10 December 2012

120 - APRESENTAÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA EM LISBOA

Apresentação do Parque Nacional da Gorongosa

08.12.12 - Lisboa

O Parque Nacional da Gorongosa esteve ontem "presente" em Lisboa! Este foi um evento bastante participado, restrito à imprensa e aos profissionais da indústria turística, organizado em conjunto com a Embaixada de Moçambique em Portugal e com o Grupo Visabeira.O caso do Parque Nacional da Gorongosa foi apresentado enquanto exemplo de promoção do equilíbrio ambiental, do desenvolvimento social e do progresso económico e turístico. Foram oradores neste evento: o Embaixador da República de Moçambique em Portugal, Jacob Jeremias Nyambir, o Presidente da Fundação “Gorongosa Restoration Project”, Greg Carr, o Administrador do Parque Nacional da Gorongosa, Mateus Mutemba e o Vice-presidente do Grupo Visabeira SGPS, SA., Paulo Varela.

Mateus Mutemba, durante a sua apresentação do caso do Parque Nacional da Gorongosa  

Greg Carr, Presidente do "Gorongosa Restoration Project"



Embaixador de Moçambique, Jacob Nyambir


Paulo Varela, Vice-Presidente do Grupo Visabeira



Fim de citação

*   *   *


Para além das personalidades mencionadas no texto da notícia acima inserida, a comitiva do Parque Nacional da Gorongosa incluía ainda, para além de Greg Carr, Bernardo Beca Jofrisse e Mateus Mutemba, o director do Departamento dos Serviços Científicos Dr. Marc Stalmans e o director do Departamento de Conservação (também gestor do programa de reflorestamento da Serra da Gorongosa),  Engº Pedro Muagura. Este último tem um respeitável palmarés ao nível do reflorestamento de áreas degradadas, com mais de  100 milhões de árvores plantadas!

Como convidado de honra esteve também presente no cocktail de apresentação do PNG o Secretário de Estado da Cooperação e Negócios Estrangeiros, Dr. Luís Pereira.

Nunca é demais recordar - e isso foi abordado nesta cerimónia - que o PNG, outrora considerado o mais belo santuário da fauna bravia de África, quer pela beleza das suas múltiplas paisagens, quer pela diversidade e quantidade das espécies que albergava, foi palco de massacres da sua fauna durante os 16 anos de guerra civíl (1977/1992) e nos dois anos que se seguiram ao acordo de paz (1992/1994), este último período com consequências devastadoras pois houve uma corrida desenfreada das populações e de caçadores furtivos que  levaram quase à extinção os animais do Parque.

Após a sua reocupação, em 1994, por parte das autoridades e técnicos dos serviços da fauna bravia, e durante os dez anos seguintes, todo o esforço ali desenvolvido sob a  chefia de dois dos mais competentes técnicos moçambicanos de fauna, Baldeu Chande e Roberto Zolho,  apoiados em financiamentos nacionais e estrangeiros, aliás pouco significativos e nem sempre correctamente utilizados, não traduziu os benefícios e a recuperação que era de esperar num tão alargado período de tempo.

Felizmente que em 2004 se verificou uma reviravolta na Gorongosa, graças à visita que o americano Greg Carr ali fez, levado pela mão do próprio Roberto Zolho após uma primeira visita que este filantropo havia efectuado à Reserva do Maputo.   De tal maneira ficou impressionado com o que viu no Parque que decidiu desde logo financiar e dirigir, sem fins lucrativos, um projecto  para a sua restauração, que já leva 8 anos de existência e muitos dos 40 milhões de dólares que a tal destinou já investidos.

Não estando ainda recuperadas algumas espécies como o elefante, o búfalo, o boi-cavalo, o leão, a zebra e o elande, cujos efectivos vêm  progredido mas lentamente, a verdade é que outras, como hipopótamos, palapalas, crocodilos, gondongas,  impalas, inhacosos, changos, oribis, facoceros, porcos vermelhos, inhalas, imbabalas e macacos,  a situação é boa e  até ultrapassa os efectivos de outros tempos, como é o caso dos inhacosos, facoceros, oribis, porcos, imbabalas e Inhalas. Inclusive, o Projecto tem promovido a  reintrodução de algumas das espécies   com mais dificuldade de recuperação, como elefantes, búfalos, bois-cavalo, hipopótamos e chitas, uma medida que também tem por objectivo a melhoria da reprodução das espécies  traumatizadas ou definhadas biológicamente. 

Entretanto, a Gorongosa mantém a sua exuberante avifauna, ali representada por variadíssimas espécies cuja observação delicia os visitantes. Destacam-se aves lindíssimas desde o mais pequeno beija-flor aos grous coroados, sécuas, gansos do nilo, garças, pelicanos, galinhas kangas e d´água, patos, cegonhas, águias, calaus,  roleiros e centenas de outras espécies já catalogadas.

Esta história tem sido contada em todo  o mundo, através dos mais variados meios de comunicação, com destaque para documentários cinematográficos de consagradas estações de TV e da National Geographic, destacando-se o já famoso filme "África´s Lost Eden" que obteve vários prémios em festivais internacionais e catapultou para a ribalta o nome de Greg Carr.

Paralelamente, o Projecto de Restauração da Gorongosa tem vindo a desencadear outras  formas de divulgação, nomeadamente através de mostras em feiras de promoção do turismo em diversos países, incluindo Portugal, onde se faz representar, desde 2007, na Bolsa de Turismo de Lisboa.


