28 June 2007

19 - NOVO BLOG SOBRE O PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA









Da autoria de António Jorge Pinto da Silva (TóJó para os amigos), foi criado recentemente um novo Blog sobre o Parque Nacional da Gorongosa, o conhecido santuário de fauna Bravia de Moçambique que foi em tempos considerado o melhor de África.

Este excelente trabalho vem enriquecer sobremaneira a informação desenvolvida nos sites oficiais do Parque publicados pela Fundação Carr, instituição que desde 2005 tem a cargo a recuperação e desenvolvimento do mesmo. O autor é das poucas pessoas que conhece em profundidade o Parque e a sua história, visto que trabalhou na empresa SAFRIQUE que tinha a cargo a sua exploração turística durante o período que antecedeu a independência de Moçambique. Por outro lado, a sua formação profissional como jornalista, fotógrafo e técnico de turismo, permitiu-lhe, ao tempo, recolher excelente material, sendo detentor de uma das maiores colecções fotográficas relacionadas com os animais, pessoas e infraestruturas do mesmo Parque e de todas as coutadas de Manica e Sofala onde se praticava o turismo cinegético.

Felicitamos o amigo TóJó por esta iniciativa tão oportuna, que é mais mais uma fonte informativa com relevante interesse sobretudo quanto à história daquele que foi o local de trabalho de eleição durante a nossa carreira de fiscal de caça.

O Blog tem este endereço:http://gorongosa.blogspot.com/

Segue-se uma sequência dos trabalhos recentes publicados no Blog:

* * *

Sexta-feira, 15 de Junho de 2007

PORQUÊ ESTE ESPAÇO
Sempre fui um apaixonado pelos assuntos relacionados com a Natureza. Corre-me no sangue, desde criança, o exotismo das estepes africanas e dos animais selvagens que as habitam. As quentes cores to ocaso africano provocam em mim um poético sentimento misto de perda e de esperança.Assim, este espaço é especialmente dedicado a todos aqueles que, como eu, dão superior importância à problemática relacionada com a Natureza, e à sua preservação, bem como à protecção das espécies selvagens que ainda sobrevivem no imenso continente Africano, com especial interesse e carinho por Moçambique.Por tal motivo, é de toda a justiça dedicar uma parte generosa deste espaço, para enaltecer e dar a conhecer o excelente trabalho que tem vindo a ser levado a cabo na recuperação daquele que, em tempos, foi considerado o melhor e mais diversificado Parque Natural de Caça do planeta. Com efeito, aliado à imensa concentração de espécies em tão pouco espaço, o Parque Nacional da Gorongosa possui um ecossistema único, proveniente da sua magnífica morfologia do terreno e excepcional qualidade e beleza da flora ali existente.Graças à “Carr Foundation”, ao seu presidente Greg Carr e à equipe de profissionais competentes de diversos quadrantes que dirige, o Parque Nacional da Gorongosa está a renascer das cinzas, para bem todos nós, do povo Moçambicano e da sua economia. Por isso, serão aqui bem recebidos todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, são amantes da Natureza e são capazes de olhar o continente Africano de um modo muito especial: com ternura e confiança no futuro. São especialmente bem-vindos todos aqueles que possam contribuir com os seus conhecimentos e/ou experiências, de modo a ser possível enriquecer o conteúdo deste espaço. Aguardo, com alguma expectativa o vosso contributo. O meu sincero agradecimento.
Postado por António Jorge Pinto da Silva às 11:11 2 comentários Links para esta postagem
Sábado, 9 de Junho de 2007

A MAIS BELA CRIAÇÃO DA NATUREZA
Foi em 1921, quando uma áerea de cerca de 1.000 km2 foi delimitada para proteger algumas das espécies mais emblemáticas da fauna bravia ali existentes, que nasceu a área de protecção de caça da Gorongosa.
A sua enorme importância cedo começou a ser entendida.
Com sucessivos aumentos na delimitação da sua área protegida nos anos de 1935, 1960 e 1967, até atingir cerca de 3.000km2, o Parque começou a ganhar forma e inúmeros adeptos, amantes da Natureza.
A área viria a ser convertida em Parque Nacional no ano de 1960.
Os cerca de 5.000km2 de que hoje dispõe, foram oficialmente delimitadas e publicadas em 1967.A partir desse ano, o Parque viria a conhecer profundas melhorias, com a implementação de assinaláveis infra-estruturas tendentes a oferecer aos visitantes condições satisfatórias, no que respeita à sua estadia e circulação no interior do Parque.
Uma rede de picadas estrategicamente desenhada, percorria toda a área, possibilitando aos turistas o fácil acesso à observação de todas as numerosas e ricas espécies, de fauna e flora, de que o Parque dispunha. Das espécies existentes, devem destacar-se as enormes manadas de búfalos, elefantes e gnus.
A graciosidade das impalas, dos oribis, dos changos, e dos inhacosos, seduziam os visitantes.
Os majestosos kudus, as inhalas e as tucas eram espécies abundantes e muito apreciadas. Os numerosos grupos de leões constituiam o auge da visita, não sendo raro poderem ser observados grupos com mais de 30 elementos.
O enquadramento constituído por ricas florestas de palmeiras e de yellow fever tree, era magnífico.
Diversos lagos e lagoas emprestavam ao ambiente um subtil toque de paradisíaco exotismo.
No acampamento do Chitengo foram construídos acolhedores bungalows, dotados de energia electrica e de água corrente, que permitiam a todos os visitantes, que ali desejassem pernoitar, fazê-lo com toda a comodidade e descanso.Um primoroso restaurante, que servia refeições regionais a par de alguns pratos de cozinha internacional, ajudavam os turistas a retemperar forças para dar continuidade à "aventura".
Um bem recheado bar ajudava as gargantas mais sequiosas a combater os efeitos das altas temperaturas que, em certas alturas do ano, ali se faziam sentir. Para isso, existiam também as piscinas, abertas 24 horas por dia.
Uma visita ao Parque Nacional da Gorongosa constituía, em boa verdade, uma explêndida aventura e uma inesquecível experiência.
O parque Nacional da Gorongosa passou a ser conhecido internacionalmete, recebendo turistas de todos os continentes, em quantidades apreciáveis. Nos anos 70, foi atingida a cifra de 20.000 turistas por ano.
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2007


AS FUNESTAS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA CIVIL
O excepcional ecossistema que constitui o Parque Nacional da Gorongosa, bem como a enorme concentração de animais bravios por km2 que detinha, acabou por provocar enorme interesse a nível regional e internacional, tendo contribuído em escala razoável para o desenvolvimento social e económico de toda a região circundante.
Personagens importantes, de vários quadrantes, eram visitas assíduas do Parque contando-se, entre elas, astronautas, estrelas de cinema, etc. Mas, a partir de 1983 e até 1992, o Parque conheceu o mais negro e tenebroso período da sua história. Durante os nove anos que durou a guerra civil em Moçambique, foram infligidas ao Parque feridas profundas que serão difíceis, ou mesmo impossíveis, de cicatrizar.A fauna bravia foi quase completamente dizimada. Certas espécies foram mesmo extintas, deixando de ali serem vistas, até hoje. Outras espécies viram os seus efectivos drasticamente reduzidos, atingindo em certos casos, um desbaste igual ou superior a 90%.
A caça furtiva, a utilização de laços e outras armadilhas, a pesca intensiva, aliados à invasão do perímetro do Parque pelas populações locais, que aí construíram as suas aldeias, procedendo à plantação de espécies nocivas ao frágil equilíbrio do ecossistema existente, provocaram uma verdadeira tragédia difícil de remediar.Várias gerações serão necessárias para que a Natureza se encarregue de minimizar os estragos então provocados.
O acampamento do Chitengo foi parcialmente destruído e completamente saqueado, havendo construções que ficaram reduzidas a montes de escombros, numa acção de vandalismo difícil de entender. Nem mesmo o “Hippo-Bar”, situado junto à lagoa do rio Urema, onde proliferavam os hipopótamos e os crocodilos, foi poupado.Dele, restaram apenas os pilares e algumas paredes.
A paz chegou em 1992, mas só em 1995 se voltou a cuidar do Parque, recorrendo-se a um programa de emergência financiado pela União Europeia que, para além da criação de um grupo de seis dezenas de guardas florestais e da recuperação de algumas construções no acampamento do Chitengo, nada mais digno de nota conseguiu fazer. Foi nesta situação de verdadeira catástrofe que Greg Carr conheceu, e cedo se apaixonou pelo exotismo do Parque Nacional da Gorongosa, bem como pelas suas áreas adjacentes.
Fotografias de Maurice Ronet e Hippo Bar gentilmente cedidas pelo Dr. Albano Cortez.
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Quinta-feira, 7 de Junho de 2007

