acabadas de decretar.

A notícia acabada de chegar através do director de comunicação e turismo do Parque, Dr. Vasco Galante, é motivo de regozijo para todos que amam a Natureza, sabendo-se que o Parque Nacional da Gorongosa é um local privilegiado onde a vida selvagem teve no passado a melhor representação de todo o continente africano e que agora está a atravessar um processo de restauração que promete voltar a devolver-lhe a sua magestosa fauna.

Transcrevo o essencial do Comunicado do Secretariado do Conselho de Ministros aos órgãos de informação relativamente à aprovação do Decreto-Lei que inclui a Serra no Parque:


REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
SECRETARIADO DO CONSELHO DE MINISTROS
Aos Órgãos de Informação
O Conselho de Ministros realizou, no dia 20 de Julho de 2010, a sua 25.ª
Sessão Ordinária.
Nesta Sessão, o Governo apreciou e aprovou:
− O Decreto que altera os limites do Parque Nacional da Gorongosa (PNG).
Com esta alteração, a área do Parque Nacional de Gorongoza é alargada
de 3.700 Km2 para 4.067 Km2, com uma zona tampão de cerca de 3.300
Km2, é retirada no PNG a área da Casa Banana e incluída a área da
Serra de Gorongosa acima de 700 m da curva de nível.

Estão de parabéns todos os que lutaram por esta importante e, repito, fantástica decisão, sendo de realçar que o grande mérito pertence ao primeiro homem que lançou o grito de alerta em finais da década de 60, o já referido ecologista Kenneth Tinley, grande amigo de Moçambique e actualmente a viver na Austrália. Para ele é um prémio que mesmo tardio certamente lhe traz muita alegria. Daqui lhe envio um grande abraço, com a velha amizade nascida quando ambos, jovens ainda, nos conhecemos, ele responsável da Reserva de N'Dumo (A. Sul) e eu responsável da Reserva de Elefantes do Maputo!

Kenneth Tinley - o pai do projecto de anexação da Serra (assinalado ao cento), quando participou, em 1973, numa operação de captura de Gondongas com uma equipa mista Rodésia/Moçambique a norte do PNG.

Está de parabéns Moçambique e o seu governo! Está de parabéns o Parque Nacional da Gorongosa e todos os seus trabalhadores! Está de parabéns o Comité de Supervisão dirigido pelo magnata Greg Carr e pelo moçambicano Tenente-Coronel Beca Jofrisse!


Na presença do Presidente Guebuza, Greg Carr troca com o Ministro do Turismo os instrumentos de consagração do Acordo de Gestão Conjunta do PNG, assinado no Chitengo em 2008


Tenente-Coronel Beca Jofrisse



Alguns dos membros da equipa do PNG após a cerimónia de consagração do Acordo de Gestão Conjunta, em 2008


Régulos da região do PNG que estiveram presentes na cerimónia do Acordo de Gestão

Está de parabéns o Povo da região da Gorongosa que vai beneficiar das medidas de protecção que agora passam a vigorar! Estão de parabéns as organizações e governos estrangeiros (Portugal incluido) que têm dado apoio ao PNG! Estão de parabéns os antigos colaboradores do Parque (onde me incluo) que mesmo longe continuam a interessar-se pelo seu desenvolvimento e a apoiar com a sua presença todas as manifestações promovidas neste país em prol da sua divulgação!

Para melhor compreensão da euforia (e alegria) com que divulgo esta notícia, vale a pena deixar aqui alguns trechos de crónicas e artigos relacionados com a Serra da Gorongosa, rebuscados no site oficial do Parque e dos meus arquivos. Foram escritos por técnicos e cientistas que nos últimos anos têm colaborado no desenvolvimento do Parque e são parte de muitas outras demonstrações que ajudaram a sensibilizar o governo moçambicano!

Saudações amigas!

Amor-Leiria, 21 de Julho de 2010

Celestino Gonçalves




Serra da Gorongosa


Uma parte da Serra vista do pico mais alto - o Gogogo, com 1862 metros

Grande parte do desenvolvimento do ecoturismo centra-se na Serra da Gorongosa – uma fonte vital de água para o parque e habitat natural para muitas espécies raras de aves e plantas. A floresta abriga uma diversidade incrível de animais e plantas, incluindo espécies raras de aves, como o Papa-figos-de-cabeça-verde e a Felosa-real.


Técnicos do PNG no Monte Gogogo

Contudo, as queimadas agrícolas e a produção de carvão estão a criar manchas de terreno árido ao longo da paisagem da serra. Os 2000 habitantes da serra estão a lutar para encontrar alimentos, emprego e locais para viver. As comunidades locais vendem o carvão e os excedentes agrícolas nos mercados locais para gerar receitas, mas as queimadas estão a devastar a Serra da Gorongosa. A floresta que ficou em tempos longe da presença do homem pode desaparecer em 2011.


As cascatas do rio Murombodzi, uma das maravilhas da Serra!


Ecossistema da Serra da Gorongosa

A Serra da Gorongosa é um ecossistema especial e vale a pena lutar para salvá-lo. As suas florestas albergam uma grande diversidade de plantas e animais, os seus rios mantêm o ecossistema do Parque em baixo e os recursos da serra são vitais para a subsistência de muitas populações locais.