Foi no âmbito desta política de divulgação do Parque e visando cativar o interesse dos industriais do turismo do nosso país, que o evento do passado dia 7 se realizou, tendo como palco o restaurante Zambeze situado no bonito local da Calçada Marquês de Tancos, perto do Castelo de S. Jorge, em Lisboa, onde alcançou significativo sucesso.

Destinada a uma audiência específica - comunicação social e profissionais da indústria turística -, esta apresentação teve a presença de uma vasta audiência, sempre muito atenta aos pormenores dos oradores a quem não regatearam efusivos aplausos. Mateus Mutemba, cuja intervenção revelou ter uma rara sensibilidade para os problemas da conservação da vida bravia em geral e do PNG em particular, causou nos presentes a melhor das impressões e a sensação de que o cargo de administrador do Parque está em boas mãos.

Greg Carr, que já nos habituou a intervenções de grande paixão e envolvimento na sua tarefa de financiador e presidente do "Gorongosa Restoration Project", mais uma vez se revelou a figura que conquistou a simpatia não só dos moçambicanos mas também dos amantes da protecção da vida bravia de todo o mundo. Ele cativou todos os presentes pela sua simpatia e dedicação à causa do Parque, que envolve múltiplos problemas tanto relativos à sua restauração como santuário da vida bravia, mas, também e sobretudo, os relacionados com o bem estar das populações que ali residem e que rondam as duzentas mil pessoas.  


A intervenção - a primeira da cerimónia - de Paulo Varela, vice-presidente do Grupo Visabeira, revelou-nos o grande entusiasmo desta conhecida  empresa portuguesa pelo desenvolvimento do turismo no PNG e, também, os planos de novos empreendimentos em Moçambique, uma boa parte deles ligados igualmente ao sector do turismo.

O Embaixador de Moçambique, Jacob Jeremias Nyambyr, que irradiou simpatia e boa disposição, como é apanágio dos moçambicanos, cumpriu de forma exemplar o que compete a um responsável diplomático de um país com quem Portugal tem excelentes relações. Transmitiu-nos a confiança do seu governo nos responsáveis pela restauração do PNG, cujo apoio   nas diversas vertentes é um compromisso assumido desde o início do Projecto da Fundação Carr (agora designado de "Gorongosa Restoration Project"),  cujo presidente, Greg Carr, elogiou sem rodeios. 


A convite da organização do evento, o Grupo de Amigos da Gorongosa (criado em Portugal, em 2007), esteve representado por cinco elementos do seu núcleo organizador, nomeadamente Maria José Coimbra, Jorge Faria, José Canelas de Sousa, Fernando Gil e Celestino Gonçalves. Por indisponibilidade, não puderam estar presentes os restantes dois elementos do mesmo núcleo, António Jorge da Silva e Graça Moreira.

Tivemos assim a oportunidade de assistir a uma cerimónia de alto significado para as pretensões que a parceria PNG/VISABEIRA pretende alcançar no campo promocional, social e económico da Gorongosa como destino turístico de eleição em Moçambique, tendo as intervenções dos oradores primado pela descrição, ao pormenor, das actividades ali em curso desde o início do projecto de restauração - Gorongosa Restoration Project -, em 2004, até ao presente e, também, dos planos para o futuro que abrangem grandes empreendimentos que vão permitir  um turismo  à escala dos mais desenvolvidos Parques de África, nomeadamente do famoso Kruger Park na África do Sul.

Ao mesmo tempo, os elementos do GAG puderam trocar impressões com  muitos dos presentes, versando o tema  Gorongosa, inteirando-se  do entusiasmo que reinou à volta da delegação moçambicana, muito solicitada antes e depois das intervenções.

Tal oportunidade permitiu-nos rever esses amigos que agora nos visitaram e com eles registar os momentos agradáveis ali vividos em fotos como as que a seguir aqui deixamos.

Apresentamos os parabéns  a toda a equipa do PNG  e ao seu parceiro VISABEIRA, assim como à Embaixada de Moçambique em Portugal pelo sucesso deste evento e também o nosso agradecimento pelo convite que nos fizeram!



Apresentação do director da Conservação do PNG, Engº Pedro Muagura

Aspecto parcial da audiência,
 com o cientista do PNG Dr. Marc Stalmans em primeiro plano

Entre os convidados estiveram presentes elementos do Grupo de Amigos da Gorongosa,
na foto  com Greg Carr, Coronel Beca Jofrisse, Dr. Marc Stalmans e Engº Pedro Muagura












José Canelas, Angela Mendonça e Celestino Gonçalves com o Administrador do 
Parque Nacional da Gorongosa, Mateus Mutemba


Saudações amigas!
Lisboa, 9 de Dezembro de 2012

Celestino Gonçalves





04 December 2012

119 - DIRECÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA RECEBIDA PELO PRESIDENTE CAVACO SILVA



DIRECÇÃO DO PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA RECEBIDA PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
 CAVACO SILVA


O Presidente da República de Portugal, Cavaco Silva, recebeu ontem (Segunda-feira, 3 de Dezembro) no Palácio de Belém, em Lisboa, uma representação do Projecto de Restauração do Parque Nacional da Gorongosa, constituída pelo Administrador do PNG, Mateus Mutemba e por Greg Carr, Presidente do "Gorongosa Restoration Project”. Na audiência também participou o Embaixador de Moçambique em Portugal, Jacob Jeremias Nyambir.

Foi uma ocasião que permitiu ao Presidente Português compreender melhor o Projecto de Restauração do Parque Nacional da Gorongosa, considerado um excelente exemplo de promoção do equilíbrio ambiental, do desenvolvimento social e do progresso económico.  