A FUNDAÇÃO CARR E O RENASCER DA GORONGOSA
GREG CARR
Formado na Universidade de Harvard nos anos 80, Greg Carr desde logo se começou a interessar pelas tecnologias de informação. Em 1987, Greg Carr fundou, em parceria com um Engenheiro formado pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma empresa ligada à manufactura de equipamento para telecomunicações, a Boston Technology.A partir de 1995, a sua paixão pelos direitos humanos, levou-o a dirigir os benefícios da sua florescente indústria, a favor da implementação de diversos programas relacionados com os direitos humanos, em diversas partes do globo. Greg Carr, presidente da “Prodigy, Inc.”, que adquiriu à IBM e à Sears em 1996 e encabeçou também a “Africa Online”, é um activista convicto em prol dos direitos humanos. No ano de 1998, renunciou a todos os cargos que detinha e vendou mesmo as participações das empresas de que fazia parte.
Para dar corpo às suas generosas e filantrópicas iniciativas, um pouco por todo o mundo, criou em 1999, a “Carr Foundation” que se iria dedicar ao apoio intransigente dos direitos humanos, educação e cultura. Daí até se interessar por Moçambique, foi um passo.Agora, com 46 anos, Greg Carr assinou um memorando de intenções com o Governo Moçambicano. O memorando, assinado em 2004, vai permitir a Greg Carr cuidar da Natureza, promover os direitos humanos, a educação e a cultura.As próprias palavras de Greg Carr, quando afirma: “temos de planear a nossa intervenção em várias fases: conservação, sócio-económica e turística. Este projecto motivou-me porque é uma combinação entre uma acção de protecção da Natureza e um projecto de desenvolvimento económico. Trata-se de usar a beleza do ecossistema para combater a pobreza”, dizem tudo.Em boa verdade, o projecto de Greg Carr não se limita à recuperação, manutenção e repovoamento do Parque Nacional da Gorongosa. Estão também no seu horizonte a melhoria das condições de vida das populações locais, de modo a que façam parte integrante do ambicioso projecto.Cerca de 20% dos resultados relativos à exploração do Parque, serão canalizadas para ajuda às populações, mediante captação de água potável. A construção de infra-estruturas ligadas à saúde e à educação, completam os seus propósitos.
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SAFARI FOTOGRÁFICO NA GORONGOSA - ANOS 60
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Acerca de mim

António Jorge Pinto da Silva
Porto, PT
Trabalhou no Diário de Moçambique, Notícias da Beira e Revista Tempo. Foi colaborador da SAFRIQUE - Sociedade de Safaris de Moçambique e da Safarilândia (Agência de Turismo de Moçambique. Regressou a Portugal em 1976. Nos anos 80, a convite do Governo Moçambicano fez parte de um grupo de três elementos a quem foi confiada a tarefa de efectuar um exaustivo levantamento das potencialidades turísticas do País. Foi produzido um completo dossier, então entregue ao Exmo. Sr. Arquitecto Mário Trindade, Secretário de Estado do Turismo à data. Desempenha hoje funções de Director Técnico de Turismo na cidade do Porto. Ver o meu perfil completo

O autor do Blog


* * *
Marrabenta, Junho de 2007


Celestino Gonçalves

25 June 2007

18 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE



(5)

Título
GORONGOSA
(Experiências de um caçador de imagens)
Autor
João Augusto Silva
Editora: Empresa Moderna – Lourenço Marques
Ano: 1964

O autor em 1964





O autor em duas atitudes atrevidas que revelam o seu conhecimento sobre as reacções dos elefantes (Fotos do livro GORONGOSA)



1 - NOTAS SOBRE O AUTOR

Referenciado no post anterior como autor do livro ANIMAIS SELVAGENS, João Augusto Silva é trazido de novo a este cantinho para apresentarmos a sua segunda obra – GORONGOSA -, publicada em 1964, oito anos depois da primeira.
Este novo trabalho tem o estilo inconfundível do escritor-caçador-fotógrafo, que brindou Moçambique com dois dos melhores trabalhos àcerca da sua fauna selvagem, a primeira sub-titulada de “Contribuição para o estudo da fauna de Moçambique” e a segunda rotulada de “Experiências de um caçador de imagens”.
Na verdade, uma obra completa a outra, porque tratando-se de um entusiasta e estudioso da vida selvagem, o autor era também um amante da caça e um excelente fotógrafo. Na primeira fez sobressair os seus dotes de caçador. Já na segunda está patente a sua veia artística com um excelente documentário fotográfico mostrando os mais significativos representantes da fauna do Parque na sua pujança de vida como bem os conhecemos naquela época.
Também demonstrou neste livro, nas narrativas e em algumas das imagens, o seu à vontade perante os mais corpulentos e perigosos animais, como o elefante e o búfalo, fotografando-os e fazendo-se fotografar a curta distância e até desafiando-os com gestos atrevidos e sem arma. Isto para justificar a tese (dele e de todos os naturalistas conhecedores da fauna africana) de que os animais selvagens, sejam de pequeno ou grande porte, temem e respeitam o homem.

Conheci João Augusto Silva em 1963, precisamente no Parque Nacional da Gorongosa, quando a sua base de actividades era já em Lourenço Marques. O facto de estar a preparar o livro GORONGOSA, levava-o a visitar o Parque com alguma frequência. Sentia-se ali perfeitamente à vontade, quer por conhecer em profundidade toda a região, quer pela forma como era recebido pelos funcionários que o tratavam com a reverência a que se habituaram em anos anteriores quando ele era o administrador de Vila Paiva de Andrade (actual vila de Gorongosa) e acumulava a direcção do Parque.

Naturalmente que o autor encontrou ali todas as facilidades, inclusive para recolher o material que lhe faltava para o “Gorongosa” e eu próprio também dei a minha modesta colaboração. Aproveitei as oportunidades que se depararam para abordar as questões mais dúbias que sempre pairam na cabeça de quem nunca sabe tudo. Foi assim que as nossas conversas conduziram a temas em que os meus conhecimentos puderam sustentar alguns diálogos com o mestre, nomeadamente a situação da fauna bravia de Cabo Delgado e Niassa (Alto Niassa do seu tempo), região que ambos conhecemos relativamente bem por ali termos prestado serviço, ele na década de 40 e eu na de 50/60.

Falámos da falta de uma política de conservação em relação às espécies mais apetecidas pelo comércio dos troféus, como é o caso do elefante e do rinoceronte. Ambos estivemos de acordo quanto à necessidade de uma reserva especial para protecção do rinoceronte em Cabo Delgado, visto que esta espécie ainda se encontrava ali bem representada mas que vinha sendo já alvo da cobiça dos caçadores furtivos incentivados por redes de tráfico dos respectivos cornos. Aliás, a ideia desta reserva já a tinha lançado nos meus relatórios anuais de 1958 e 1961, justificada plenamente visto que aquela região do norte de Moçambique albergava, na época, muitas centenas - provavelmente milhares - de rinocerontes, localizados em núcleos que identifiquei em dez zonas diferentes do distrito (actual província). A reserva, contudo, nunca foi criada!

O curso dos acontecimentos dos anos que se seguiram até 1992 veio dar-nos razão: os rinocerontes desapareceram, provavelmente até à extinção, tanto no norte como no centro e sul do país.