Planalto interior da Serra. Ao fundo o pico Gogogo, o ponto mais alto do grande maciço rochoso que tem mais de 40 Km de extensão.

Subir ao cume da mística Serra da Gorongosa é como abrir o portal para um mundo secreto. O aventureiro é acolhido por florestas húmidas, exuberantes e verdejantes, e por quedas de água de extrema beleza. Com vários picos que chegam aos 1.800 metros acima do nível da água do mar, o sistema da Serra da Gorongosa é de pura beleza, mais ainda por ser um local recôndito. Registaram-se na Serra centenas de espécies de pássaros e plantas, algumas das quais não se encontram em mais lado nenhum no planeta.



Projecto de Restauração

A reabilitação do Parque Nacional da Gorongosa, no centro de Moçambique, representa uma das grandes oportunidades de conservação no mundo de hoje. A Gorongosa é uma região com grande diversidade de espécies e características ecológicas únicas. A chave para assegurar a continuidade da diversidade de espécies no planeta é proteger as áreas que se encontram em situação crítica.

Com uma área de cerca de 4000 quilómetros quadrados, o Parque situa-se na zona limite sul do Grande Vale do Rift Africano. O Parque abarca a área plana do vale e partes dos planaltos que o circundam. A planície é irrigada pelos rios que nascem na Serra da Gorongosa, a qual chega a atingir os 1862 metros de altitude.


As florestas da Serra da Gorongosa


Aspecto da magestosa floresta do planalto interior da Serra

As florestas da serra são o elemento chave na vida do vale, uma vez que absorvem a chuva e vão libertando as águas ao longo do ano. Contudo, encontram-se em situação de grande perigo – os agricultores locais estão a cortá-las a fim de limpar os terrenos para cultivo. Enquanto os nossos departamentos de Relações Comunitárias e de Turismo ajudam os locais a usar métodos de agricultura sustentável e a encontrar outras fontes de rendimento, o Departamento de Conservação está a identificar zonas que deveriam ser protegidas, reflorestadas ou deixadas vagas para que o crescimento da vegetação se faça de forma natural.



Visita do Presidente Guebuza em 2007

(Notícia emanada do Gabinete de Comunicação do PNG)

O Presidente Guebuza visitou o Parque Nacional da Gorongosa na passada terça feira e passou a noite num dos novos e luxuosos chalets. Foi o primeiro hóspede a ficar nas novas instalações.
O Presidente fez um safari de três horas no Parque passando por florestas de acácias e palmeiras, atravessando a savana e lagoas secas. Foi conduzido e protegido por Baldeu Chande que lhe mostrou pivas, impalas e inhalas, bem como águias pesqueiras e marabus. O Governador Vaquina também fez parte desta aventura.


Greg Carr dá as boas-vindas ao Presidente Guebuza
à sua chegada ao Chitengo em 2007

O Presidente Guebuza foi muito simpático por dispensar o seu tempo de descanso, para almoçar com a equipa de gestão do Parque onde recebeu um relatório sobre a restauração do mesmo. A equipa explicou o programa de reintrodução de animais, o programa de agricultura sustentável e reflorestação da Montanha da Gorongosa.

Maio 25, 2007

20 July 2010

80 - ACRENARMO - CONVÍVIO NO BADOCA PARK



CONVÍVIO NO BADOCA SAFARI PARK



O convívio promovido pela ACRENARMO - Associação Cultural e Recreativa dos Naturais e ex-Residentes de Moçambique (Sede em Leiria) - anunciado nos últimos meses no seu Blogue e amplamente divulgado noutros sítios da Internet e através de e_Mails dirigidos aos associados, realizou-se de acordo com o programa.

Com efeito, no passado sábado, dia 17, com temperatura razoável para a época, um grupo de associados (não tão grande como se previa e desejava), marcou presença naquele que é o maior e mais atraente Parque Zoológico do País, situado na região de Sines, em pleno Alentejo.

Muito conhecido já, o Badoca Safari Park reune um conjunto de condições que constituem atractivo tanto para adultos como crianças. Para além de um bom número de espécies bravias e até domésticas de várias origens, dispersas em largos espaços ou confinadas em cercados adequados, existem ali algumas atracções onde os visitantes podem passar bons momentos de lazer intercalados com os programas oferecidos pelo Park como são os shows de apresentação de aves de rapina, sessão de alimentação dos simpáticos lémures e o Safari Aventura que é o ponto alto da visita.

Integrado numa extensa quinta - a Herdade da Badoca -, o Badoca Safari Park reune excelentes condições para albergar animais selvagens oriundos sobretudo de paises de climas quentes dado que o Alentejo também é pródigo nestas temperaturas. Por outro lado, a quinta em causa é bastante arborizada com predominância de sobreiros, pinheiros bravos e eucaliptos, o que proporciona sombra suficiente para proteger os animais nas horas de maior calor.

Para além do prazer de participar em mais um convívio de naturais e ex-residentes de Moçambique, promovido pela ACRENARMO, este despertou-me o maior interesse desde o momento em que foi anunciado justamente por ser realizado num local que ainda não conhecia e que há muito queria visitar. O facto de ser um parque de vida animal, só por si, era suficiente para ter a curiosidade de o conhecer. Mas havia também o desejo de conhecer este projecto que foi iniciado há mais de duas dezenas de anos por um particular amigo, o saudoso Rui Quadros, natural e antigo caçador-guia de Moçambique, recentemente falecido (notícia AQUI).