Greg Carr cumprimenta o Presidente Cavaco Silva, na presença do Embaixador de Moçambique, Jacob Jeremias Nyambir



Mateus Mutemba, Administrador do Parque Nacional da Gorongosa cumprimenta o Presidente Cavaco Silva



A Delegação da Gorongosa no Palácio Presidencial com o Presidente Cavaco Silva 




16 November 2012

118 - GORONGOSA - NOVOS LORDES DA SELVA



PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA

NOVOS LORDES DA SELVA

Texto e fotos de Jean-Paul Vermeulen




Passavam mais de trinta minutos que estávamos parados na proximidade do Rio Urema. Ao chegar, o ruído do motor tinha afugentado os crocodilos para dentro da água e agora
esperávamos em silêncio que eles saíssem para retomar o seu banho do sol.
Um elefante veio da mata atrás do carro sem que nos apercebêssemos imediatamente. Estava visivelmente irritado. O nosso veículo era um contraste na paisagem e com certeza o paquiderme ia testar as nossas intenções. Numa fracção de segundo já estava perto. Muito perto. Abanando a cabeça. Não havia ambiguidade quanto ao seu descontentamento pela nossa intrusão no seu território. Os elefantes da Gorongosa têm a reputação de ser agressivos e de atacar quem pode representar uma ameaça para eles. Ficámos totalmente silenciosos, sem fazer qualquer movimento. A estratégia do silêncio e imobilismo deu resultado. Após alguns segundos o elefante parou. A mudança de atitude foi radical e estava agora totalmente descontraído. O rio era o seu destino. Entrando na água foi bebendo e, após um banho de lama na outra margem, desapareceu como apareceu.
Para entender a inimizade do elefante perante o Homem, temos que recordar que em 1972 havia mais de 3.000 elefantes pelas matas da Gorongosa e que menos de 200 sobreviveram à guerra civil. O elefante é reconhecido pela sua inteligência. Ele tem também uma boa memória. Uma memória de elefante… A retomada de uma relação mais pacífica com o Homem será lenta… como a da Gorongosa.





PROJECTO DE RECONSTRUÇÃO DA GORONGOSA
                                                                                   

O Projecto de Reconstrução da Gorongosa foi iniciado em 2005 e as mudanças já são notáveis. Espécies praticamente desaparecidas há quinze anos atrás, como a emblemática pala-pala, a impala, a nyala, a piva e a oribi possuem agora efectivos que, em algumas delas, suplantam as existências dos tempos áureos do Parque. Búfalos e bois-cavalo são objecto de programas de renovação e multiplicação. Elefantes e hipopótamos também foram introduzidos para aumentar a diversidade genética, bem como Chitas que tinham totalmente desaparecido nos anos setenta. Apesar destes sinais encorajadores, não deixam de aparecer situações preocupantes a determinar
novos desafios
Uma delas é a aparente estagnação, se não lenta extinção, de algumas espécies como é o caso dos leões. Nos anos 60 a Gorongosa albergava uma população estimada em mais de 500 desses felinos e podia orgulhar-se de ter a maior densidade de toda a África Austral. Actualmente será de 30 a 50 o número de leões dentro de Parque. Apesar dos esforços de reconstrução dos ecossistemas e da aparente abundância de caça para a sua alimentação, essa população não cresce. A situação é particularmente preocupante dado o facto de, ao nível da África, o número de leões selvagens se ter reduzido em mais de 80% nestas últimas duas décadas.

Alguns cientistas já prevêem que até ao final da próxima terão completamente desaparecido. Sendo o leão, muito provavelmente, o mais emblemático dos Big 5, como imaginar a selva sem o seu rei? A situação requer medidas urgentes ao nível do continente para proteger o habitat e as populações viáveis. Este é o objectivo do recém-lançado Projecto Leões da Gorongosa que vai, a longo prazo, tentar trazer respostas para a sua recuperação e conservação no Parque.


OS BIG 5 AGORA SÃO OUTROS

Inicialmente território dos Big 5, a Gorongosa perdeu essa qualificação nos anos setenta quando desapareceu o último rinoceronte naquela região. Enquanto o Parque se esforça para reconquistar o seu estatuto, o poder de sedução mantém-se intacto com os seus próprios Big 5.

O primeiro é a Serra da Gorongosa, recentemente incluída na zona de protecção total. Como uma sentinela no horizonte e contrastando com as baixas altitudes do vale do Rift, a Serra acusa uma precipitação (mk) de dois metros que origina uma vegetação luxuriante. Um recente “bioblitz” – um estudo científico, curto e intensivo de pesquisa – demonstrou a presença nas suas encostas de uma grande diversidade de espécies de fauna e de flora ainda desconhecidas da ciência, entre as quais algumas endémicas. O segundo é o lago Urema e as zonas pantanosas à sua volta, cuja extensão só pode verdadeiramente ser apreciada do céu, especialmente durante a estação das chuvas, quando a sua superfície se estende até 20 vezes o seu tamanho normal. O terceiro são as falésias de Kúndue, antigas testemunhas das convulsões geológicas que se iniciaram há milhões de anos e que um dia dividirão a África em dois continentes, a partir da Etiópia até a região centro de Moçambique. O quarto é a gruta de Codzué, a mais comprida de Moçambique, onde um dia talvez se descubram vestígios dos primeiros hominídeos que percorriam o Leste da África. E o quinto? É, claro, o elefante. Temido, admirado, procurado, dizimado, ele está a voltar em força e é o verdadeiro lorde desta selva.