2 - NOTAS SOBRE O LIVRO

Porque se trata de um dos livros mais bem escritos e documentados sobre o Parque Nacional da Gorongosa, o mais importante de Moçambique e considerado até 1975 dos mais importantes de África, não posso deixar de reproduzir aqui o trecho de abertura do capítulo “Vagueando pelos caminhos do Parque”, ciente de que na actualidade e graças ao grande projecto de recuperação ali em curso pela Fundação Carr, desde 2005, os visitantes poderão saborear os prazeres daquele maravilhoso Parque e viver as emoções que o autor aqui nos transmite. As espécies continuam ali todas representadas (excepção do rinoceronte), algumas mesmo em excelente recuperação, pese embora o grande desfalque dos efectivos ali ocorrido durante a guerra civil (1977/1992). O acampamento do Chitengo foi já restaurado de forma a receber turistas e as vias de comunicação restabelecidas de forma a nelas poderem circular viaturas normais conduzidas pelos próprios visitantes. Apenas não se podem ver, por enquanto, as excepcionais manadas de búfalos, bois-cavalos e zebras, como outrora, mas a seu tempo elas serão recompostas conforme planos de reintrodução destas e de outras espécies já em execução pelo mesmo projecto.


* * *


“Estamos no Chitengo, centro dos serviços do Parque e acampamento para turistas. Vários pavilhões de construção simples mas cuidada proporcionam o indispensável conforto a quem deseja passar alguns dias de férias no maravilhoso reino dos animais selvagens. No bar ou na esplanada acolhedora, sob as copas protectoras de acácias amarelas, tomam-se refrescos e aperitivos. O restaurante, amplo e alegre, serve reconfortantes refeições e deliciosos vinhos das melhores refeições da Metrópole.
Ao cair da noite a luz eléctrica ilumina a jorros a cidadezinha-acampamento, ilha de luz no mar escuro e misterioso da floresta.
Corre uma aragem fresca. Sabe bem deambular no terreiro sob a ampla abóbada de um céu reluzente de estrelas, enquanto à roda do acampamento as hienas quebram o silêncio da noite com o seu uivo dolorido. Formam-se diversos grupos de turistas. Fala-se de caça e dos mistérios absorventes do sertão. Os novatos inquirem curiosos sobre os melhores caminhos a percorrer no dia seguinte para ver os elefantes, os búfalos, os leões… Os veteranos, com ar entendido, prestam esclarecimentos, sugerem itinerários e contam histórias – histórias que parecem fábulas – de encontros com manadas de dezenas de elefantes, de mil búfalos, de imensas hordas de bois-cavalos, de leões tão confiantes que se deixam estar, indiferentes à passagem dos carros, olhando desdenhosos. As histórias parecem incríveis e provocam assombro ou cepticismo.
Chegou a altura de recolher para dormir um sono reparador. Assaltam-nos a mente sonhos quiméricos; em cavalgadas alucinantes desfilam monstruosos animais bravios.
De madrugada toda a gente está de pé. O acampamento tornou-se arraial buliçoso e alegre. Os preparativos da partida para o mato fazem-se afanosamente por entre risos. Depois do pequeno almoço tomado à pressa tem início a debandada dos automóveis.
Logo ao fundo do campo de aviação começa a exibir-se o primeiro episódio do filme natural da selva – um filme a três dimensões, maravilhoso de cor, palpitante de realismo, que aparelho algum jamais reproduzirá com fidelidade.
Uma manada de gondongas desgraciosas espreita-nos com visível curiosidade. Duas crias brincam estouvadas. Aparecem algumas zebras gordas, de pele lustrosa como cetim. Uma centena de metros adiante o condutor pára o carro com suavidade…
- Há alguma novidade?
- Os elefantes!!!
Lá estão eles à direita, à distância de uma pedrada, passeando pachorrentamente. De quando em quando um deles detém-se, ergue a tromba para arrancar um raminho tenro no alto de uma acácia espinhosa e leva-o à boca torcendo a tromba com a mobilidade das serpentes.
O carro está parado e todos os seus ocupantes olham respeitosos o quadro invulgar.
Ali, diante de nós, desenrola-se como por encanto a cena autêntica, de um mundo perdido no fundo dos tempos. Volvemos de súbito às mais remotas eras! Aqueles monstros antediluvianos, no seu próprio ambiente, enquadrados por uma paisagem singular de palmeiras de leque, grotescas eufórbias, agressivas espinheiras, trazem-nos à memória, não sei se por misterioso atavismo, um mundo do qual conservamos reminiscências confusas na escuridão do subconsciente.
Aproxima-se um carro. Os seus ruidosos ocupantes rindo e gritando, destroem a deliciosa paz desse mundo edénico e os elefantes, com a humilde timidez dos fortes, internam-se vagarosamente na floresta. E a viagem prossegue.
Aqui e acolá, em charcos lamacentos, retoiçam javalis que olham o carro muito sérios ou fogem com a cauda espetada em pau-de-bandeira.
Passam zebras, bois-cavalos, cobos de crescente e novamente, e a cada momento, mais zebras, mais bois-cavalos, mais cobos. Estamos prestes a desembocar num outra picada à nossa frente. Aparece-nos então um soberbo elefante. É um gigante de perfeita e bem modelada anatomia. As presas irrompem-lhe do maxilar superior longas, grossas, muito brancas. Sentiu o carro. Divisou-lhe possivelmente o vulto com os seus olhitos de míope, mas como a aragem corre dele para nós, o olfacto não lhe desvenda a identidade dos intrusos e por isso o rei da selva continua o seu passeio, displicente e majestoso nos gestos, com a segurança de quem não conhece rivais e só respeita o homem.
Entramos na picada que conduz ao acampamento velho, agora transformado em solar dos leões. Estão todos ansiosos por verem o falso rei dos animais gozando plena liberdade no seu reino. Diante de nós, no meio da vasta planície desarborizada, erguem-se quatro albergues em alvenaria de tijolo, um refeitório e duas cozinhas que constituem o velho acampamento abandonado porque na época das chuvas o rio transborda sobre a planície e as águas invadem as casas e sobem até às janelas.
Nem um leão!... já é pouca sorte!
Ninguém esconde o seu desapontamento.
De súbito surge à porta de uma das cozinhas uma jovem leoa. Todos olham emocionados. A leoa queda-se uns momentos indecisa e por fim sai a passo, sentando-se no relvado a olhar-nos. Dirigimos o carro para as traseiras do acampamento. Um dos edifícios tem sentinelas à porta; uma leoa, certamente grávida, e um leão de musculatura atlética e juba pouco desenvolvida.
Da outra cozinha, mais ao fundo, sai então o patriarca do bando, um macho possante, enorme, com os músculos a desenharem-se através da pele coberta de pêlo amarelo torrado. A juba negra, farta e em desalinho emoldura-lhe a face austera onde brilham dois olhos claros de transparência vítrea. Está calor e o bicho, bamboleando no seu andar de marujo, vai estirar-se à sombra de um pequeno arbusto, olhando-nos de soslaio. Abre a boca, caverna rósea onde a comprida língua serpenteia no meio de acerados caninos muito brancos. Sensível ao calor põe-se a arfar como um caãozito fatigado.
………………………………………………………………………………………….....
Continuamos a viagem. À nossa esquerda estende-se o tando – vasta planura de límpida esmeralda, tendo por pano de fundo, em cenografia ciclópica, a serra da Gorongosa pintada de azul e de lilás.
A estrada corre sinuosa na orla da mata, desvendando-nos um panorama surpreendente. Dum lado, a mata de espinheiras anãs, árvores da febre cujas flores enchem os ares com o seu perfume adocicado e palmeiras de marfim vegetal que desenham no azul do céu a graça heráldica das suas palmas em forma de leque. Do outro lado, estende-se o mar sereno da planície coberta de caça. Até onde a vista alcança vêem-se animais selvagens no mais completo à-vontade. Defendidos da ferocidade dos homens só o leão os preocupa; mas esse apenas mata para viver.
Parámos à sombra de uma acácia, para almoçar. Daí a momentos desenrola-se à nossa vista uma cena portentosa: um leão sai da espessura de uma moita e dirige-se, cauteloso, para a orla do tando. Em campo aberto pastam zebras, bois-cavalos e impalas. O leão, um jovem de pequena juba, a coberto de um tufo de arbustos, espreita com visível atenção como se avaliasse a situação e estudasse um plano de ataque. Por fim, rastejando com as cautelas do ladrão que receia ser surpreendido, vai-se aproximando a coberto das palmeiras anãs. Estaca. Já não pode adiantar mais um passo sem se denunciar. As zebras, as impalas, os bois-cavalos, ainda que descuidosos na aparência, não ignoram que os cerca um mundo de embustes e traições. Por isso mantêm-se em campo raso enquanto um ou outro varre o descampado com a sua vista penetrante. O leão achou que mais lhe conviria tentar a fortuna esperando a coberto das palmeiras anãs… E teve sorte o bandido! Em certa altura, duas zebras tomadas de brio, brincando com o desatino dos namorados, aproximaram-se em corridinhas caprichosas. Daí em diante tudo se passou num abrir e fechar de olhos.
Com a rapidez com que o raio derruba uma árvore assim o leão tombou fulminantemente sobre uma das zebras partindo-lhe a coluna vertebral de um só golpe. A vítima rebolou no chão levantando uma nuvem de poeira e o agressou voltou de pronto, cravando-lhe os dentes no pescoço musculoso. Com os caninos enterrados na carne fremente o leão ergueu a zebra, ligeiro como um gato levando um rato, e arrastou-a para a sombra fresca duma ocanheira. Ali, muito à vontade, abriu-lhe o ventre e ébrio de gozo, embrenhou o focinho nas entranhas de onde o sangue borbotava aos sacões.
…………………………………………………………………………………………….
E a caravana prossegue entusiasmada com mais este episódio vivo e dramático do livro da selva.
Ao longo de toda a picada, do lado do tando, as manadas sucedem-se a perder de vista. Marchamos agora em direcção ao rio Urema – a mansão dos hipopótamos.
Predominam, os cobos de crescente, as zebras, os bois-cavalos, as impalas.
……………………………………………………………………………………………
Ao fundo, muito longe, estende-se uma fita comprida de animais que pelo efeito da miragem, comum nestas planuras sobre-aquecidas, parecem vaguear suspensos sobre um lago irreal prateado. A cena causa admiração e entusiasmo àqueles que nunca haviam presenciado o estranho fenómeno.
…………………………………………………………………………………………….
Avistam-se hipopótamos pastando como toiros nas lezírias. À vista do carro movimentam-se e correm para o rio em fila indiana, O carro aproxima-se e os volumosos paquidermes, para espanto de quem os supunha pesados e lentos, largam em corrida célere e mergulham nas águas, fragorosamente.
Fazemos alto à beirinha do rio. Bem perto de nós, boiando nas águas lodosas, agita-se uma massa compacta de hipopótamos, talvez duas centenas. Mas tão longe quanto a vista alcança, sucedem-se manchas de hipopótamos, verdadeiros cardumes ao longo do rio sinuoso que, batido de chapa pelo sol, lembra uma larga fita de aço inoxidável desdobrada na verdura da planície.
…………………………………………………………………………………………….
Depois destes momentos tão bem passados, ricos de acontecimentos e imprevistos, abalamos de regresso ao acampamento.
Sobre o lugar onde deixáramos o leão com a presa volteiam abutres. Dirigimo-nos para lá. À chegada do carro os abutres que estavam poisados, banqueteando-se sofregamente, levantam voo e protestam riscando os ares calmos com o seu piar sinistro.
Aproximam-se dois chacais prateados e logo a seguir à primeira curva depara-se-nos uma hiena farejando os ares.
O acampamento está cheio de turistas. Trocam-se impressões animadamente. Cada um conta entusiasmado as cenas que presenciou, duvidando que outros tenham assistido a maravilhas semelhantes.
No dia seguinte abalamos em busca de novas aventuras.”