Por outro lado, sabia que o Badoca Safari Park (que era apenas um pequeno embrião do actual projecto deixado pelo seu fundador), havia sido transformado radicalmente pelo conhecido empresário Francisco Simões de Almeida, um entusiasta que ali tem construído uma obra notável, de investimentos avultados e se fez rodear de bons profissionais que executam as múltiplas tarefas do Park com a competência que nos foi dado observar durante a visita.

Para um país sem tradição neste tipo de empreeendimentos e exploração da respectiva indústria, o Badoca Safari Park está anos luz à frente dos vários mini parques zoológicos espalhados por aí, alguns sem condições sequer para albergarem determinados animais que lá se encontram em condições impróprias. Por isso é digno de registo o muito de positivo que ali me foi dado observar, que não sendo, no seu todo, o Parque ideal como tantos outros fora do continente africano, é um local que merece o respeito de quem o visita pois ali se aprende muito em matéria do conhecimento e comportamento da vida animal.

Sem ter condições para me pronunciar sobre o futuro desenvolvimento do Badoca Safari Parque, queria aproveitar esta oportunidade para deixar aqui o meu voto de que o mesmo seja progressivamente melhorado no que respeita à introdução de mais e novas espécies, sobretudo oriundas dos países africanos que são as que melhor fazem recordar o passado de uma faixa bem significativa de portugueses que são aqueles que viveram em Angola e Moçambique. Para além, evidentemente, de se tornar cada vez mais didático no conhecimento da juventude pela famosa fauna bravia dos países que nós administramos durante cerca de cinco séculos.

Para quem viveu em África, uma visita ao Badoca Safari Park é, na verdade, um passeio que nos faz reviver tempos bons pois ali existem coisas comuns: animais, clima e, até, a poeira das picadas!

Uma palavra de agradecimento ao dinâmico presidente da ACRENARMO, Paulo Batista, por mais esta louvável iniciativa!

Uma palavra de incitamento a todos aqueles que, ligados ou não à ACRENARMO, participem nas iniciativas desta que é a única Associação de Naturais e ex-residentes de Moçambique no país. O exemplo das presenças em convívios anteriores, como foi o de Leiria, no ano passado, para comemorar o 25º aniversário da Associação, deve ser seguido para continuarmos a recordar Moçambique e a manter viva a chama da solidariedade que tanto nos caracteriza e até causa inveja a muita gente!

Outros eventos estão a ser programados e o 26º aniversário é um deles!

Melhor que as palavras, o Álbum de fotografias do evento dá uma ideia do excelente dia passado no principal Parque Zoológico do País!

Clique na fotografia abaixo!



Saudações amigas!


Amor-Leiria, 19 de Julho de 2010

Celestino Gonçalves





30 May 2010

79 - CAÇADOR GUIA RUI QUADROS - A MINHA HOMENAGEM

RUI  QUADROS
 (1937-2010)

A MINHA HOMENAGEM



  
 UMA LENDA DA ÉPOCA DE OURO DOS SAFARIS DE CAÇA EM MOÇAMBIQUE


Acaba de chegar ao meu computador, por e_Mails dos amigos comuns Luís Pedro Sá Mello e Fernando Gil, mais uma triste notícia. Faleceu o Rui Quadros!

Sem muitos pormenores, a infausta notícia, que muito me chocou, refere que o famoso e mundialmente conhecido caçador-guia e grande desportista moçambicano, faleceu ontem, acometido de um colapso cardíaco quando via televisão na sua residência em Maputo.

Amigo de longa data, o Rui Quadros era filho de um antigo colega - Afonso Quadros - funcionário do Quadro Administrativo de Moçambique, que conheci na década de 50 quando militava no mesmo serviço.

O Rui deixara Moçambique, sua terra natal,  em 1975 e ali regressou no ano 2000, depois de 25 anos de tentativas de fixação em vários pontos do mundo, desde países africanos, sul americanos e Portugal, desempenhando sempre actividades relacionadas com o turismo cinegético e contemplativo, mas todas elas frustradas justamente por inadaptação aos ambientes que pouco ou nada se comparavam aos da sua querida terra. A sua última tentativa ocorreu no rincão alentejano, fundando ali o Badoca Parque, hoje famoso graças à continuação do seu projecto por parte do  proprietário que lhe sucedeu!

Durante as minhas habituais estadias em Moçambique, nos últimos dez anos, a companhia do Rui tornou-se um hábito, pela grande amizade mútua e por termos em comum a paixão pela Natureza, em geral, e pela conservação da vida selvagem, em particular. Recordamos sempre, com muito orgulho, o facto de pertencermos ao número daqueles que conheceram o país de lés a lés, de termos vivido a época de ouro dos safaris de caça (épocas de 60 e 70) e participado em acções que ajudaram ao progresso verificado no sector da fauna bravia durante as duas décadas que precederam a independência de Moçambique em 1975.