TURISTAS

Localizado na extremidade sul do Grande Rift, no seio de um vasto ecossistema definido, modelado e alimentado pelo ciclo de água e dos rios que  o     percorrem, o Parque Nacional da Gorongosa representa um activo importante para o desenvolvimento turístico do Pais. Em 1973, no seu apogeu, ele recebeu cerca de 20.000 turistas do mundo inteiro, tendo-se tornado uma referência na África Austral até ao seu encerramento durante a guerra civil. Graças a um vasto esforço de promoção ao nível nacional e internacional, o número de turistas está em franco crescimento nestes últimos anos. Em 2011 o Parque teve cerca de 7.000 visitantes, dos quais um pouco mais da metade são moçambicanos. A médio prazo a Gorongosa tem todo o potencial para se reposicionar no pódio dos melhores destinos turísticos da região, gerando receitas e empregos que, desesperadamente, as comunidades à volta do Parque precisam para o seu desenvolvimento.

Mia Couto diz que “Nenhum lugar acontece naturalmente. Toda a geografia é uma plantação do Homem”. O extenso território do Parque Nacional da Gorongosa é um desses lugares enriquecido pelo cruzamento entre natureza, cultura e história. As noites na Gorongosa são, desde sempre, ritmadas pelos sons persistentes dos batuques. À volta da fogueira contam-se histórias onde mitos e eventos são reinterpretados para reescrever o mundo desde a sua criação. No Chitengo, belo local que acolhe a administração e os visitantes, também se reinventa o passado e advinha o futuro do Parque. As visões são claramente diferentes. Os interesses também. Mas um novo capítulo dessa geografia está já sendo reescrito.

O ELEFANTE DA GORONGOSA

Uma tarde, ao regressarmos ao Chitengo, cruzamos com uma manada de elefantes. O encontro foi bem pacífico. Ficamos a observá-los, com o pôr-do-sol em pano do fundo, enquanto atravessavam a estrada para procurar um tando (pastagem aberta, planície, geralmente húmida). As sombras esticam-se no infinito e o céu alaranjado pinta-se de roxo escuro. Os sons claros das criaturas da noite anunciam o despertar dos adormecidos do dia. É a hora mágica da África e, por um instante, o tempo parece suspenso no ar.


O elefante da Gorongosa é bem similar ao Homem em termos de inteligência, relações familiares e complexidade social. Mas, para sua desgraça, tem sido caçado desde as trevas dos tempos devido às suas pontas de marfim. Ao observar os elefantes no Parque da Gorongosa nota-se algo de diferente. Muitos deles não têm essas presas, pelo menos são muito mais pequenas do que o normal. Como se eles tivessem sido obrigados a abandoná-las para finalmente ficarem em paz. Elefantes sem presas ocorrem naturalmente, mas são a excepção, não a regra. Similarmente ao que aconteceu em outras regiões de África, a hipótese mais provável é que durante os anos de guerra civil, os caçadores tenham abatido sistematicamente os elefantes com maiores presas, deixando de lado os animais sem valor comercial. Talvez só 6 % da população inicial tenha sobrevivido. Mas ela está a crescer e admite-se que, esses descendentes, carreguem nos seus genes as características que provavelmente contribuíram para a sobrevivência da espécie nesta parcela do País. Felizmente a população de elefantes da Gorongosa não está isolada e, com medidas apropriadas de protecção, mais cedo ou mais tarde alguns animais de grandes pontas irão encontrar o caminho desta vasta área de protecção e enriquecer o património genético dos Lordes da Gorongosa. Os primeiros seis elefantes com aquelas características já chegaram vindos do Kruger Park. Por esta vez com a ajuda do Homem…

(Fim de citação

                                                                  *   *   *





BREVE COMENTÁRIO

Este interessante artigo foi publicado no último número da revista MdeMoçambique e tem vindo a ser difundido nas redes sociais por muitos amigos da Gorongosa.
O seu autor, a quem agradeço a gentileza de me ter enviado o texto e fotos em formato acessível para aqui publicar, faz uma avaliação realista da situação actual do Parque sustentada no conhecimento directo do que ali se tem feito para a sua recuperação, deixando-nos optimistas com o seu futuro face  aos  progressos ali alcançados na recuperação de algumas espécies emblemáticas, algumas até já superaram os efectivos de outrora. Por outro lado, o caso concreto da estagnação dos efectivos de leões e o lento desenvolvimento de outras espécies como o búfalo e o boi-cavalo, são um aviso importante de que muito há ainda a fazer para tornar a Gorongosa o grandioso santuário que já foi.  Caberá aos governantes, ao mais alto nível, tomar as medidas adequadas que implicam defender energicamente o Parque  de toda a espécie de inimigos como são os garimpeiros do ouro, os madeireiros, os furtivos, etc.

Saudações amigas!
Celestino Gonçalves


25 September 2012

116 - GORONGOSA NO SUNDAY TIMES





O jornal Britânico "Sunday Times" publicou um interessante artigo sobre a Gorongosa escrito por Chris Haslam, que esteve durante algum tempo a visitar o Parque Nacional da Gorongosa.
O título do artigo é "Big Ears Strikes Back" e de acordo com Chris Haslam:

"O  PARQUE NACIONAL DA GORONGOSA é a maior maravilha de Moçambique — África em miniatura, com um ecossistema que parece ser o protótipo divino."