* * *

NOTA: Mais informações sobre a história e a situação actual do Parque Nacional da Gorongosa, podem ser recolhidas nos sites:


-
http://www.gorongosa.net/index_por.html
- http://my.gorongosa.net/

Marrabenta, Junho de 2007


21 June 2007

17 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE





(4)





Título: ANIMAIS SELVAGEMS



Contribuição para o estudo da fauna de Moçambique
Autor: João Augusto Silva



Editora: Imprensa Nacional de Moçambique



Ano: 1956





O autor junto de um elefante que abateu no Niassa na década de 40



(foto extraída do livro)





1.- DADOS SOBRE O AUTOR




Funcionário do quadro administrativo colonial, João Augusto Silva fez a maior parte da sua carreira em Moçambique (décadas de 40, 50 e 60), tendo ali atingido o cargo superior de inspector. Como administrador de circunscrição, esteve colocado em vários pontos do território, incluindo a Gorongosa cujo Parque Nacional dirigiu por acumulação e sobre o qual publicou o excelente livro-álbum, "GORONGOSA - Experiências de um caçador de imagens" , que publicaremos no próximo post.

Os dados biográficos deste personagem revelam possuir uma rara formação académica e profissional, abarcando títulos invejáveis como: escritor, artista (pintura, fotografia e desenho), administrador e naturalista.Dedicou-se muito particularmente ao estudo da fauna bravia africana, sobretudo de Moçambique. Aquelas duas obras são o testemunho disso pois constituem documentos importantes que preencheram, ao tempo da sua publicação, lacunas importantes na literatura deste ramo e ainda hoje são consideradas das melhores do país.


João Augusto Silva, para além de estudioso da vida selvagem foi um excelente caçador, tornando-se muito conhecido não só pelas narrativas dos seus feitos, mas também pela acção que desenvolvia junto das populações rurais, abatendo os animais bravios que invadiam as suas culturas ou atacavam as próprias pessoas. Elefantes, búfalos, rinocerontes, hipopótamos e leões, constam da longa lista dos seus abates da chamada "caça grossa". Ele praticava a caça como sendo mais uma actividade inerente às suas funções administrativas e foi justamente esta prática que lhe proporcionou o estudo do comportamento das espécies no seu estado selvagem, deixando-nos um importante legado nesta matéria.
Na parte final da sua carreira em Moçambique, organizou e dirigiu um programa radiofónico - A VOZ DE MOÇAMBIQUE - nas principais línguas locais, que se tornou um sucesso em todo o território.





2.- DADOS SOBRE O LIVRO




Antes da publicação do "ANIMAIS SELVAGENS", em 1956, pouco fora escrito, em português, sobre a fauna bravia de Moçambique. A lacuna foi colmatada com esta preciosa obra graças à feliz circunstância do seu autor residir em Moçambique, ser um entusiasta da caça, um estudioso da vida selvagem e também escritor. O Governo da Colónia soube aproveitar a oportunidade e mandou publicar este excelente trabalho que surgiu numa altura da minha vida em que estava muito carente de conhecimentos da matéria.
Com efeito, nessa altura havia já concorrido ao lugar de fiscal de caça e aguardava a nomeação (confirmada em Janeiro de 1957), mas francamente pouco sabia sobre o panorama faunístico do território e muito particularmente dos hábitos dos animais. Esta obra ajudou-me imenso nos conhecimentos teóricos que adicionei à relativa prática de pouco mais de um ano de contacto com a vida bravia no Alto Limpopo, onde me apaixonei pela causa da protecção deste importante património da natureza.




A extensa “Introdução” deste livro, só por si, constitui uma valiosa lição sobre a vida animal selvagem do continente africano, com algumas extensões comparativas a outros continentes. Não encontrei, até hoje, em qualquer dos muitos livros da matéria que li, uma síntese tão completa e uma descrição tão encantadora sobre a fauna bravia e o seu habitat.


O conteúdo em si, a que o autor classificou de "Contribuição para o estudo da fauna de Moçambique", é todo um desfiar de narrativas de factos, através das quais se dá conta de como vivem e reagem os animais selvagens perante a interferência dos humanos e muito particularmente dos caçadores que os perseguem e abatem. Espécies como: Elefantes, Rinocerontes, Hipopótamos, Búfalos, Girafas, Elandes, Bois-cavalo, Egoceros (palapalas), Cudos, Inhalas e Impalas, foram objecto de análise pormenorizada, mas a que mereceu maior desenvolvimento foi o Elefante, o gigantesco e incontestável rei dos sertões, assim definido pelo autor que acrescentou:




No seu ambiente natural, o elefante – animal soberbo, ágil, fortíssimo, majestoso – assombra pela força bruta aliada a uma clara inteligência. Ele é um dos animais cujo tipo de inteligência mais se aproxima do nosso.




Uma vasta colecção de fotos e desenhos daqueles animais ilustra essas narrativas, não obstante algumas imagens serem de animais mortos que podem impressionar as pessoas menos preparadas para entender o desporto dito de mais nobre e viril!
Uma lista dos ungulados de Moçambique completa esta obra, conferindo-lhe carácter científico que mais a valoriza visto que ali podemos encontrar a classificação sistemática das espécies segundo as convenções internacionais (Ordem, Sub-ordem, Divisão, Família, Sub-família e Género). Na nomenclatura comum destas espécies os nomes aparecem em português, inglês, francês e línguas (dialectos) locais como Tonga, Macua e Suahili, outro aspecto importante da mesma obra.