Com o Rui Quadros em Janeiro de 2005, em Maputo

Depois de ter tentado readaptar-se às actividades cinegéticas, como guia de safaris, nos primeiros anos após o seu regresso a Moçambique, o Rui Quadros acabou por desistir, não tanto pela sua idade avançada ou menores condições físicas, mas pelo desencanto desta actividade recentemente reactivada no país, agora nas mãos de alguns estrangeiros mais interessados pela exploração do património faunístico do que pela sua conservação. Passou a dedicar-se ao negócio do peixe e mariscos frescos, que o ocupava e lhe conferia tempo para confraternizar com os amigos.

Quem conheceu o Rui Quadros sabe que não exageramos ao dizer que se trata de uma lenda da época de ouro dos safaris de caça em Moçambique! Ele complementava a sua condição de excelente caçador e guia de safaris com as virtudes raras de grande conhecedor da vida do mato, dos animais selvagens e das populações rurais cujas línguas  (dialectos) falava com fluência, quer fossem do sul, do cento ou do norte do país. Com preparação académica de nível médio, era também um conversador nato, sabendo como poucos da sua profissão como encantar os turistas que conduzia nos safaris, sobretudo nos longos serões à fogueira ou nas salas de estar dos belos acampamentos de caça, contando-lhes as mirabolantes histórias da sua vida de caçador ou fazendo-lhes curiosas demonstrações de magia com cartas em que era exímio executante!

Enquadram-se ainda neste lendário protagonista as mirabolantes aventuras com muitas mulheres que por ele se apaixonavam, nomeadamente as turistas estrangeiras mais liberais que participavam nos safaris por ele conduzidos e que nele viam a personificação  de um  digno representante da masculinidade latina! Uma das mais  recambolescas histórias que protagonizou foi iniciada no Brasil, em casa de um amigo e veio a ter o epílogo de tantas outras, pouco tempo depois, já em Moçambique. Apresentado por esse amigo a uma jovem de grande beleza, esta ficou como que hipnotizada perante a figura e a simpatia do Rui e foi amor à primeira vista. Como ele estava de regresso a Moçambique, ela não hesitou, fez a mala e partiram juntos, curtindo já  uma paixão recíproca tipo Romeu e Julieta. Após alguns dias de "lua de mel" em Lourenço Marques (actual Maputo), bem instalados no apartamento e divertindo-se nas belas noites do Polana, Cardoso e outros requintados lugares da cidade,  saboreando a afamada comida africana, com destaque para os melhores mariscos do mundo que o Índico tão generosamente oferece a esta costa oriental de África, o Rui teve que partir para o mato para cumprir as suas obrigações de caçador-guia e levou consigo a sua jovem namorada, citadina nascida e criada em S. Paulo, das maiores metrópoles do mundo. O desconforto de uma viagem de 800 Km em jeep aberto,  um terço do percurso em picadas poeirentas e esburacadas e  sob o calor abrasador africano, foi o início de uma desilusão para a jovem. A beleza do acampamento do Zinave (junto ao grande rio Save), a recepção simpática dos trabalhadores da Empresa, um banho quente e uma boa refeição atenuaram o cansaço da viagem. Nos dias seguintes e enquanto não chegavam os turistas para o safari da responsabilidade do Rui, ambos se divertiram em passeios curtos, mas recheados de animais que se deixavam aproximar dado que a empresa (Moçambique Safarilândia) mantinha essas áreas apenas para observação e nunca ali se dava um único tiro. Quando os turistas chegaram, a vida passou a ser outra e a "lua de mel" terá chegado ao fim dado que durante o dia e boa parte da noite o Rui tinha que acompanhar os clientes. Só ao jantar, no acampamento, é que  a jovem participava, embora tal não acontecesse quando o safari decorria em zonas afastadas do Zinave e o grupo  por lá ficava, por vezes dias seguidos utilizando acampamentos improvisados. Nesses dias a jovem passou a sentir-se muito só, teve alguns sustos com os barulhos da noite (corujas,  hienas, chacais, leões, bush-babys, etc., eram normais e consolavam quem gosta de viver o mato africano) e sentia-se desprotegida na frágil habitação, que sendo excelente para albergar os caçadores-guias, não era propriamente  uma residência para um casal e muito menos para uma jovem de boas famílias oriunda de uma grande cidade. Essas noites passaram a ser um suplício para a moça sobretudo a partir do dia em que o empregado da limpeza descobriu uma cobra enrolada debaixo do tapete do seu quarto. No regresso, o Rui tinha que a consolar para recuperar a sua boa disposição. A situação passou a ser insuportável. No intervalo de um dos safaris foram à cidade onde ela acabaria por ficar sozinha enquanto o Rui voltava ao novo safari, por vezes de um mês ou mais. Inevitavelmente, o romance chegara ao fim. A jovem regressou ao Brasil, sozinha!
Esta história não seria nada diferente da de tantas outras passadas na vida do Rui com namoradas de ocasião, se não houvesse por detrás dela um acontecimento muito estranho e raro, para não dizer inédito. É que a jovem (de famílias da classe média alta brasileira),quando conheceu e se apaixonou do Rui, estava noiva e a dias (menos de uma semana) de casar, com convites distribuídos e  boda marcada para um dos melhores complexos hoteleiros de S. Paulo!

Fica a saudade de mais um excelente amigo e um protagonista que a história da fauna bravia, caça e caçadores de Moçambique deve registar para recordação das gerações vindouras interessadas em zelar pelo património faunístico de Moçambique.

Apresento à sua extensa e simpática família e especialmente à sua filha Maria, as minha sentidas condolências!