Este título encabeça o artigo integralmente transcrito no site oficial do PNG e que acabamos de receber através do Dr. Vasco Galante, que sempre nos mantém informados das reacções que os mais diversos órgãos de comunicação de todo o mundo têm tido nos últimos anos em relação aos progressos alcançados neste Parque a partir de 2004, altura em que o filantropo americano Greg Carr iniciou  ali um bem sucedido - e sem precedentes -, projecto de recuperação.
Dado o seu interesse, a seguir se transcreve o texto (na forma original) do mesmo artigo, recomendando-se a quem necessitar o uso deste tradutor:





The lions turned up
just after three in
the morning. Two
big males, right outside
my tent. Their
roaring had woken
the whole camp, but
nobody could move.
First off, these were Gorongosa
lions, which consider humans
legitimate prey, and second,
the pride had us surrounded.
I lay still, my wine-soaked
brain telling my adrenalinestoked
heart that lions. Never.
Enter. Closed. Tents. The roaring
stopped. Through the mesh door,
I could see their silhouettes,
slightly darker than the surrounding
forest. I could hear
their breathing: short, stressedout
grunts. I could smell their
fetid breath.
I reasoned that if I kept my
movements to a minimum, they
wouldn’t see me. Fool. They see
better at night than a police
surveillance helicopter, and their
sense of smell is acute enough
to distinguish perspiration from
cold sweat. But they never come
into closed tents.
The nearest of the pair probed
the canvas with a paw. Then he
pressed his nose against the
mosquito-net door. I could hear
the scratch of his whiskers
against the mesh, the tinkling of
the zip puller, the belated alarm
call of a thick-tailed bushbaby
somewhere in the trees above.
And it was then, with utter
horror, that I realised I hadn’t
zipped the net door shut. This
was not a closed tent.
GORONGOSA NATIONAL PARK
is Mozambique’s greatest wonder
— Africa in miniature, with an
ecosystem that looks like the
divine prototype. In the north,
the 6,000ft walls of the Gorongosa
massif force easterlies from the
Indian Ocean to rise, condense
and fall as rain, watering 1,550
square miles of dense forest,
wetland, open savanna and lake.
In one day, you can find
shades of the Congo, the Mara,
the Okavango and the Mountains
of the Moon.
Naturalists call it Africa’s lost
Eden, and in the late 1960s, it was
reputed to be the finest national
park on the continent, with more
predators than the Kruger and
denser herds of ungulates such
as wildebeest and buffalo than
the Serengeti. Hunting was
banned in 1956, and celebrities
such as John Wayne and Tippi
Hedren flocked to Chitengo camp
to experience a new style of safari
on which nothing got shot.
Gorongosa came through the
war of independence untouched,
and in 1976 it had the largest
population of lions anywhere in
Africa. Then, in 1981, it all went
wrong. Civil war broke out and
the park became a battleground
between the Frelimo government
and Renamo rebels.
Chitengo was destroyed, tens
of thousands of mines were laid,
and air and artillery strikes
shredded the forest. The wildebeest
were slaughtered to feed
the troops. The elephants were
poached for their ivory. Only the
waterbuck were unmolested —
their inedibility being their
greatest asset. By the end of the
war, in 1992, populations of some
species had been reduced by 90%
or more — of one buffalo herd
numbering 14,000, fewer than 50
had survived, and of the masses
of blue wildebeest, there were
just five traumatised individuals.
The people had suffered, too:
Gorongosa’s lions and crocodiles
had grown fat on the flesh of
refugees. Villager Joao Antonio
recalled his family’s flight after
being chased away by Frelimo
forces. “It was a dark night. My
aunt was carrying my baby
sister. We were running because
the rebels would kill us if they
caught us. I heard my aunt
scream, then the lions.” He
paused. “We did not stop.”
In 2000, a chance introduction
at a New York cocktail party
brought the American philanthropist
Greg Carr face to face
with the Mozambican ambassador,
Carlos dos Santos. Carr,
who had made his millions
selling voicemail systems to
business, accepted an invitation
to visit Gorongosa, saw the
potential and immediately
pledged $500,000 to rebuild the
place. That figure soon became
£16m, in return for a 20-year shot
at resurrecting the park.
Its recovery has as much to do
with nature’s capacity for selfrepair
as it does with Carr’s cash.
He relocated herds of buffalo
from the Limpopo national park
and from Kruger in South Africa,
and brought in elephants,
hippos, blue wildebeest and
cheetahs. The zebras returned,
followed by the antelopes.
The infrastructure, however,
remains reassuringly basic.
There are just two camps — the
rebuilt Chitengo, at the park
entrance, and Explore Gorongosa,
where I stayed, which has just
six tents, bush toilets and the
shambolic feel of a research
camp. Come at the end of dry
season and you’ll have a chunk
of Africa the size of Suffolk to
yourself. Most of it is inaccessible
and, in recent times, unexplored;
this is no place for those who
want to tick off the Big Five, then
return to a luxury camp for a spa
treatment. It’s a park for those
seeking raw, unchoreographed
Africa — a home for beasts who do
not yet know their place.
By late November, the Sungue
River is a necklace of shrinking
pools on a serpentine ribbon of

dust. Covered in a dense rug of
Nile cabbage, these ponds are
death traps for the unwary.
“Be very quick and very
careful,” said our guide, Jeff
Trollip, as we tiptoed around one.
“Don’t for Christ’s sake fall in.”
From the high rocks, baboons
were watching hopefully, like
safari tourists waiting for the
kill. The blackened backbone and
ribs of a zebra, exposed by the
dwindling water levels, attested
to the presence of a monster croc
that could explode from the
water with terrifying speed. By
mid-morning, however, the
pools were too hot for the crocs.
We followed tracks up the
bank and into the forest. The
darkness was tangible, the leaf
litter scattered with fallen trees
and huge logs. One of those
logs had a glint in its eye. And a
sawmill mouth of yellow teeth.
Outside of Australia, she was
the biggest crocodile I’d ever
seen, and she considered
our company a threat.
The feeling was
entirely mutual, but
the standoff was cut
short by elephants.
The herd was so far
away that only Alfonso
Bereira, the tracker, could hear
them, but there seemed to be a
pressing need to get back to the
safety of the vehicle before they
arrived. “They’re not hostile,”
Jeff lied. “But they
remember what
people did to
them in the war.”
Fleeing one herd,
we met another. The
adults were tuskless —
possibly the result of an
emergency evolutionary response
to poachers — but lack of ivory
didn’t mean lack of aggression.
The adults formed a defensive
circle under a sausage tree,
dragging the toddlers inside with
twitching trunks, grunting and
farting in fear.
Suddenly a young female
charged the vehicle, her acceleration
proof enough that this
was no feint. Jeff sped away,
stopping 200 yards down the
track, but she kept coming
— and coming — until
she had pushed us a good half
a mile from the herd.
Back at camp, Jeff was called
away to deal with an uninvited
guest. He was pale-faced and
wide-eyed when I caught up
with him, carrying a plastic box.
Inside was a 6ft snake, a black
mamba that had moved into
an outbuilding. Catching it had
been trickier than he had
thought, and the trickle of
venom on his face showed how
close he’d come to getting nailed.
The release was an African
botch job. We drove three miles
from camp to let the snake go —
mambas possess an uncanny
homing instinct — but before
the awkward moment of opening
the box, someone asked Jeff
what his plan was in the event
that he got bitten. Radio? Helicopter?
Antivenom? He waved
a dismissive hand. “If I get
whacked, it will take more than
an hour for a heli to get here,”
he replied. “I’ll be stiff by then.”
Predictably, the furious snake
headed straight for the vehicle
when released — and arrived
back in camp 48 hours later.
This first day in camp brought
other surprises: a python in a
thorn tree, a suicidal monitor
lizard making repeated attempts
on a crocodile’s eggs and a sunset
over Lake Urema pixelated by
tens of thousands of flocking
waders. Over dinner, we discussed
the threats facing Gorongosa
— poaching, deforestation
and Chinese mining interests
in the mountains that could
disrupt and contaminate the
watershed.
Then I asked about lions.
Where were they? It was a dumb,
touristy question, and it got the
smartarse guidey reply.
“Oh, they’re out there,” said
Jeff, peering into the darkness.
“They’re probably watching you
right now.”
Yeah, right. I finished my
wine and went to bed.

Chris Haslam travelled as a guest
of Aardvark Safaris

Travel brief:
Aardvark Safaris

(01980 849160, aardvarksafaris.
co.uk) has a four-night stay at
Gorongosa, with three nights at
the White Pearl resort, on the
south coast, from £3,245pp,
including flights from Heathrow
to Beira via Johannesburg,
light aircraft transfers into the
park, all meals and game drives.
Or try Rainbow Tours (020 7666
1250, rainbowtours.co.uk) or
Abercrombie & Kent (0845 485
1565, abercrombiekent.co.uk).


Once devastated by war, a national park in Mozambique is now
again teeming with (rather terrifying) wildlife. By
Chris Haslam
(fim de citação)

NOTA À MARGEM

Embora a informação e algumas observações contidas neste artigo sejam a repetição de muitas dezenas (ou mesmo centenas) de anteriores artigos, documentários cinematográficos, programas de rádio e televisão, entrevistas, crónicas, etc., a verdade é que este jornalista soube também enquadrar  expressões que merecem  todo o destaque porque são um autêntico hino de enaltecimento às maravilhosas condições do Parque Nacional da Gorongosa:

                 - É a maior maravilha de Moçambique
 
                 - É a África em miniatura

                 - Tem um ecossistema que parece ser o protótipo        
                    divino

Fonte de inspiração de muitos escritores, poetas, fotógrafos, cineastas, jornalistas ou simples amantes da natureza, a beleza selvagem da Gorongosa, não obstante os massacres da sua fauna  de que foi vítima nos anos de guerra civil, que lhe roubaram mais de 90% deste importante recurso natural, a verdade é que continua pujante  graças ao conjunto de ecossistemas únicos que a sustentam e ao esforço humano que ali é desenvolvido. Não admira, pois, que continue a inspirar as pessoas sensíveis, como este jornalista!
Saudações amigas!
Setembro, 2012

Celestino Gonçalves

Ver no link abaixo o vídeo da libertação da cobra mamba citada no texto:
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NONOANNN

of those

 

19
thesundaytimes.co.uk/travel
23.09.12
“One of those
logs had a
glint in its eye
and a sawmill
mouth full of
yellow teeth”

09 August 2012

115 - ÚLTIMOS RINOCERONTES AFRICANOS EM PERIGO


RINOCERONTES DO KRUGER PARK
ALVO DE CAÇADORES FURTIVOS MOÇAMBICANOS



Com a devida vénia transcrevemos na íntegra a notícia do jornal "O País", que acabamos de receber do Dr. Vasco Galante, director de Comunicação e Turismo do Parque Nacional da Gorongosa, a quem agradecemos mais esta gentileza:

"(2012-08-09) A caça de rinocerontes para extracção do corno constitui um negócio de luxo que envolve tanto civis como membros da Polícia da República de Moçambique (PRM), particularmente da Força da Guarda Fronteira.

Trata-se de um negócio de alto risco, justamente por envolver o recurso a armas de grande calibre. Dados em nosso poder revelam que algumas armas eram retiradas, clandestinamente, do comando distrital de Massingir para a caça de rinocerontes.

A Procuradoria Distrital de Massingir está, neste momento, com vários processos-crime que envolvem agentes da Guarda Fronteira e civis envolvidos na caça furtiva, incluindo altas patentes da polícia. Todas as acções são planeadas a partir do Chókwè, Chibuto e Maputo.

Os factos

Em meados de Fevereiro do ano em curso, uma chamada telefónica desperta-nos para o que a polícia sul-africana já se vinha queixando: o recrudescimento da caça furtiva de rinocerontes, com vista à extracção do corno para a, posterior, venda a cidadãos de origem chinesa e vietnamita. Do corno retira-se mercúrio para fins supostamente medicinais.

A fonte deu-nos os rastos que nos conduziram ao apuramento da verdade, através da obtenção dos processos ora nos tribunais, no Comando-Geral da Polícia e sob domínio do ministro do Interior, Alberto Mondlane.

Cenário de guerra no Kruger park

Na verdade, o que se vive no Kruger Park é um cenário de guerra. Há relatos de dezenas de moçambicanos mortos, de Novembro passado a Julho deste ano.

Por exemplo, a 22 de Novembro do ano passado, a polícia sul-africana anunciou, sem avançar nomes, a morte de dois caçadores furtivos, todos moçambicanos, abatidos pelos “rangers”, guardas do parque nacional Kruger, na África do Sul, e a detenção de um deles.

Os dados em nosso poder, extraídos de um dos processos, ora no Comando-Geral da Polícia e no Ministério do Interior, indicam que um dos caçadores mortos no local é Silva Ngovene e o capturado é Bento Zeca Pequenino, ora nas mãos da polícia da África do Sul. Silva Ngovene é sobrinho de um curandeiro, de nome Mahetabanha, mais conhecido por Profeta.

Para a neutralização de Bento Pequenino e seus companheiros, os “rangers” solicitaram o apoio da polícia e militares da força aérea sul-africana, numa operação especial no interior do Kruger. O pedido de apoio surgiu após se terem descoberto oito rinocerontes mortos, dos quais haviam sido retirados os cornos. Na mesma noite, os caçadores foram localizados, o que culminou na troca intensa de tiros entre o grupo liderado por Pequenino e os guardas, a polícia e os militares sul-africanos. Durante a troca de tiros, dois dos moçambicanos foram mortalmente abatidos (um dos quais é Silva Ngovene) e um capturado, tendo os outros fugidos. Um dos foragidos era Gerson Chaúque, membro da Guarda Fronteira, que acabou sendo morto, no passado dia 10 de Abril, no Kruger Park, em mais uma investida contra rinocerontes.

Bento Pequenino havia sido atingido por balas, daí não ter conseguido empreender a fuga. No local, a polícia sul-africana, auxiliada por um helicóptero, teria recuperado duas das várias armas que estavam nas mãos dos furtivos. Trata-se da problemática Mauser 375 e de uma AK47, ora nas mãos da polícia sul-africana.

“Bento Zeca Pequenino que, neste momento, se encontra sob custódia policial da República da África do Sul (RAS) foi neutralizado fortemente armado, após intensos combates com as forças especiais da África do Sul. Foi capturado após ter sido gravemente ferido e na posse de uma arma tipo Mauser 375 e um outra do tipo AK47, que era usada por um dos seus comparsas abatido mortalmente no local (Silva Ngovene). Um outro furtivo pós-se em fuga com uma outra arma do tipo AK47, atirando contra a polícia sul-africana”, lê-se num dos relatos constantes dum dos processos em nosso poder.

Os ficheiros secretos

Consta que a 26 de Agosto do ano passado, três caçadores furtivos foram emboscados, na zona de Godji, a poucos quilómetros da vila de Massingir, pela Força da Guarda Fronteira de Massingir e pelos fiscais da Twin City, uma empresa que opera no Parque Nacional do Limpopo.

Na ocasião, os caçadores furtivos saíam do interior do Kruger Park, onde estiveram a caçar rinocerontes. Quando foram ordenados para se renderam, dois puseram-se em fuga e o outro entregou-se imediatamente. Trata-se de Luís Xavier, de 43 anos de idade, natural de Inhambane e residente no 1º Bairro – Cubo, em Massingir.

De imediato, iniciou um tiroteio que culminou com a morte de um dos dois que se encontravam em fuga, de nome Hamilton Chihale, natural de Inharrime, em Inhambane. O outro, Moura Valoi, conseguiu fugir, estando em parte incerta até à data. Na altura, os caçadores levavam consigo a arma Mauser Calibre 375 com o número 42666. A arma continha seis munições.

Interrogado, o “furtivo” neutralizado revelou a pessoa que o havia mandado caçar rinocerontes. Chama-se Lourenço Valoi. Este, por conseguinte, foi detido no Comando Distrital de Massingir mediante um mandado de busca e captura emitido no dia 27 de Agosto.



Agentes da Guarda Fronteira no jogo

Em face do recrudescimento da caça do rinoceronte e das informações recolhidas, iniciou-se, ao nível da polícia, o processo de purificação das fileiras. É que as informações indicam haver envolvimento de alguns elementos da Guarda Fronteira no negócio. Na sequência desse processo, foi detido Gerson Chaúque, membro da mesma corporação, para esclarecimentos e “descobriu-se o envolvimento de mais um membro, também elemento da PRM, de nome Borman Henriques”.

Depois, ficou decidido que era necessário ouvir algumas pessoas também implicadas no processo. Trata-se de indivíduos que não fazem parte da corporação. Foi assim que Martins Pequenino, irmão mais novo de Bento Pequenino, residente na Matola, foi solicitado. Na altura, Martins Pequenino encontrava-se hospedado na casa de Gerson Chaúque, natural de Inhambane.

Em declarações, Martins Pequenino, que se identificou como trabalhador da G4S, uma empresa de segurança privada, teria informado que, na altura, ia ter com o comandante Borman e Mahetabanha para que lhe passassem o dinheiro que seria usado para facilitar a soltura do seu irmão (Bento Pequenino) na África do Sul.

Borman negou as acusações e disse desconhecer o jovem Martins Pequenino. No entanto, nos telemóveis de Borman foram encontrados registos de ligações constantes entre ele e Martins Pequenino, incluindo Mahetabanha.

Bento Pequenino é que veio a esclarecer todo o processo, através de um contacto telefónico efectuado pela Polícia de Investigação Criminal moçambicana, a 30 de Novembro do ano passado, para a sua congénere sul-africana. Nesse contacto, Pequenino disse que teria recebido a arma de Borman e de Vembane, este último funcionário de uma padaria localizada na vila de Massingir, a poucos metros do Comando Distrital da PRM.

Na sequência das informação de Bento Pequenino, o Comando do 2º Regimento da Força da Guarda Fronteira comunicou ao comandante distrital da PRM de Massingir a fim de notificar Vembane e Mahetabanha, para comparecerem ao comando da Guarda Fronteira no Chókwè, de modo a que fossem ouvidos em declarações. Entretanto, o comandante distrital da PRM de Massingir, Jacinto Queco, teria rejeitado a ideia, alegando que “cabia a ele ouvir aqueles sujeitos”, porque estavam no território sob sua jurisdição.

Consta que Borman teria sido surpreendido, a 25 de Maio de 2011, por uma equipa de fiscais do Parque Nacional do Limpopo na companhia de caçadores furtivos, em Massingir Velho. Na ocasião, este empreendeu uma fuga, esquecendo-se da sua boina no mato e uma arma do tipo Mauser 375, abandonada a 300 metros do portão do parque.

Por seu turno, Gerson Chaúque negou que tivesse albergado Martins Pequenino, mas admitiu ter hospedado Bento Pequenino, ora detido na África do Sul."

Fonte: O País

O NOSSO COMENTÁRIO

Esta notícia em nada nos surpreende! Apenas confirma outras anteriores em que, por todos os países de  África detentores de rinocerontes, a caça a este fabuloso animal tem sido uma triste realidade ao ponto de, na maioria deles, ter sido já extinto, como é o caso das antigas colónias portuguesas de Angola e Moçambique.

Não é de agora, mas desde sempre, que este fabuloso animal foi alvo da cobiça dos caçadores furtivos, justamente por possuir cornos utilizados por alguns países asiáticos, desde tempos imemoriais, em diversos fármacos para cura de doenças de difícil tratamento com medicamentos convencionais. Mas não só, também usado como afrodisíaco e, ainda, para confecção de cabos de adaga usada por ricos senhores de alguns desses países, nomeadamente Iemen do Sul e Iemam do Norte.

Num estudo intitulado de "Um alerta sobre o perigo de extinção dos rinocerontes em Moçambique", que eu próprio fiz em meados dos anos oitenta e que apresentei num seminário sobre comércio de produtos da fauna bravia e implementação da CITES, realizado em Maputo, dei conta da progressiva eliminação desta espécie, que se acentuara nos cinco anos antecedentes e que a levara quási à extinção, tanto no que respeitava aos rinocerontes brancos introduzidos em 1968 na Reserva do Maputo, como aos rinocerontes pretos que poucas décadas antes se podiam contar por alguns milhares nas regiões de  Manica e Sofala, Zambézia, Tete, Cabo Delgado e Niassa.

Poucos anos decorridos após esse seminário, as informações que tínhamos era de que os rinocerontes tinham sido exterminados em todo o país, que na altura vivia uma guerra civil que muito contribuiu para este e outros massacres da rica fauna selvagem do território.

Não é estranho, pois, que o vizinho Kruger Park, onde os rinocerontes (brancos e pretos) são alvo de rigorosa protecção, tenha sido atingido pela onda de caça furtiva que grassou em Moçambique, já que os incentivos nunca deixaram de existir por parte dos traficantes internacionais do rico produto destes animais - os seus cornos!

Não é estranho, também, que muitos desses furtivos tenham sido já abatidos pelas autoridades sul-africanas, que utilizam forças do exército e meios aéreos para combater as ordas de moçambicanos que invadem o mais famoso dos Parques Naturais de África, o seu Kruger National Park!

Receio que este é um problema sem solução, sabendo mesmo que a África do Sul tem meios e vontade suficientes para defender as suas fronteiras e dar caça aos intrusos que se atrevem a penetrar nos seus parques e reservas onde preservam como ninguém este rico património da Natureza. É que, em quanto os governos dos países receptadores não tomarem as medidas necessárias para impedir o comércio desses produtos, como preconiza a própria Convenção Internacional para a Protecção e o Comércio das Espécies de Fauna e Flora em vias de extinção - CITES e a União Internacional para a Conservação da Natureza - UICN,  não deixarão de  existir as redes clandestinas de traficantes  e, consequentemente, os caçadores futivos, já que este é um produto que já ultrapassou os valores das drogas mais caras.



Resta a esperança de que aos outros parques e reservas do interior da A. do Sul, onde igualmente se desenvolvem esforços na preservação da espécie, não cheguem os furtivos moçambicanos e de outros países periféricos, que já levaram à estaca zero praticamente em todos os outros países africanos, a existência deste majestoso representante da fauna bravia terrestre, considerado dos mais antigos sobreviventes do planeta!


Saudações amigas!
9 de Agosto de 2012


Celestino Gonçalves