Embora seja em relação ao elefante que o autor mais escreveu e todas as narrativas nos encantem, escolhemos contudo um trecho do texto de abertura do capítulo “RINOCERONTE”, porque raros foram os caçadores que tiveram o privilégio de caçar e narrar com semelhante realidade e sentido poético o cenário como aqui é descrito por João Augusto Silva:




Paira em toda a largura do sertão o silêncio das grandes solidões do mundo. Parece que a vida estagnou. Espinhosas retorcidas, nuas, quedam-se tristes, batidas por um bafo de fornalha que queima como ferro em brasa. A grandes espaços, uma ave que não se vê ousa soltar um canto monótono – gemido prolongado que vai morrer ao longe, lentamente. As queimadas lamberam a terra e as árvores com ardente sofreguidão, deixando por toda a parte um manto cinzento-negro de ruína. Secou a água nos pântanos e o lodo, causticado pela febre do sol, greta como os lábios de um doente.
O homem não vive por ali, nem visita essas paragens, porque o homem tem horror ao silêncio.
E, contudo, ali vivem os grandes gigantes da fauna africana.
Por essas solidões ardentes passeia melancólico o rinoceronte, dando largas à sua psicose de inadaptado. Ele não é um vagabundo como o elefante. Bem ao contrário. Esse estranho paquiderme é um burguês rotineiro e sedentário.
…………………………………………………………………………………………………………………………..
Por esses matos fora nunca lograreis encontrar um elefante, um búfalo ou um antílope dormindo a sono solto. Mas ao rinoceronte podeis surpreendê-lo dormindo pesadamente, alheio a tudo. E quando ressona fundo, sem dar conta de nada, como se ainda vivesse noutras eras, nas profundezas do Quaternário, quando o homem não passava de um tímido antropóide, impotente para lutar com as grandes feras.
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Rinoceronte - desenho do autor que ilustra o capítulo dedicado a este paquiderme

* * *


Um livro que enriquece a biblioteca não só dos apaixonados pela caça, como dos amantes da natureza e da vida do mato, tão belas são as narrativas das experiências vividas pelo autor.

Marrabenta, Junho de 2007








20 June 2007

16 - RECORDANDO OS CAÇADORES GUIAS DA ÉPOCA DE OURO DOS SAFARIS EM MOÇAMBIQUE

(5)

José Pedro Afonso Ruiz

Um dos maiores caçadores de elefantes de Moçambique

Nascido em Lourenço Marques (actual Maputo) em 1921, filho de pai espanhol e de mãe portuguesa, o JOSÉ RUIZ desde miúdo que se apaixonou pela caça, um passatempo que na época entusiasmava a maioria dos jovens da cidade capital de Moçambique, visto que à sua volta, onde hoje existem os bairros da Carreira de Tiro, Summer-shield, Malhangalene, Aeroporto, Mahotas e Benfica, abundavam espécies bravias, como lebres, cabritos, perdizes, gansos, patos e toda uma infinidade de aves ! Era ali que se iniciavam aqueles que sonhavam com o interior e com as aventuras da caça grossa ! O Ruiz foi dos que, muito jovem ainda, se aventurou nessas andanças. Primeiro nas caçadas de fim de semana nas regiões circunvizinhas de Marracuene, da Manhiça, da Moamba, do Sábiè, de Changalane, de Catuane, do Maputo (Bela Vista), de Magude e outras zonas onde era relativamente fácil encontrar muitas e variadas espécies, desde os pequenos Chenganes (cabritos da floresta), aos grandes elefantes, passando pelos hipopótamos, búfalos, cudos, gnús, inhalas, impalas, zebras, leões, leopardos, etc,.

Tornou-se caçador profissional aos vinte anos, dedicando-se inicialmente ao abate de hipopótamos nos rios Incomáti e Maputo, animais estes que, tal como os elefantes, até à década de 50, eram considerados daninhos para a agricultura e como tal de caça livre fora dos Parques e Reservas. Destas regiões transitou para as províncias de Gaza e Inhambane, caçando sobretudo elefantes a sul do rio Save e Alto Limpopo até 1949.

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A capacidade profissional de alguns dos caçadores que, como o José Ruiz, abraçaram a indústria do turismo cinegético, depressa deu os seus frutos. Passaram a ser conhecidos no mundo da caça e transportaram o nome de Moçambique para a ribalta dos meios da alta finança, que até ali só conhecia o Quénia, a Tanganhica e um ou outro território africano onde há muitos anos eram efectuados os safaris de caça.

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No apogeu da sua carreira, em meados da década de 60, o seu nome aparecia com frequência nas revistas da especialidade, com relatos dos seus feitos como caçador de elefantes e caçador-guia. Um “White Hunter” muito justamente comparado a famosos caçadores que em épocas anteriores actuaram nas ex-colónias inglesas de África , nomeadamente os célebres Frederick Selous, John Hunter, Allan Black, Bill Judd, Fritz Schindelar, Leslie Simpson e o fantástico “Karamojo Bell” – o único caçador de elefantes que usava uma arma ligeira de calibre .256 para abater estes paquidermes!

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A vida dura que levou quando em campanha no mato, durante muitos anos e a privação de muitas coisas essenciais para a manutenção da saúde, desde os géneros de alimentação aos medicamentos, trouxeram-lhe consequências graves. Contraiu uma doença pulmonar que se agravou ao longo dos últimos anos e veio a falecer em 1971, com apenas 50 anos de idade!

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NOTA: A foto e texto acima fazem parte do Álbum de Recordações nº 5, publicado em 2001 na HP onde pode ser vista a biografia mais completa do caçador Afonso Ruiz. AQUI:

Marrabenta, Junho de 2007


19 June 2007

15 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE

(3)



Título:

DA VIDA E DA MORTE DOS BICHOS - Narrativas de Caça



Autor: Henrique Galvão

Ano: 1946



Editor: Livraria Popular de Francisco Franco - Lisboa





Este é o quinto e último volume (extra-série) da obra "Da Vida e da Morte dos Bichos", que Henrique Galvão iniciou em 1934 e terminou em 1946. Uma obra de grande sucesso, sucessivamente reeditada, que teve a colaboração de dois grandes caçadores angolanos, Abel Pratas e Teodósio Cabral, este último também fiscal de caça e que em meados da década de 40 foi viver para Moçambique onde (na Província da Zambézia) continuou a dedicar-se à caça profissional até ao fim da sua vida.


Sendo a maior parte das obras sobre fauna bravia, caça e caçadores, de H.G. , referentes aos animais, pessoas e territórios de Angola, onde aliás viveu muitos anos e desempenhou altos cargos na administração pública, ele dedicou neste último volume algumas narrativas de factos ocorridos em Moçambique, que visitou por várias vezes como funcionário superior do Ministério das Colónias e onde caçou, sobretudo elefantes, a espécie bravia que mais o atraía como adepto fervoroso da caça caça grossa em África.

Da meia dúzia de histórias ocorridas em Moçambique que são narradas pelo autor neste volume V, saliento aquela que me despertou maior atenção, justamente por envolver uma caçada de alto risco aos elefantes e nela terem participado Henrique Galvão e o seu amigo e colaborador Teodósio Cabral, dois grandes mestres da caça e extraordinários conhecedores da vida selvagem africana.

Alguns trechos que a seguir reproduzo, ajudam a entender a preferência desta história por quem, como eu, muito admira os seus protagonistas, pessoas que, pelo que fizeram e escreveram, muito me infuenciaram a enveredar por uma carreira que me levou a viver, em certa medida, uma vida idêntica à deles, cheia de emoções! Por outro lado, também o facto da história narrada ter acontecido em Moçambique, em plena Zambézia, em local que bastas vezes atravessei no exercício das minhas funções, merece a distinção que aqui lhe dedido:

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Moçambique é colónia de muitos elefantes - e, especialmente: colónia onde se encontram elefantes, mais ou menos, em toda a parte, de Norte a Sul.