Um sentido abraço ao amigo Nuno Quadros, o mano mais novo que de perto está a viver as horas difíceis deste inesperado desenlace!

Para além destas breves palavras, incluo também nesta  singela homenagem ao saudoso amigo Rui Quadros, a breve biografia que dele elaborei em 2003 e que foi publicada no meu site principal, já extinto e depois republicada neste Blog. 

Paz à sua Alma!

Marrabenta, em Amor-Leiria, 30 de Maio de 2010
Celestino Gonçalves





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ÁLBUM DE RECORDAÇÕES

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RUI QUADROS
CAÇADOR GUIA E CAMPEÃO DE TIRO


Nascido na histórica Ilha de Moçambique, em 1937, RUI QUADROS é o primogénito de uma prole de 9 irmãos, filhos de um casal cujo patriarca - Afonso Quadros - era funcionário do quadro da administração civil da colónia e que se tornou muito conhecido no território precisamente por ser chefe de uma tão grande família, coisa rara entre os brancos.Outra faceta que notabilizou o pai Quadros era a sua grande paixão pela caça, que praticava nas áreas da sua jurisdição administrativa, quando chefe de Posto, a propósito de resolver problemas de alimentação do pessoal sob a sua responsabilidade empregue nas diversas actividades (administrativo, obras, presos, abertura e limpeza de picadas, etc,) ou mesmo para eliminar animais daninhos que invadiam os povoados e suas culturas. As constantes transferências a que estavam sujeitos os funcionários daquele quadro administrativo levaram o Afonso Quadros e sua família a viverem praticamente em todos os distritos da colónia e em locais dos mais isolados e inóspitos do interior de Moçambique.Dizia-se, não sei se com fundo de verdade, que o pai Quadros pedia para ocupar os Postos Administrativos mais isolados e afastados que normalmente eram recusados por colegas seus, precisamente porque se localizavam nas regiões onde existia maior densidade de animais selvagens. Estiveram na rota de trabalho deste funcionário localidades do interior com tais características, como Lunga, Iutoculo, Matibane, Lalaua, Muite, Mutuali, Malema, Ligonha, Macuzi, Inhassunge, Gilé, Funhalouro e Saúte.Naturalmente que os filhos, desde pequenos, criaram também a mesma paixão do seu progenitor, sabido que é que a caça é uma atracção muito forte para os jovens que têm o privilégio de viver em contacto com o mato e os animais bravios. O Rui, sendo o mais velho, desde tenra idade que acompanhava o pai nas incursões pelo mato e desde os seis anos que começou a lidar com espingardas. Começou pelas de pressão de ar e depressa passou às de bala de calibre ponto vinte e dois e depois às de calibres maiores. Iniciou-se no abate de aves e roedores e aos oito anos já matava pequenos antílopes. Aos nove abateu o seu primeiro búfalo e aos doze o primeiro elefante, tudo sob a batuta do pai e por vezes dos próprios cipaios do Posto.

Conheci o pai Quadros em meados da década de cinquenta durante as deambulações que também fiz como funcionário do mesmo quadro. Curiosamente, ele chefiou um posto que bem conheci: o de Saúte, localizado na circunscrição do Alto Limpopo, província de Gaza, entre o rio Save e o rio Limpopo. Uma região de clima muito sêco e com pouca população humana mas povoada de muitos milhares de animais bravios. Foi considerada, até à década de oitenta, a melhor área de caça de Moçambique e aquela que albergava mais variedade de espécies, algumas delas raras, como a girafa, a avestruz, a mezanze, a palapala cinzenta, a chita, a lebre saltadora, a raposa orelhuda e o lince. Outras espécies comuns, como elefantes, búfalos, elandes, zebras, gnús, palapalas, gondongas, cudos, leões, leopardos, chacais, hienas, inhalas, inhacosos, hipopótamos, impalas, changos, crocodilos, facoceros e cinco espécies de cabritos, eram muito abundantes. A célebre planície de Banhine era o epicentro desta região tão fértil em fauna selvagem e ficava a dois passos da povoação do Saúte. Um autêntico paraíso para a prática da caça, com destaque para a chamada caça grossa, que ali foi praticada em regime livre até à década de sessenta. Viria, depois, a ser ali criada a coutada oficial nº 17 que mais tarde, em 1973, foi extinta devido à criação do Parque Nacional do Banhine.

Foi nesta e noutras regiões idênticas que o Rui Quadros passou a maior parte da sua juventude e adquiriu uma larga experiência como caçador, tornando-se também um apaixonado pela vida animal. Só depois da instrução primária, que lhe foi ministrada pela mãe, se afastou para continuar os estudos (concluiu aos 17 anos os estudos secundários na África do Sul), mas durante as férias voltava sempre ao seio familiar e todo o seu tempo disponível era ocupado nas caçadas, que praticava à sombra das facilidades concedidas pelo próprio pai na qualidade de representante máximo da autoridade na respectiva área.

Gorados os seus sonhos de se tornar um biólogo virado para o ramo da fauna selvagem, por dificuldades financeiras dos pais para o manterem a estudar na África do Sul, procurou em Lourenço Marques uma actividade que o mantivesse em contacto com os animais bravios e assim começou por estagiar no Museu Álvaro de Castro (actual Museu de História Natural) onde aprendeu a embalsamar pequenas espécies, nomeadamente aves. Rapidamente se interessou pela ornitologia e ao serviço do Instituto de Investigação Científica de Moçambique dedicou-se à captura de pássaros. Percorreu todo o território em busca de espécies raras e ainda não catalogadas obtendo mais de uma centena de espécies novas para a vasta colecção do Museu.
Durante uma dessas campanhas, de mais de seis meses, na região do Lago Niassa, desenvolveu ali o gosto pela caça submarina, uma actividade que, para além de emotiva, lhe dava substanciais proventos pois vendia o pescado capturado, que normalmente atingia algumas dezenas de quilos por dia.

Entretanto a cidade capital também o cativou. O tempo disponível dedicava-o à prática do tiro de stand e ao atletismo. Em ambas as actividades depressa se notabilizou, logo a partir das categorias de júnior. No atletismo foi campeão de 400 e 800 metros. No tiro atingiu o patamar cimeiro em todas as provas, tornando-se campeão de Moçambique tanto na prancha como nos pombos, título que renovou sucessivamente, torneio após torneio, vencendo também inúmeras provas internacionais em que participou. Centenas de taças, medalhas e outros troféus foram-se acumulando na sua casa ao longo dos anos, primeiro em vitrines organizadas e depois a monte sobre os móveis da sala. De entre os melhores atiradores da época só o seu colega e amigo Amadeu Peixe o equiparou em títulos!


Amadeu Peixe e Rui Quadros, a dupla de caçadores guias
mais famosa das décadas de 60 e 70 em Moçambique

O seu nome aparecia com frequência nos jornais e revistas da época, tornando-se rapidamente muito conhecido no meio desportivo e nos locais mais requintados da vida nocturna da cidade, que passou a frequentar levado pela sua popularidade e pela pujança da sua juventude. Colheu os frutos dessa fama graças também à sua cativante simpatia e à sua invejável compleição física, tornando-se o menino bonito das claques e o galã das admiradoras. Era o delfim das equipas de tiro, um desporto caro praticado por elites do meio económico mais bafejado e isso lhe trouxe regalias especiais como por exemplo um excelente emprego na refinaria de petróleo (Sonarep) através de um dirigente deste complexo, também praticante de tiro. Antes, porém, experimentou outros empregos mais modestos como empregado de café, recepcionista de Hotel, empregado de comércio, etc.

O ritmo de vida agitado que o Rui levava na cidade era ciclicamente interrompido para as suas habituais caçadas no interior. Caçava nomeadamente crocodilos, cujas peles lhe garantiam um rendimento extra para as suas maiores extravagâncias, que incluíam bom automóvel, boas espingardas, viagens ao estrangeiro, etc.

O surgimento de uma nova política de conservação e exploração da fauna selvagem em Moçambique, em finais da década de cinquenta, levou à extinção da chamada caça utilitária, até então praticada com o fim de comercializar a carne, peles, marfim e outros troféus. Foram criadas coutadas oficiais e regulamentada a prática da caça turística, nascendo assim a indústria de safaris de caça no território. Alguns dos mais experimentados caçadores profissionais da época foram os pioneiros desta promissora actividade, juntando-se-lhes outros caçadores amadores que apenas praticavam a chamada caça desportiva. O Rui Quadros fazia parte destes últimos e pela mão do conhecido caçador Werner Alvensleben integrou a primeira equipa de caçadores guias da empresa Moçambique Safarilândia, concessionária das coutadas 4 e 5, situadas junto do rio Save. Tornou-se assim caçador-guia, em 1960, precisamente o primeiro ano de actividade desta promissora indústria em Moçambique. Dessa equipa faziam também parte experimentados caçadores como Harry Manners, Jorge Alves de Lima, Wally Johonson, Miguel Guerra, Afonso Ruiz, George Dedeck e Manuel Posser de Andrade. Outros caçadores vieram depois a integrar a mesma equipa, nomeadamente, Amadeu Peixe , Manuel Figueira, José Saraiva de Carvalho, Manuel Rodrigues, Lobão Tello e Sérgio Veiga.

O PRÍNCIPE DA SELVA

As coutadas 4 e 5, de entre as 16 criadas na altura, eram as que melhores condições reuniam para realização de safaris de caça, por albergarem grande quantidade e variedade de espécies de animais bravios. Os primeiros turistas que ali foram caçar, conhecedores das organizações de safaris de outros territórios africanos onde esta indústria há muitos anos vinha sendo praticada, pasmaram perante a genuína e até aí desconhecida potencialidade cinegética destas coutadas. Depressa isso se propagou no estrangeiro e a Moçambique Safarilândia passou a ser procurada por uma verdadeira plêiade de figuras do mundo da caça, oriundas nomeadamente dos Estados Unidos da América e de alguns países da Europa e da Ásia.

O Rui Quadros entrou assim nesse mundo, vestindo a pele de uma das personagens reais mais enaltecidas por muitos escritores ao longo de décadas, como heróis das mais arrojadas aventuras: o intrépido caçador africano - o white hunter ! Ele reunia um invulgar conjunto de condições que logo à partida lhe garantiram uma carreira de sucessos, nomeadamente: jovem e atleticamente bem constituído; experiente caçador e exímio atirador; conhecedor da fauna selvagem desde as pequenas às grandes espécies; bom domínio da língua inglesa e dos dialetos nativos; grande entusiasmo e dedicação pela profissão. Os seus feitos como caçador e condutor de safaris rapidamente foram divulgados, tornando-o muito conhecido e disputado pelos turistas caçadores.