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Pensava o governo da colónia resolver a situação, por meio de um incitamento aos caçadores para perseguirem os elefantes. E com esse propósito libertou de todas as restrições a caça ao elefante, dispensando-a das licenças caras que até então a embaraçavam.

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Enfim: os elefantes andavam em Moçambique, nesse ano de 1945, não só muito dispersos, como também pouco cómodos.

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Tinha-me encontrado com Teodósio Cabral no posto de Naburi, da circunscrição de Pebane. O prazer do encontro devia naturalmente completar-se com o prazer de voltarmos a caçar juntos - e menos pela caçada do que pelo pretexto para evocarmos outras caçadas realizadas em melhores idades e épocas da nossa vida.

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De passagem por Chaláua - ia eu já a caminho de Nampula e Teodósio Cabral acompanhava-me até esse posto, onde nos devíamos despedir - tivemos notícia das destruições que os elefantes andavam fazendo nas machambas do regulado Gelo.

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Era afinal o melhor pretexto para a caçada. Nem seria humano passar adiante sem prestar aos indígenas o auxílio solicitado.

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De uma machamba, distante três ou quatro quilómetros, romperam gritos e latadas. Evidentemente, os elefantes andavam por lá.

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A mata, não sendo das mais cerradas, não era todavia aberta. ..... O terreno era levemente ondulado - e nenhum de nós sabia dos acidentes que havia para diante, pois o pisávamos pela primeira vez.

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Avançámos nós, enquanto os pretos, à cautela, se deixavam ficar para trás. Menos de cinquenta metros adiante, além da barulheira dos ramos, demos com a agitação dos próprios ramos que nos ocultavam os elefantes.

Estavam ali.

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Demorámo-nos três ou quatro minutos, na esperança de que novo deslocamento dos elefantes nos pusesse finalmente o mastodonte a descoberto.

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O animal foi imediatamente alvejado com uma descarga - dois tiros quase simultâneos , que não o seguraram. Mais dois tiros - e deteve-se atordoado. Rompeu novamente. Dois tiros ainda - e ajoelhou. Levantou-se com agilidade incrível e carregou de novo. À terceira vez, finalmente, despejadas as nossas espingardas, adornou, voltou costas - e vimo-lo afundar-se no lugar onde antes o tínhamos descoberto.

O estardalhaço que ia na mata era de vendaval desfeito. A agonia do mastodonte, com roncos de vulcão, e o pânico dos companheiros abarrotavam de ruídos demolidores o silêncio da mata.

Ainda ofegantes, recarregávamos as espingardas e preparávamo-nos para ganhar posição distante, mais segura, quando, não menos inesperadamente que da primeira vez, vimos os restantes cinco bichos que completavam a manada disparados sobre nós.

Reacendeu-se o combate, agora em condições muito mais apertadas.

E só o facto de sermos dois e de termos arrostado a situação com a serenidade indispensável nos livrou de apuros. A rapidez dos tiros sobre o animal maior, repetida e colocadamente atingido, fê-lo desviar um pouco do rumo - o bastante para que nos passasse, seguido de todos os outros, em fuga desabalada, a dez metros de distância.

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O primeiro elefante, que ainda víramos cair, atroava os ares, ali a poucos metros, com o seu ruidoso estertor.

Passado um quarto de hora surgiram os pretos. Um deles subiu a uma árvore. Do alto fez-nos sinal. O elefante estava ali deitado - quase a morrer. O sinal e a expressão do negro queriam dizer: "Está a dormir".

Do outro elefante ferido nada diziam - senão que se tinham tresmalhado quando sentiram a manada correr na direcção em que se encontravam.

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Seguimos nós o trilho em cata do ferido. Encontrámo-lo, morto já, a menos de quinhentos metros. Só então fomos tomar conta do primeiro - um lindo animal.

O que tem interesse na narrativa é explicar os dois acontecimentos imprevistos (um imprevisto só por mim e o outro imprevisto por ambos).

1º.- Porque atacou tão fulminantemente aquele elefante, que comia tranquilamente, que não atacámos, e que também não alarmámos com qualquer ruído?

2º.- Porque veio o grupo sobre nós - e não fugiu para a frente, lançado em pânico pela fuzilaria?

A primeira pergunta só pode ter uma resposta: o vento rondou a nosso desfavor e o elefante pressentiu-nos.

Porque tendo-nos pressentido, atacou, em lugar de fugir, o que seria mais normal, nas condições em que os animais se encontravam?

A resposta à segunda pergunta responde a esta também.

A pequena manada estava, quando a descobrimos, a última vez, e sem que nós o suspeitássemos, pois, como dissemos, não conhecíamos a região, à beira de uma escarpa vertical e muito alta, que emparedava um vale onde corria um rio.

Os elefantes não podiam fugir... senão sobre nós.

O primeiro que nos surpreendeu, irritado por se ver num beco sem saída - carregou.

Os segundos não carregaram; apenas fugiram na direcção em que nos encontrávamos.

Donde se conclui, uma vez mais, a importância do vento - e como exige as maiores cautelas qualquer aproximação sob vento leviano. E também: quando não se conhece o terreno em que se caça tem de prever-se o pior.

Henrique Galvão (ao centro), com os seus colaboradores

Abel Pratas (esquerda) e Teodósio Cabral (direita)

(Foto extraída do II volume da série: Da Vida e da Morte dos Bichos)

Marrabenta, Junho de 2007

18 June 2007

14 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE

(2)

Titulo: A CAÇA NO IMPÉRIO PORTUGUÊS

Autor: Henrique Galvão, em colaboração com Freitas Cruz

Ano de publicação:1945

Editor: Editorial " O Primeiro de Janeiro" - Porto

Esta é uma das mais de quarenta obras literárias de Henrique Galvão, militar, político e escritor, opositor ao regime do Estado Novo e que ficou célebre quando tomou de assalto o paquete Santa Maria na década de 60.

De entre essas obras, destacamos aquelas que se enquadram no tema de fundo desta página. São elas:

- A CAÇA NO IMPÉRIO PORTUGUÊS (2 volumes);

- DA VIDA E DA MORTE DOS BICHOS (5 VOLUMES);

- ROMANCE DOS BICHOS DO MATO - KURIKA;

- ROMANCE DOS BICHOS DO MATO - IMPALA

Estas obras foram publicadas nas décadas de 30 e 40 do século passado e reeditadas sucessivamente, constituindo do melhor que existe sobre a fauna bravia de Portugal e das suas ex-colónias.

Embora o autor se debruçasse particularmente sobre a fauna de Angola, onde exerceu altos cargos na administração do território, desenvolveu também sobre Moçambique um importante capítulo na primeira daquelas obras que ainda hoje é perfeitamente actual, dado o grande rigor na identificação e distribuição das espécies faunísticas deste país que visitou várias vezes.

A obra "A CAÇA NO IMPÉRIO PORTUGUÊS", a mais importante sobre a fauna bravia, consta de 2 volumes de luxo, com 638 páginas profusamente ilustradas com fotografias, desenhos, reproduções de quadros de várias origens e de pinturas especialmente feitas para esta obra, algumas delas do famoso pintor angolano Neves e Sousa. O preâmbulo que abre o capítulo sobre a fauna de Moçambique, tem estas bonitas palavras que nunca nos cansamos de recordar:

"Se a África é o paraíso dos caçadores, Moçambique é um dos mais privilegiados recantos desse paraíso. Nas suas florestas, nos seus tandos e lânguas, nas margens, restingas e ilhotas dos seus rios e lagoas, uma fauna riquíssima em variedade e abundância se oferece, tentadora, ao caçador."