Poucos caçadores guias moçambicanos alcançaram, na época, a fama do Rui Quadros! Passou a viajar pelos países de origem dos potenciais clientes, promovendo os safaris. Percorreu praticamente todos os países do continente Americano, grande parte da Europa, o Japão, Tailândia, Hong-Kong, Singapura, Austrália e uma boa parte dos países Africanos. Conheceu e privou com figuras da alta finança mundial, estrelas de cinema e escritores famosos que o convidavam para as suas mansões e quintas e para caçadas nos mais diferentes pontos do mundo. Caçou búfalos da Austrália, cabras do deserto do México, ursos do Alaska, veados e pumas da Argentina, javalis da Europa, onças e capivaras do Brasil e um sem número de espécies aladas, entre muitos outros animais, em toda a parte por onde viajou, enriquecendo assim a sua larga experiência africana.

Alguém apelidou estes bafejados personagens de "príncipes da selva"!


O "príncipe da selva" com uma caçadora de arco e flecha, junto de um excelente troféu (Impala), abatido nas coutadas do Save

O menino bonito das claques, o galã das admiradores e o delfim das equipas de tiro de stand, tornou-se ainda mais popular na cidade capital depois dos seus badalados sucessos como guia profissional de caça.
Considerado um ídolo e paradigma de uma profissão bonita e bem paga, muitos jovens da época, inspirados na sua fama, tentaram seguir a carreira deste caçador-guia. Contudo, poucos foram os que conseguiram firmar-se nesta profissão. Desses poucos, o exemplo mais flagrante foi o de Amadeu Peixe (2), seu conterrâneo e amigo, que, levado pela sua mão para a mesma empresa, em 1961, se tornaria também num competente profissional e um adversário sem igual na disputa de títulos na modalidade de tiro de stand. Ambos tiveram um percurso muito idêntico: conheceram o mundo do turismo cinegético como poucos; tiveram sucessos na caça, no tiro, nos campos desportivos e na caça submarina; viajaram pelo mundo; caçaram nos diversos quadrantes; hospedaram-se nos melhores hoteis das grandes capitais; foram convidados de personalidades famosas; proferiram palestras nos melhores clubes internacionais de caçadores; namoraram as mais lindas raparigas; tiveram os melhores automóveis da cidade!
Eles têm aptidões natas muito iguais, produto de uma vida paralela que os levou a todos esses famosos locais de Moçambique onde a fauna terrestre e marinha os atraiu e os tornou apaixonados profissionais da caça turística! Ao longo da vida conservam a velha amizade que os une desde miúdos e, já com a idade algo avançada, ambos voltaram, quase três décadas depois, à sua terra natal, para de novo encetarem um trabalho que revigore a sua grande paixão!


A célebre dupla de caçadores (Amadeu Peixe ao centro e Rui Quadros à direita), em Dezembro de 2002, posam numa foto com o autor (à esquerda), junto da lagoa artificial do projectado parque de caça em Marracuene, que o Rui Quadros dirige.

O Rui Quadros efectuou, ao longo da sua carreira, mais de 800 safaris de caça, quer em Moçambique, quer mais tarde noutros países africanos, nomeadamente A. do Sul, Angola, Gabão, Namíbia, Botswana, Zambia, Sudão e Camarões.

As mudanças políticas em Moçambique resultantes da sua independência, motivaram a suspensão da indústria dos safaris de caça neste novo país em 1975. A maioria dos caçadores guias procurou outros países africanos onde continuaram as suas actividades. A África do Sul, pela sua vizinhança com Moçambique e por ter excelentes condições para a caça, atraiu alguns desses profissionais. O Rui foi um deles, tendo desenvolvido um interessante projecto turístico, de caça e foto-safaris, numa concessão junto das reservas de caça do Unfolosi e Hluhluwe. Nesta Game Farm ele conheceu um novo período de sucessos sobretudo pelas caçadas aos rinocerontes brancos, uma das espécies da fauna africana mais raras e mais desejadas pelos caçadores turistas e que sómente na África do Sul poderia ser abatida porque era ali criada em reservas privadas e por estas vendidas aos promotores de safaris justamente para serem objecto de abate. Tornou-se assim um dos raros caçadores moçambicanos que averbaram no seu palmarés os "Big Five" (Elefante, Leão, Leopardo, Búfalo e Rinoceronte), assim designados por famosos caçadores da África anglófona e que ainda hoje constituem o sonho dos coleccionadores de troféus da fauna bravia deste continente.


A conhecida composição dos animais que representam os cinco grandes africanos


O Rui Quadros junto do maior dos "Big Five" (Elefante)
que abateu com um dos seus clientes em Moçambique, nos anos 60


Com um cliente, junto de um leão, troféu dos mais desejados pelos caçadores


Sendo embora o mais pequeno, o leopardo é o mais difícil e mais perigoso
dos animais dos "Big Five".
O Rui foi considerado dos caçadores mais exímios na caça desta espécie em Moçambique


O mais raro animal abatido em África - o Rinoceronte! Na época (década de 70)
só a África do Sul autorizava a sua caça e o Rui Quadros proporcionou belos exemplares,
como este (rinoceronte branco), aos seus clientes!

O agravamento da instabilidade política na África do Sul, nos primeiros anos da década de 80, devido à acção do ANC (Congresso Nacional Africano) de Nelson Mandela, acabaria por afectar também a indústria dos safaris de caça neste território. O Rui Quadros viu-se forçado a abandonar a sua organização, com prejuízos avultados. Manteve-se, contudo, activo como guia de caça e promotor de safaris, em territórios como Angola, Namíbia, Botswana, Zambia, Sudão e Camarões. Em cada um destes países os sucessos sucederam-se proporcionando aos seus clientes fabulosas caçadas e troféus dos animais mais representativos de cada região.
Manteve-se assim até à década de 90 e só os problemas internos, que de uma forma geral atingiram os países africanos e particularmente aqueles por onde andou, o afastaram definitivamente da sua apaixonada profissão.
Rumou para o Brasil, mas este grande país não possui a grande fauna que faz parte da sua paixão e à volta da qual desenvolveu desde novo a sua forma de vida. Muitos amigos à sua volta e constantes sucessos nos standes de tiro não o entusiasmaram a criar raízes neste grande país que tão bem recebeu muitos milhares de portugueses idos de Angola e Moçambique por altura da descolonização destes territórios.
Estava em moda, na altura, criar parques ou coutadas de caça, tanto na Europa como na América e o Rui virou-se para o país de origem dos seus progenitores. Em meados da década de 90 envolveu-se num projecto de uma coutada em Portugal, na região do Alentejo, onde outras experiências estavam em curso.
Também aqui, depois de alguns anos de muito trabalho e investimento, os resultados não foram famosos e acabaria por desistir.
Em Janeiro de 2000, vinte e seis anos depois de ter deixado a sua terra natal, o Rui Quadros regressou a Moçambique, levando consigo a esperança de voltar às actividades dos seus tempos áureos. Só que durante este lapso de tempo muita coisa aconteceu no país que alterou radicalmente toda a actividade da caça e da indústria dos safaris. Em primeiro lugar desapareceram os grandes núcleos de animais selvagens que tornaram Moçambique um dos países africanos mais importantes como atractivo dos caçadores turistas. Marromeu, Gorongosa, Chemba, Sena, Búzi, Save, Alto Limpopo e Tete, onde se localizavam as principais coutadas oficiais, parques e reservas, foram alvo de chacinas implacáveis durante a guerra civil de 1977 a 1992. Em algumas dessas regiões desapareceram completamente as principais espécies bravias de interesse cinegético.
Quando as autoridades moçambicanas se recompuserem do colapso dessa guerra, decorriam já dois anos depois do acordo de paz. Era tarde para se tomarem medidas pois nesses dois anos (1992/1994), a anarquia foi tal que os actos de vandalismo nos parques, reservas e coutadas foi ainda maior que o decorrente no período da guerra colonial e da guerra civil (1964/1992).
Retomadas as actividades cinegéticas, em meados da década de 90, os promotores de safaris defrontaram-se com a falta de animais e na maioria dos casos resultaram em autêntico fracasso as tentativas de recomeçar esta actividade nas coutadas que outrora foram famosas em quantidade e variedade de espécies. Por outro lado, desapareceram todas as infraestruturas que eram suporte dessa actividade.
Os novos exploradores desta indústria improvisaram o mais que puderam as suas concessões e a credibilidade dos safaris em Moçambique deixou muito a desejar, comparada com a fama que em tempos passados alcançou em todo o mundo.
A situação encontrada pelo Rui Quadros não lhe dava alternativa para um recomeço auspicioso e por mais tentativas que tenha feito não encontrou condições para voltar a exercer a sua apaixonada profissão.
Em Novembro de 2002 ali o fui encontrar, algo desengonçado pelo peso da idade, mas firme nos seus propósitos e muito entusiasmado num projecto de um parque de animais, mesmo às portas de Maputo. Um trabalho em que anda envolvido há mais de um ano e que se localiza em Marracuene, a 30 Km da capital, onde tudo está a ser feito de raiz: lagoas artificiais, vedações apropriadas, acessos, condutas de energia e acampamentos. Seguir-se-á a introdução dos animais a importar da vizinha África do Sul. Só uma vontade férrea e os conhecimentos profundos que ele tem poderão tornar possível este projecto cuja viabilidade económica talvez seja duvidosa mas que o investidor, o português Júlio Bonneville, acredita plenamente, na medida em que, segundo nos afirmou, conhece bem a capacidade de organização do Rui já revelada em projectos idênticos na África do Sul e em Portugal.


Um pequeno grupo de naturais e ex-residentes em Inhambane confraternizou em Maputo, em finais de Novembro de 2002
Da esquerda para a direita: o autor; Maria Júlia Barbosa (Bebé); Rui Nogueira;
Maria Virgínia Carvalho (Gina); Inês Guerreiro Leitão e Rui Quadros.


Um pequeno grupo de amigos num almoço em Maputo, em Janeiro de 2003,
na véspera do regresso a Portugal do autor (ao fundo). O Rui Quadros é o segundo da direita.

Marrabenta, Abril de 2003
Celestino Gonçalves