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Marrabenta, Junho de 2007

17 June 2007

13 - LIVROS SOBRE FAUNA BRAVIA, CAÇA E CAÇADORES DE MOÇAMBIQUE

(1)


Título: CAÇA EM MOÇAMBIQUE
Ano de publicação: 1952
Editora: Litografia Nacional - Porto
Trata-se de uma das primeiras monografias editadas em Moçambique sobre a sua fauna bravia, ao tempo designada simplesmente por "caça" e que foi apresentada pela Comissão de Caça da Colónia por ocasião do IV Congresso de Turismo Africano realizado em Lourenço Marques (actual Maputo) em Setembro de 1952.
Através das suas 7o páginas, de texto e fotos, são descritas e mostradas as potencialidades faunísticas do território, de forma a tornar conhecido não só este fabuloso património que a natureza nos legou, como a entusiasmar os amantes da caça a praticarem aquele que sempre foi designado - e ali é referido - como o desporto mais nobre pela antiguidade, e o mais viril pelas qualidades que requer, de todos os desportos conhecidos!
À boa maneira das narrativas românticas que na época faziam a delícia dos apaixonados pelas histórias de caça vividas em África, também o autor desta monografia brindou os seus leitores com excelentes trechos poéticos, a raiar a ficção, tanto na definição das emoções das caçadas como na descrição das belas paisagens povoadas de grandes manadas dos mais dignos representantes da fauna selvagem! Fala-se também ali do perigo eminente que o sertão oferece ao mais valente aventureiro, outra das técnicas atractivas para os fanáticos do desporto mais nobre e viril!
Estes são alguns dos trechos que preenchem as belas narrativas do primeiro livro da série que pretendemos divulgar a partir de agora:
Em planícies sem fim à esquerda e à direita, ao perto e ao longe, manadas
compactas de búfalos, de antílopes de toda a espécie, separados por
delgados fios de água, ou por alguma mancha de verdura, donde, não raro,
surge a manada dos elefantes, por vezes, grupos de dez a vinte indivíduos
que se apossaram de uma ilhota de verdura onde pastam com a
tranquilidade de quem está no que é seu, ou o solitário a que a idade ou a
fraqueza negam os prazeres da sociabilidade.
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Todo aquele que se aventurar no interior destas regiões carece de robustez física de ferro e de dotes de vontade e inteligência acima do comum.
Uma vez afogado no mar de fogo do capim, onde tudo é desesperadamente
igual, sem um só acidente característico, monte, árvore, dobra de terreno
que sirva de referência, o caçador, perdido o trilho, fica isolado do Mundo,
exposto a toda a espécie de perigos, dos quais o prazer irresistível da
perseguição é o mais traiçoeiro.
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Desde o Maputo e Panda, no Sul, às margens do Rovuma, no extremo
Norte, quantos lugares onde pôr à prova as qualidades de destreza e
vontade, e ainda mais estas do que aquelas, não encontram todos aqueles
para quem a fascinação dos perigos do mato, a ânsia de emoções não
experimentadas sobrelevam aos prazeres duma sessão de box, e - o que
não é menor vantagem ainda - a facilidade de escolher em quase todos eles
a espécie de caça que se deseja ou a que a maior ou menor experiência
aconselha a procurar! Por maiores que sejam as exigências do caçador, e
apesar das necessidades do progresso e, por vezes, dos abates
indiscriminados a que se procedeu, Moçambique é ainda suficientemente
rica para as satisfazer inteiramente.
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Quando se está debaixo de telha, num meio amigo, cuja segurança e
conforto imuniza do medo; quando ainda se não foi esbarrar com um
elefante, que, a 30 ou 40 metros, atravanca o caminho, ou se não ouviu
"cantar" o leão nestas solidões, é fácil rir e descrer das histórias da caça.
Mas que se experimente! Que o mais incrédulo vá de Montepuez a Mueda,
passando pelo Nairoto, que atravesse as matas que vão de Negomano a
Mecula, ou que desça de Necaloje a Metarica, e também esse, depois,
nas reuniões em que a essas histórias se dá o crédito dos contos das
"Mil e Umas Noites", erguendo-se e tomando o aspecto grave de quem
presta um juramento, começará: "Um dia, indo eu....."
Pode dizer-se que toda essa África Negra é uma mancha única de caça!
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Marrabenta, Junho de 2007

14 June 2007

12 - RECORDANDO OS CAÇADORES GUIAS

Luís Pedro de Sá e Mello

Caçador Guia

Com o Engº Martins Santareno, em 1973, junto do grande elefante abatido na Coutada 16



Foto do ano 2000, na Tanzania, onde continua a exercer com grande sucesso a sua profissão





Nascido em 1940, em Lourenço Marques (actual Maputo), o Luis Pedro viveu e estudou na cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia, até aos 21 anos. Pertence a uma família numerosa e muito conhecida na época em Moçambique – os Sá Mellos. Entre pais, tios e primos, este clã seria provávelmente o mais numeroso entre os portugueses radicados naquela província e as suas actividades tornavam-nos muito conhecidos já que ocupavam lugares de direcção, quer no Estado quer na príncipal companhia agrícola e outras actividades da região. Desde novo que se apaixonou pela caça, (aos 14 anos abateu o seu primeiro búfalo) beneficiando da experiência de alguns dos seus familiares que o levavam às caçadas com muita frequência. Conheceu assim a pujança faunística de zonas famosas como Morrumbala, Mopeia e Gilé, recordando-as com saudade sempre que se fala da situação que a fauna bravia de Moçambique atravessa actualmente ! Iniciou a actividade de caçador-guia em 1962, após ter cumprido o serviço militar, tendo feito a sua carreira no sul de Moçambique, Coutadas 16 e 17. No final da década de 60 era já considerado um dos melhores caçadores-guias de Moçambique com renome internacional. Esta situação não passou despercebida aos Serviços da Fauna que passaram a dispensar-lhe certa atenção e até a requisitar a sua colaboração nomeadamente para acções decorrentes na região do alto Limpopo que ele bem conhecia e cuja língua local dominava com facilidade. Participou em várias acções de combate à caça furtiva e destacou-se sobretudo em duas missões: nos trabalhos de reconhecimento da região do Banhine, em 1971, com vista à criação do Parque Nacional com o mesmo nome e no safari oficial do membro do governo (Secretário Provincial de Terras e Povoamento) Engº Martins Santareno, em 1973, que culminou com o abate de um elefante de grandes proporções.

NOTA: Fotos e texto do Álbum publicado no ano 2000 na HP onde pode ser vista a biografia mais desenvolvida do Luís Pedro. AQUI:

Marrabenta, Junho de 2007













13 June 2007

11 - RECORDANDO OS CAÇADORES GUIAS

AMADEU PEIXE

Caçador Guia e campeão de tiro de Stand

Numa das suas mais recentes fotos no Brasil






Na década de 60 quando no exercício da sua profissão preferida

Nascido em 1935, em Vilanculos, distrito de Inhambane, onde seus pais residiam devido às funções que o chefe de família - o bem conhecido Júpiter Peixe – ali exercia como funcionário das Finanças, o Amadeu Peixe foi um dos poucos caçadores-guias moçambicano que, antes de se dedicar a esta delicada profissão, conhecia praticamente todo o território de Moçambique!
As constantes transferências a que os funcionários públicos estavam sujeitos, sobretudo os administrativos e os das finanças, levaram seu pai a residir em várias capitais de distrito, nomeadamente de Inhambane, Cabo Delgado e Niassa. Na década de quarenta e antes de seguir para o colégio para os estudos secundários (esteve em Tondela – Portugal e no Instituto de Portugal, em Lourenço Marques), a família viveu alguns anos em Vila Cabral (actual Lichinga), a capital do Niassa, o distrito de menor densidade de população humana do território. Naturalmente era uma região farta de animais selvagens, onde os leões proliferavam por toda a parte e causavam imensas vítimas na população e nos seus gados domésticos!
Foi ali que, aos onze anos, o Amadeu abateu o seu primeiro leão, uma proeza que, até hoje, não conhecemos quem tenha cometido com tão pouca idade! Após os estudos secundários e como seus pais residiam na cidade de Inhambane, ali obteve o seu primeiro emprego, na Algodoeira do Sul do Save. Nesta actividade percorreu as áreas mais remotas do distrito, ricas em fauna, caçando as mais variadas espécies. Seguiu-se o serviço militar obrigatório, com colocação em Vila Cabral, onde o seu principal passatempo era a caça. Voltou a cometer ali uma nova proeza com leões, abatendo, de uma assentada, 6 destes poderosos felinos, ou seja, todos quantos atacavam um curral de gado bovino na periferia da cidade! Ingressou depois no funcionalismo público, passando pelo quadro administrativo (Inhambane), serviços de agrimensura (Porto Amélia, actual Pemba – Cabo Delgado) e serviços de finanças (Lourenço Marques).
Conheci o Amadeu precisamente em Inhambane, em 1954 e desde logo ficamos amigos. Fizemos parte de uma equipa de futebol local, ele como guarda-redes e só por si valia meia equipa! De facto o Amadeu, aos vinte anos, era um atleta fora do vulgar, praticando as mais diversas modalidades em foco na altura, fruto de uma constituição física invejável e de muito treinamento proveniente dos tempos que passou nos colégios! Nenhum dos companheiros de então se admirou que poucos anos depois ele era considerado dos melhores guarda-redes da época, ao serviço do seu Benfica de Lourenço Marques! Uma carreira que viria a abandonar, precocemente, devido a uma grave lesão num joelho.


NOTA: Estes dados constam do Álbum publicado na HP onde pode ser vista a biografia mais desenvolvida do Amadeu Peixe. AQUI:

Entretanto, tivemos recentemente a triste notícia do falecimento inesperado deste célebre caçador, que residia há muito no Brasil, facto que foi noticiado em várias comunidades moçambicanas da Internet.

Marrabenta, Junho de 2007



10 - COMUNICADO DO PNG SOBRE A NOMEAÇÃO DO DR. BALDEU CHANDE


Após a publicação do post anterior recebi do Director de Comunicações do Parque Nacional da Gorongosa o comunicado que se segue:








COMUNICADO






Baldeu Chande nomeado Administrador (interino) do Parque Nacional da Gorongosa

Chitengo, 11 de Junho de 2007



De acordo com a informação, com data de 1 de Junho de 2007, proveniente do Chefe de Gabinete do Ministro do Turismo, o Sr. Baldeu Chande, foi designado para assumir, interinamente, as funções de Administrador do Parque Nacional da Gorongosa, com efeitos imediatos.

Estou certo que todos se associam ao nosso voto colectivo de felicidades e ao nosso abraço de parabéns para o nosso colega Baldeu Chande, Técnico de Fauna moçambicano de reconhecido mérito, neste momento tão marcante da vida do Parque Nacional da Gorongosa.

Dados Biográficos:
Baldeu Chande



Director de Relações Comunitárias e Administrador (interino) do Parque da Gorongosa
Baldeu Chande nasceu em Maputo e cresceu na localidade de Guijá, situada nas planícies aluviais do Limpopo, na Província de Gaza.Desde muito jovem que sempre possuiu uma grande atracção pela natureza e teve a oportunidade em 1978, de concretizar essa paixão tendo sido formado em Fauna Bravia no Centro de Formação do Parque Nacional da Gorongosa.
Desde esse momento passou grande parte da sua vida pessoal e profissional em áreas de Conservação quer de Moçambique quer do Zimbabwe.
Para além de Administrador do Parque Nacional da Gorongosa (liderou a equipa que reabriu o Parque após a assinatura do Acordo de Paz) e da Reserva de Búfalos do Marromeu, Baldeu Chande foi ainda Director e Instructor da Escola de Formação em Fauna Bravia, Coordenador adjunto da operação búfalo e também Chefe do Departamento de Utilização de Fauna Bravia numa empresa Estatal.
Possui uma larga experiência prática que vai desde contagens de fauna bravia, captura e actividades de domesticação, abates controlados e criação de crocodilos, fiscalização e actividades de formação de fiscais de caça bem como a organização de safaris de caça e ecoturismo.
Não menos importante, durante os anos em que colaborou com a IUCN, trabalhou de forma muito chegada com comunidades rurais, procurando encontrar formas de as integrar nos programas de Conservação de Fauna Bravia.
Nos últimos anos, Chande fez a diferença pela positiva, na conservação da Reserva do Niassa e no respectivo Programa de Desenvolvimento Comunitário, mantendo-o em constante evolução e desenvolvimento apesar dos recursos disponíveis, muito limitados, quando comparados com os desafios com que diariamente se debatia. Agora está de volta a Gorongosa trabalhando com uma equipa multidisciplinar de técnicos Moçambicanos e internacionais que estão a utilizar métodos de gestão adaptativa aplicada à conservação biológica para restaurar e proteger o ecossistema da Gorongosa. Um dos seus sonhos é de poder atrair muitos turistas para o Parque porque se trata de um lugar muito especial que tem de ser visto para que se possa acreditar que exista e também porque através do turismo será possível criar a necessária motivação das comunidades locais para proteger e valorizar as actividades de conservação.

Mais pormenores sobre o Parque Nacional da Gorongosa em:
http://my.gorongosa.net/stories/
http://www.gorongosa.net/

Vasco Galante, Director de Comunicação do Parque Nacional da Gorongosa


E-mail: vasco@carrfoundation.org


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11 June 2007

09 - NOVO ADMINISTRADOR DO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA




Acaba de ser designado para o cargo de administrador do Parque Nacional da Gorongosa, o Dr. BALDEU CHANDE, na foto acima quando em serviço de apoio social às populações periféricas do Parque.


Biólogo moçambicano de reconhecidos méritos na área da fauna bravia, este técnico substitui o Engº Roberto Zolho, que vinha exercendo aquelas funções nos últimos anos e que agora foi colocado noutro projecto de conservação da fauna bravia no sul do país. A quando da minha última estadia no Parque em Novembro último, o Dr. Baldeu Chande organizou e conduziu um game drive que nos permitiu avaliar dos extraordinário avanços ali operados ultimamente, no que respeita à recuperação e reintrodução dos animais e vias de comunicação internas. Pormenores dessa visita podem ser vistos AQUI:


O Dr. Chande iniciou a recuperação do Parque, a partir de 1994, dois anos após o fim da guerra civil, tendo enfrentado enormes dificuldades devido à situação caótica encontrada, como era a acção incontrolada de caçadores furtivos, a destruição de praticamente todas as infraestruturas, o desaparecimento quase total dos efectivos dos animais e à existência de minas. Graças à sua extraordinária capacidade e amor pela causa da defesa da vida bravia, conseguiu abrir caminho, com recursos reduzidos, para a recuperação que se foi desenvolvendo nos anos seguintes e que agora é já uma realidade.


Depois de ter sido substituido pelo seu colega Zolho (outro grande obreiro da recuperação do Parque), o Dr. Chande passou por outros relevantes cargos no âmbito da conservação da fauna bravia, no centro e norte de Moçambique, tendo regressando recentemente à Gorongosa.


Da crónica da minha visita ao Parque em Janeiro de 2000, recordo a seguinte passagem:


Na Beira fui hóspede do Dr. Baldeu Chande, biólogo moçambicano e velho amigo que entrou para os Serviços de Fauna como guarda de Parques e Reservas no início da década de 70 e que tem feito uma carreira brilhante, tendo concluído recentemente o seu curso na Universidade do Cabo - África do Sul. Foi ele quem orientou a difícil tarefa de reocupação do Parque Nacional da Gorongosa, em 1994, deixando ali um trabalho notável na mobilização das populações rurais, no combate aos furtivos, na restauração do acampamento do Chitengo, reabertura de algumas picadas, construção dos primeiros postos de fiscalização periféricos, retirada de minas, etc.!


O Parque Nacional da Gorongosa, depois da excelente gestão do Engº Roberto Zolho, continua em boas mãos! Como é sabido, o Parque está a ser recuperado desde 2005 pela Fundação Carr, cujo projecto, de longo prazo, suporta um considerável staff técnico e mais de três centenas de outros trabalhadores, registando-se já ali grandes avanços em todos os domínios.


Registamos pois, com muito agrado, a notícia do investimento do Dr. Baldeu Chande nestas novas funções e desejamos-lhe as maiores felicidades.


Marrabenta, Junho de 2007

09 June 2007

08 - RECORDANDO OS CAÇADORES GUIAS

Armindo Vieira

(Marabú)

A profissão de caçador-guia e a indústria de safaris em Moçambique surgiram no início da década de 60. (1) De entre os pioneiros envolvidos nesta actividade, o Armindo Vieira, conhecido por Marabu,(2) era considerado dos caçadores mais competentes e também dos mais discretos devido à sua simplicidade como pessoa. Introvertido e pouco dado às conversas habituais dos caçadores, passava despercebido fora do ambiente da caça, ao contrário da maioria dos seus colegas que nunca disfarçavam a sua profissão, quer pela descontracção típica dos caçadores, quer pelas conversas normalmente abordando estórias de caça e ainda pela forma muito própria de vestir.

NOTA: Foto e texto extraídos da pequena biografia publicada na HP, onde pode ser vista na íntegra. AQUI: