14 September 2014

139 - PNG e MUSEU DE HISTÓRIA NATURAL, UMA PARCERIA QUE SE IMPUNHA







COMUNICADO DE IMPRENSA
PARA DISTRIBUIÇÃO IMEDIATA

O Parque Nacional da Gorongosa faz parceria com o Museu de História Natural de Maputo

Quinta-feira, 11 de Setembro de 2014

Moçambique, África – O Administrador do Parque Nacional da Gorongosa Mateus Mutemba visitou muito recentemente o Museu de História Natural de Maputo numa missão muito especial. Levou consigo quatro caixas de madeira, cheias de alguns dos mais belos tesouros naturais de Moçambique. À sua espera estava a Directora do Museu Dra. Lucilia Chuquela que recebeu as caixas em nome do Museu. Cada caixa continha um conjunto colorido de insectos recolhidos em áreas remotas do Parque Nacional da Gorongosa: enormes besouros couraçados; extraordinários exemplares de gafanhotos, grilos e esperanças; e bonitos louva-a-deus, os mais refinados predadores do mundo dos insectos.

Ao entregar os espécimes, o Administrador Mutemba comentou: "É com um enorme prazer que trazemos a primeira parte das amostras dos insectos recolhidos durante a pesquisa da biodiversidade feito pelo Laboratório de Biodiversidade do Parque Nacional da Gorongosa. Todos os espécimes foram identificados por especialistas e representam as três primeiras ordens de insectos (Coleoptera, Orthoptera e Mantodea) que queremos estudar em detalhe na Gorongosa."



Por  parte do  Museu de História  Natural, a Directora afirmou que “O Museu como  parte  integrante  da Universidade  Eduardo  Mondlane é  detentor da maior colecção de insectos da região da Cahora Bassa. E como uma das funções deste Museu é o conhecimento da Biodiversidade de Moçambique, ao recebermos estas  espécimes de insectos do Parque Nacional da Gorongosa, estamos a contribuir para o  conhecimento  da  Biodiversidade desta região. Por outro  lado o depósito destes espécimes no Museu  vai ajudar aos investigadores nacionais e estrangeiros o estudo da fauna do Parque Nacional da  Gorongosa.”



O novo Laboratório de Biodiversidade do Parque Nacional da Gorongosa foi inaugurado em Março de 2014, em acto testemunhado por uma audiência impressionante de dignitários e cientistas de renome mundial. Esta nova instalação tem como um dos seus objectivos a documentação da biodiversidade de Gorongosa e da sua Zona Tampão. Equipamentos modernos e técnicas científicas são usados para recolher espécimes que são armazenados numa inovadora instalação de arquivo de colecções. Esta recolha e identificação irá desenvolver ainda mais a reputação do Parque Nacional da Gorongosa como um dos parques mais exclusivos e especiais no mundo, e melhorar significativamente a reputação da biodiversidade de Moçambique entre a comunidade científica mundial.

Uma equipe de especialistas internacionais de museus e universidades ao redor do mundo está a processar os restantes insectos recolhidos durante as pesquisas. Alguns dos espécimes são novos para a ciência, pelo que o processo de identificação e classificação leva mais tempo. Essas amostras serão enviadas para o Museu de História Natural, em devido tempo.

Depois deste começo auspicioso, o Museu de História Natural e o Parque Nacional da Gorongosa vão agora desenvolver ainda mais o seu relacionamento, a fim de melhor compreender e proteger o rico património natural do país. O Administrador Mutemba comentou: "Esperamos que esta primeira colecção represente o primeiro passo do que será uma cooperação e parceria longa e frutífera entre as nossas instituições."

O Museu de História Natural e o Laboratório de Biodiversidade da Gorongosa são parceiros naturais na busca de ampliar ainda mais o conhecimento da biodiversidade de Moçambique. O Museu tem sido historicamente o principal repositório de colecções de espécimes e actualmente possui uma diversidade impressionante de animais grandes e pequenos. As amostras colhidas em expedições futuras também serão entregues ao Museu, ampliando ainda mais as suas excelentes colecções.



Uma componente chave desta colaboração será a formação de uma nova geração de cientistas Moçambicanos, os futuros administradores do extraordinário património natural do país. Este aspecto da missão do laboratório será desenvolvido por meio de parcerias com a Universidade Eduardo Mondlane e Universidade Lúrio. Vários formandos jovens Moçambicanos já estão a trabalhar no laboratório e muitos mais irão se juntar a eles nos próximos anos.

Sobre o Parque Nacional da Gorongosa e o Projecto de Restauração da Gorongosa

O Parque Nacional da Gorongosa é o mais conhecido parque nacional de fauna bravia de Moçambique e situa-se no extremo sul do Grande Vale do Rift Africano. É o lar de alguns dos ecossistemas biologicamente mais ricos e geologicamente diversos do continente Africano. Os seus limites abrangem as grutas e desfiladeiros profundos do Planalto de Cheringoma, as vastas savanas do Vale do Rift e a preciosa floresta tropical húmida da Serra da Gorongosa. No entanto, os ecossistemas foram profundamente afectados durante o conflito civil em Moçambique (1977-1992). Depois da guerra, em 1993-1996, os caçadores ilegais incrementaram a destruição, e muitas das grandes populações de animais da Gorongosa foram reduzidas em mais de 90%.

Em 2005, a Fundação Carr, uma organização dos EUA sem fins lucrativos fundada pelo filantropo americano e conservacionista Gregory C. Carr, juntou-se com o Governo de Moçambique no âmbito de um memorando de entendimento para restaurar o Parque Nacional da Gorongosa. A parceria, conhecida como "Gorongosa Restoration Project" (GRP), é um dos mais ambiciosos esforços de restauração de parques jamais tentado (a restauração também tem beneficiado do apoio da USAID). O acordo promove o duplo objectivo de restauração de ecossistemas e melhoria do desenvolvimento humano para as comunidades locais. Até agora, o GRP revitalizou equipes anti-caça furtiva; reconstruiu infra-estruturas do parque; realizou monitorização biológica; reintroduziu herbívoros (zebras / bois-cavalos / búfalos / elefantes / hipopótamos); construiu infra-estruturas sociais para as comunidades vizinhas, centros de educação e investigação científica; estabeleceu programas de agricultura e de saúde em colaboração com os governos dos distritos vizinhos; e em 2010 o Governo de Moçambique expandiu os limites do Parque para incluir a Serra da Gorongosa e uma zona tampão de 3.300 quilómetros quadrados em torno do Parque.



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Se desejar receber mais informações sobre este assunto, ou se pretender marcar uma entrevista com as pessoas envolvidas no projecto, por favor ligue para Vasco Galante através de +258 822970010 ou envie email para vasco@gorongosa.net.

Para informações de carácter genérico, por favor consulte www.gorongosa.org

20 August 2014

138 - PROFETIZADA A EXTINÇÃO DOS ELEFANTES EM ÁFRICA

Com a devida vénia transcrevemos na íntegra o artigo publicado no Blogue BBC - BRASIL:


Elefantes podem ser extintos em cem anos na África

Atualizado em  18 de agosto, 2014 - 18:18 (Brasília) 21:18 GMT
Elefante | AFP
Especialistas estimam que desde 2010 35 mil elefantes tenham sido mortos por caçadores na África
Um dos símbolos da África, os elefantes podem desaparecer do continente em cem anos se nada for feito para frear a matança desses animais, afirmaram cientistas americanos.
Segundo eles, o número de mortes de elefantes supera atualmente o de nascimentos, provocando um desequilíbrio que pode levar à extinção da espécie.
Somente no ano passado, os especialistas estimam que, desde 2010, 35 mil elefantes tenham sido mortos todos os anos por caçadores na África.
O estudo, conduzido por cientistas da Universidade do Estado do Colorado, foi publicado na publicação científicaProceedings of the National Academy of Sciences.
De acordo com o autor da pesquisa, George Wittemyer, "nós estamos exterminando populações inteiras de elefantes no continente".

Perda irreparável

O comércio ilegal de presas de elefantes seria um dos fatores por trás do número crescente de mortes desses animais, acreditam os estudiosos.
Segundo eles, o tráfico desse tipo de produto cresceu exponencialmente nos últimos anos e um quilo de marfim pode valer hoje milhares de dólares. Muita da demanda vem de um mercado em ascensão na Ásia.
Enquanto ambientalistas sempre disseram que a perspectiva era desoladora, o estudo fornece uma avaliação detalhada do impacto desse comércio na população de elefantes africanos.
Os pesquisadores descobriram, por exemplo, que entre 2010 e 2013, o número desses animais caiu a uma média anual de 7% no continente.
Como os elefantes crescem a uma taxa de 5% anualmente, o resultado é que mais animais morrem do que nascem.
Julian Blanc, da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites, na sigla em inglês), que também participou do estudo, afirmou: "Se isso se sustentar, nós vamos observar reduções significativas na população desses animais nos próximos anos".
Homem segura presas de elefante | AFP
Comércio ilegal de marfim estaria por trás da alta mortalidade de elefantes
"Outra coisa a se ter em mente é que áreas diferentes também são afetadas de forma diferente".
"Ainda há populações de elefantes aumentando de tamanho em partes da África, como Botsuana. Mas em outros lugares, a taxa de animais mortos vítimas de caçadores é extremamente alta. Esse é o caso, por exemplo, da África Central".
Na região, a estimativa é de que o número de elefantes caiu cerca de 60% na última década.
Para Wittemyer, "estamos falando da aniquilação do maior e mais velhos dos elefantes".
"Isso significa a destruição de machos reprodutores primários e de matriarcas de famílias inteiras e mães. Isso deixa para trás muitos elefantes jovens órfãos e clãs despedaçados".
Ambientalistas defendem medidas urgentes contra a mortandade de elefantes.
Para John Scanlon, secretário-geral da Cites, "o mundo precisa decidir quanto mais esforço quer colocar na preservação dessa magnífica espécie e se está preparado para mobilizar os recursos humanos e financeiros necessários para isso".
"Em termos concretos, precisamos nos concentrar na linha de frente e enfrentar todos os elos da cadeia de comércio ilegal de marfim – melhorando os meios de subsistência locais (para aqueles que co-habitam com elefantes), fortalecer a execução das leis e da governança e reduzir a demanda pelo marfim ilegal".
(Fim de citação)

NOTA FINAL:
Este assunto tem sido debatido nos últimos trinta anos por imensos cientistas (e não só), nomeadamente desde que foram feitos estudos minuciosos sobre a situação do Elefante em África. Não é novidade, pois, que os cientistas da  Universidade do Estado do Colorado, venham, ao fim de tantos anos, chegar a uma conclusão que já foi aventada (profetizada) por imensos seus colegas.
Não sou cientista, mas na minha qualidade de simples expert, também há vários anos que tenho a mesma opinião e sustento-a com convicção porque acompanho as notícias que nos dão conta das  razias feitas nesta espécie em todo o continente africano. À medida em que os rinocerontes foram sendo dizimados em toda a parte, os elefantes passaram  a ser o alvo de semelhante barbárie. O seu valioso marfim, passou a substituir a fonte de receita que os cornos de rinoceronte sustentava as redes organizadas do seu tráfico para os países asiáticos. 
Até hoje, as organizações internacionais de protecção à fauna bravia, não conseguiram acabar com essas redes. E cremos que nunca o vão conseguir. Era preciso que se acabasse primeiro com a corrupção que grassa nas autoridades dos países que abrem as portas ( fronteiras) a esses  traficantes, que são os principais causadores do desaparecimento destas e outras espécies cujos troféus (e até alguns despojos) valem milhões nesses países.
20 de Agosto de 2014
Celestino Gonçalves



13 August 2014

137 - MEDIDAS DRÁSTICAS PARA EVITAR A EXTINÇÃO DOS RINOCERONTES


Com a devida vénia, transcrevo a notícia acabada de publicar no "Moçambique para Todos", do nosso amigo Fernando Gil:

África do Sul Retira Centenas de Rinocerontes do Parque Kruger Devido a Caçadores Furtivos

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Kruger_photo_jpgA África do Sul vai retirar centenas de rinocerontes do célebre parque Kruger, na fronteira com Moçambique, com o objectivo de parar a caça furtiva que tem dizimado a espécie.
“Tomámos uma decisão sobre o assunto da deslocação”, declarou Edna Molewa em conferência de imprensa, confirmando a decisão de capturar e enviar centenas de animais para outras reservas do país ou para o estrangeiro.
Nos últimos anos a África do Sul tem destacado forças militares para o parque para tentar dissuadir os caçadores furtivos, que vêm essencialmente de Moçambique.
A Fundação Internacional do Rinoceronte divulgou em Julho que desde 2010 perto de 1.862 rinocerontes foram abatidos no parque Kruger por cidadãos moçambicanos.
“Iremos deslocar perto de 500 animais”, precisou Sam Ferreira, um cientista que trabalha nos parques nacionais sul-africanos, presente na conferência com a ministra.

No último recenseamento, realizado em 2013, a população de rinocerontes no parque Kruger, que tem perto de 400 quilómetros fronteiriços com Moçambique, foi estimada em entre 8.400 e 9.600 animais.
Nos primeiros seis meses deste ano, 558 rinocerontes foram mortos na África do Sul, 370 deles no parque Kruger.
A caça furtiva cresceu exponencialmente no fim da década 2000-10, devido ao aumento da procura de chifre de rinoceronte, especialmente nos mercados do Vietname e da China.
A medicina tradicional chinesa atribui propriedades estimulantes e revitalizantes, nenhuma delas comprovada cientificamente, ao chifre de rinoceronte, que é vendido a preços elevados no mercado negro.
Lusa – 13.08.2014

22 May 2014

136 - O DRAMA DA CAÇA FURTIVA AO ELEFANTE EM MOÇAMBIIQUE


UMA TRAGÉDIA EM VISTA - A EXTINÇÃO EM MOÇAMBIQUE DA MAIOR ESPÉCIE TERRESTRE - O ELEFANTE, TAL COMO JÁ SUCEDEU COM O RINOCERONTE

São muitas as notícias que nos últimos 5 anos nos chegam sobre a caça furtiva em Moçambique.

Não sendo esta criminosa prática  novidade para quem, como nós, esteve ligado à caça naquele país, durante o período colonial, a verdade é que são assustadoras as estatísticas actuais que revelam autênticos massacres dos grandes animais, nomeadamente o elefante, a espécie que  neste período foi reduzida em mais de cinquenta por cento dos seus efectivos calculados no início da primeira década deste século.

Trata-se de uma tragédia de incalculáveis dimensões, que as autoridades do país não conseguem resolver e que certamente vai ter consequências idênticas às que sucederam com os Rinocerontes (endémicos e introduzidos) que foram já levados à extinção em todo o território.

Não é nossa pretensão vir aqui dar lições de como as autoridades de Moçambique devem proceder para evitar semelhante calamidade, pois o sector da fauna bravia responsável pela conservação tem desde há muito bons técnicos, muitos deles fervorosos defensores desta causa, que é universal. Mas não deixamos de referir que o problema reside na política do governo (ou falta dela), que não dá ao sector o apoio de que ele necessita para combater os furtivos e, por outro lado, não pune com rigor aqueles que são apanhados, alguns deles funcionários públicos e do partido governante. 

Também não podemos deixar de assinalar que o "fenómeno chinês" em Moçambique ligado às explorações da madeira, do ouro, etc, tem sido referido como um dos principais motivadores do recrudescimento da caça furtiva nos últimos anos.

Apoio técnico e financeiro internacional não tem faltado em Moçambique,  desde 1994, altura em que foi restaurado o sector responsável pela conservação da fauna bravia, sendo bem conhecidos os sucessos alcançados sobretudo  no Parque Nacional da Gorongosa, onde a partir de 2004 o projecto da Fundação Carr conseguiu um autêntico milagre de restauração.

O próprio Projecto do Niassa, durante os dez anos de contrato da parceria Governo/Instituições Privadas, foi igualmente exemplar, criando ali condições que atraíram as atenções de todo o mundo, passando a região, até ali desconhecida, a ser considerada das mais importantes em África para a prática de safaris genuínos, devido à abundância e variedade de espécies em espaços de pouca densidade humana e com florestas e savanas praticamente virgens numa imensidão de milhares de quilómetros quadrados.

A reportagem que abaixo transcrevemos, fala-nos precisamente dessa região e dá-nos informação concludente do declínio vertiginoso da fauna nos últimos anos, quer na Reserva, quer nos   Blocos subjacentes destinados a exploração do turismo cinegético 

Mais recentemente chegaram notícias igualmente   alarmantes sobre a caça furtiva na Reserva do Maputo, onde de há cinco anos a esta parte tem vindo a ser executado um importante projecto de reintrodução de espécies, projecto este que está já a ser posto em causa devido a tal situação.

Triste e lamentável situação!


Celestino Gonçalves



              REPORTAGEM DO JORNAL MOÇAMBICANO   "@VERDADE"

O drama da caça furtiva ao elefante em Moçambique

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Elefante caca furtivaÀ semelhança da redução da mancha florestal, em virtude do contrabando da madeira, de Moçambique para a China – com o envolvimento dos nossos líderes políticos –, a caça furtiva segue a mesma rota. De 2009 a 2013 foram abatidos 9.345 elefantes, quase metade dos 20.374 paquidermes que constituíam a espécie na altura. O drama é que tudo ocorre perante o olhar cúmplice de quem, por direito, além de criar, deve fazer cumprir a lei...
Das outras espécies, no seu todo, na Reserva Nacional do Niassa, em 2011, existiam 13.061 animais, uma quantidade que – no ano seguinte – reduziu para 12.029. No entanto, em 2009, a família de elefantes, com 20.274, um pico alcançado naquela reserva, era a mais alargada. Pensa-se que o fenómeno deve ter decorrido da fuga desses mamíferos de outras regiões do país e da região da África Austral à procura de segurança na província do Niassa. O drama, tomando em conta a legislação moçambicana a favor da protecção da fauna bravia, não tem explicação, é que, dois anos depois, em 2011, esta quantidade reduziu drasticamente.
Enquanto se espera pelos resultados do senso agendado para 2014, ainda não há dados sistematizados a nível nacional sobre a situação actual. Todavia, o abate de elefantes é uma actuação diária, sem contar com as carcaças que não são encontradas que, por isso, acabam por ficar à margem das estatísticas da Reserva Nacional do Niassa.
O último senso, realizado em 2011, registou 2.627 carcaças encontradas nas quatro categorias existentes segundo as idades: a primeira compreende um intervalo de 24 horas e um mês. A segunda é composta por animais com entre um e 11 meses. A terceira é constituída por indivíduos de nove anos e 11 meses, enquanto na quarta e última categoria figuram os animais com mais de 10 anos. A maior parte das carcaças encontradas pertencem ao quarto grupo e totalizam 2.084, das quais 300 são actuais.
Armas envolvidas
No Bloco L-7 da Reserva Nacional do Niassa, sobretudo na coutada Luwire, ocorrem muitos episódios de caça furtiva. Na sua maioria são protagonizados por alguns chefes de tribos. Por exemplo, o chefe da comunidade de Gogemo, em Mussoma, no distrito de Mecula, Paulo Raul, foi capturado com 18 munições para armas de calibre 375 e 458. Agostinho Mungua e Raimundo Miquidade, ambos de Mussoma, também foram interpelados e detidos pelas autoridades locais, pelas mesmas razões. Existem caçadores furtivos oriundos da Tanzânia que operam numa das margens da reserva, e os naturais de Mussoma que actuam em Luwire-Lugenda.
Em Musssoma, existe um caçador furtivo conhecido pelo nome de Paulo Nhenge, que desenvolve a sua actividade em Luwire na companhia de Agostinho Mungua e Carlos Ussene Maito, secretário do partido Frelimo em Mecula. “Conseguimos recuperar uma arma de caça e dez pontas de marfim”, refere o administrador da Reserva Nacional do Niassa, Cornélio Miguel. Paulo Nhenge está na posse de duas armas, duas armas de calibres 375 e 458 provenientes de um somali que foram usadas pelos caçadores no abate de um elefante que lhes valeu 400 quilos de marfim, no interior de Luwire, na Reserva Nacional do Niassa. O cidadão somali enganou os caçadores e carregadores nacionais dizendo que voltaria para lhes pagar o dinheiro combinado, deixando-lhes como garantia as armas.
PRM envolvida
Em conexão com o chefe tradicional de Mpamanta, um comandante distrital da PRM conhecido pelo nome Gelo, introduziu duas AKM-47 na zona da concessão de Luwire (L-7) e abateu um búfalo. No entanto, como alguns elementos envolvidos no negócio não tiraram proveito da carne, instalou-se uma intriga no seio da gangue. Em resultado disso, o comandante distrital da PRPM teve de recolher as armas antes de abater um elefante. O assunto que gerou o imbróglio conduziu à cessação de funções do secretário do partido Frelimo de Mpamanta. Por outro lado, Carlos Ussene Maito, o actual secretário do partido Frelimo em Mecula, criou uma intriga que – tendo conduzido o seu antecessor, Lopes Arida, à cessação de funções – o conduziu ao estágio em que se encontra.
Fiscais ameaçados
“A minha vida está em perigo. Os caçadores furtivos são soltos. Por exemplo, tenho os casos de Agostinho Mungua, Paulo Raul e Raimundo Miquidade todos naturais de Mussoma, e já estão a criar condições para o meu assassinato. Não tem sido uma missão fácil trabalhar aqui. Tivemos o registo de alguns tanzanianos, somalis e quenianos envolvidos no abate de elefantes. No entanto, vezes sem conta, quando os fiscais encontram os caçadores furtivos há troca de tiros, o que faz com que muitas vezes eles abandonem o terreno deixando as suas armas”, narrou um fiscal cujo nome não revelamos para salvaguardar a sua segurança. Um outro fiscal contactado pela nossa reportagem referiu que “na Reserva Nacional do Niassa existe uma zona “especial”, explorada unicamente por membros do Governo moçambicano. Por isso, a mesma é interdita aos fiscais. Localiza-se perto do distrito. E lá podemos encontrar 50 carcaças de elefantes abatidos”.
Entretanto, alguns homens da guarda fronteira trabalham em conexão com a Polícia para abater elefantes. “Uma senhora casada com um tanzaniano contou-me que o seu marido compra munições nos agentes da PRM, para a sua actividade ilegal em Matondovela, no monte Lissimba, área de Mecula”, revelou o fiscal que solicitou que o mantivéssemos no anonimato. Na fronteira entre Moçambique e Tanzânia, a polícia da guarda fronteira moçambicana não trabalha, necessariamente, a favor do Governo moçambicano. Especializou-se na caça furtiva e na exploração ilegal da madeira que constituem actividades que valem mais sob o ponto de vista financeiro. Então, eles são o elo entre os produtos e o mercado estrangeiro.
Entretanto, no meio de tanta criminalidade, ainda existem algumas pessoas que prezam a honestidade: “A minha vida está em perigo. Também existem outras ameaças, mas continuo a fazer o meu serviço, mesmo com a existência de alguns colegas que colaboram com os caçadores furtivos”. Além do mais, “estes animais são nossos. Eu tenho de mantê-los em conservação. Os estrangeiros afectos nessas coutadas nunca as poderão levar. Um fiscal de nome Matequenha que actuava no afugentamento ficou sem a arma e as munições por causa da caça furtiva. Também fui contratado para usar esta arma na caça furtiva, sou ajuramentado, por isso recusei”, refere um fiscal.
As rotas do marfim
Na entrada da fronteira entre Tanzânia e Moçambique, a reserva tem cerca de 410 quilómetros, onde a caça furtiva vem sendo praticada em regime de sindicatos organizados. Eles têm equipamento, técnicas, e conhecimentos no uso de material bélico para o abate de animais. Alguns entram através da cidade de Pemba, outros vão pelos distritos de Moeda e de Montepuez, mas a maioria dos caçadores furtivos utiliza a linha da fronteira. Existem caçadores furtivos do distrito de Marupá-Mecula, em Niassa, que estão acantonados na província de Cabo Delgado. Por outro lado, em Montepuez, na província de Cabo Delgado, existe o centro de instrução militar que facilita a venda de armamento e munições para a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa.
Os maiores vendedores do marfim são cidadãos tanzanianos, mas compram-no em Moçambique. Quando vêem com os seus próprios caçadores, eles é que abatem os paquidermes. As pessoas que carregam o bicho, e as que dirigem o carro mostrando- -lhes as regiões seguras, todas recebem uma comissão pelo seu trabalho. Em Marrupa há sempre alguns chineses estacionados à espera da compra do marfim.
A nossa reportagem simulou uma compra das pontas de marfim, o que nos possibilitou conversar com os vendedores, ver e manusear os produtos. Sabe-se que, em Maputo, uma das lojas se localiza na Praça 25 de Junho, e pertence à Associação dos Artesãos da Cidade de Pemba. No norte de Moçambique, o marfim entra na Tanzânia através da Ponte da Unidade, das aldeias Msisiwe, Magazing, Matwiga, incluindo as zonas de Lokwika Game Camp, Ruaha, as áreas de Arusha e Masasi, de onde o produto chega ao porto de Dar Es-Salaam através da estrada Iringa – Dodoma e é exportado para a China. Os cidadãos deste país que trabalham na construção da via também estão envolvidos nestes actos ilícitos.
A lei moçambicana
A actual lei moçambicana de conservação da floresta e fauna bravia favorece os sindicatos do crime de “colarinho branco”, e, embora já exista uma nova proposta para a sua revisão, submetida ao Parlamento moçambicano, a mesma só estipula uma pena de prisão de 2 a 8 anos para os criminosos. Por isso, “sentimos que a nossa legislação não penaliza as infracções do sector florestal e faunístico. Ela actua mais para questões que têm a ver com as queimadas descontroladas”, comenta um fiscal. De acordo com Cornélio Miguel, no Kruger Park fomenta-se a caça furtiva com recurso ao suborno – cerca de 270 mil meticais – mas, infelizmente, em nenhuma parte da legislação há um artigo específico sobre esse assunto.
Por outro lado, o sistema de segurança dos parques e reservas nacionais é fragilizado pela existência de falsos fiscais infiltrados que, estando a trabalhar no sector, pesquisam sobre como o mesmo funciona. “Realmente existem muitos espiões na nossa segurança. Por exemplo, Zito António Nacamo e o seu tio Paulo Nhenge têm duas armas de caça. Já trabalharam juntos e ele já foi denunciado por um seu amigo segundo o qual o infractor teria roubado uma arma de fogo para a prática de caça furtiva”.
Estácios Valoi
@VERDADE – 30.01.2014

19 May 2014

135 - MERECIDA HOMENAGEM A UM GRANDE CAÇADOR GUIA



LUÍS PEDRO SÁ E MELLO - O HOMENAGEADO

O consagrado e mais antigo caçador guia português em actividade, LUIS PEDRO SÁ E MELLO, foi homenageado pelo Safari Club International - Lusitânia Chapter, numa cerimónia que decorreu durante o Jantar de Gala realizado no passado sábado, em Santarém, no restaurante do pavilhão onde decorreu a Expocaça/2014.

Trata-se de uma honrosa distinção que o SCI-Lusitânia concede a figuras que se destacam no mundo da caça, não só pela sua competência nas artes de caça, mas pelo conjunto de qualidades onde se destacam a ética desportiva, o respeito pelas leis reguladoras do exercício cinegético e a acção conservacionista dos praticantes.

O Luís Pedro, com uma carreira profissional com mais de 50 anos, iniciada em Moçambique, onde nasceu, e continuada noutros países  africanos como África do Sul, República Centro Africana, Sudão, Zimbábwé, Camarões e Tanzânia, reune todas essas condições e tem no seu longo palmarés destacados sucessos cinegéticos e acções preponderantes no campo da conservação das espécies bravias, que lhe mereceram rasgados elogios das entidades ligadas ao sector da fauna dos países onde actuou. O próprio Safari Club International (USA) o distinguiu nomeando-o entre os melhores cinco caçadores para o prémio do melhor caçador do ano de 2003.

Tive o privilégio de participar no jantar do SCI-Lusitânia, na qualidade de  amigo do homenageado e por ter sido convidado  a dar a minha contribuição na apresentação do seu currículo relativo ao percurso profissional em Moçambique, que decorreu de 1962 a 1974.

Na apresentação desse currículo salientei os aspectos mais relevantes desse percurso, nomeadamente as suas qualidades profissionais e humanas, a sua dedicação à causa da conservação da fauna bravia e ao seu envolvimento voluntário nas acções governamentais no combate à caça furtiva. Referi ainda os seus sucessos na condução de safaris que levaram os turistas caçadores a obter troféus de classe recorde, e destaquei o safari oficial em que foi abatido um soberbo elefante com presas de 65,00Kg cada, proeza que não acontecia desde há muitos anos em Moçambique e que não voltou a registar-se até hoje.

O presidente do SCI-Lusitânia, João Corseiro, complementou a apresentação do homenageado referindo-se às suas origens, à formação como caçador antes de se tornar profissional e depois fez uma descrição da sua carreira nos vários países africanos onde tem actuado desde que saiu de Moçambique em 1976. Referindo-se à sua nomeação por parte do SCI-USA, em 2003, para o prémio do melhor caçador do ano, salientou que era sua convicção que tal prémio não lhe foi atribuido por não ter havido o cuidado de incluir no processo de candidatura um capítulo descritivo das suas qualidades conservacionistas e da acção preponderante como colaborador das autoridades no combate à caça  furtiva.

O homenageado recebeu das mãos do seu filho João Pedro a placa evocativa desta homenagem, momento em que ficou visivelmente comovido e só com dificuldade fez os agradecimentos ao SCI-Lusitânia e aos presentes, terminando a sua breve e emotiva intervenção dedicando a homenagem à sua Família e aos caçadores de Portugal.

Reitero os parabéns já apresentados pessoalmente ao amigo Luís Pedro e sua Família, desejando-lhe uma longa vida e muitos mais sucessos profissionais 

Foram registados em fotografia alguns momentos da cerimónia, que 
se seguem para memória de quem esteve presente neste bem organizado Jantar de Gala e conhecimento de quem visitar esta página.

Depois das fotos da cerimónia segue-se a transcrição do "Álbum de Recordações" que dediquei ao Luís Pedro Sá Mello no ano 2000 e que o tempo e as constantes alterações nos sistemas informáticos fizeram desaparecer ou simplesmente alterar, como foi o caso de extinção do site da Geocities, onde estava inserido desde aquele ano e depois  na postagem de 2007 neste Blogue.

Lisboa, 19 de Maio de 2014

Celestino Gonçalves


O Luís Pedro, antes da cerimónia, visitou o pavilhão do SCI-Lusitânia, de que é membro


Mesa do homenageado, família e convidados. À esqª do LP está o ilustre médico cirurgião Dr. Carlos Martins

O presidente do SCI-Lusitânia, João Corseiro, no momento dos aplausos após a apresentação
 do homenageado

Celestino Gonçalves durante a descrição do percurso profissional do
Luís Pedro em Moçambique

O homenageado recebendo do seu filho João Pedro (também caçador guia) a placa evocativa 
oferecida pelo SCI-Lusitância, sob as vistas do seu presidente

 O abraço de felicitações entre pai e filho

Momento dos agradecimentos do homenageado 

Luís Pedro com os familiares presentes e o casal Gonçalves

Felicitações do representante do SCI-USA na Europa, Norbert Ullmann

Felicitações do Dr. Appleton,  industrial de safaris que opera em Moçambique

Luís Pedro, filho João e Celestino



Uma pose final de dois amigos caldeados durante a "época de ouro"
dos safaris em Moçambique - Celestino e Luís Pedro




RECORDANDO O


ÁLBUM DE RECORDAÇÕES
(Ano 2000)
LUÍS PEDRO SÁ E MELLO
(Caçador-Guia)

 Foto recente do Luis Pedro  Sá e Mello 
Esta emblemática foto documentou uma excelente reportagem sobre um safari conduzido por este caçador no Zimbabwe – Revista “Grande Reportagem”, Novº 99.
Nascido em 1940, em Lourenço Marques (actual Maputo), o Luis Pedro viveu e estudou na cidade de Quelimane, capital da província da Zambézia, até aos 21 anos. Pertence a uma família numerosa e muito conhecida na época em Moçambique – os Sá Mellos. Entre pais, tios e primos, este clã seria provávelmente o mais numeroso entre os portugueses  radicados naquela província e as suas actividades tornavam-nos muito conhecidos já que ocupavam lugares de direcção, quer no Estado quer na príncipal companhia agrícola  e outras actividades da região.
Desde novo que se apaixonou pela caça, (aos 14 anos abateu o seu primeiro búfalo) beneficiando da experiência de alguns dos seus familiares que o levavam  às caçadas com muita frequência. Conheceu assim a pujança faunística de zonas famosas como Morrumbala, Mopeia e Gilé, recordando-as com saudade sempre que se fala da situação que a fauna bravia de Moçambique atravessa actualmente !
Iniciou a actividade de caçador-guia em 1962, após ter cumprido o serviço militar, tendo feito a sua carreira no sul de Moçambique,  Coutadas 16 e 17. No final da década de 60 era já considerado um dos melhores caçadores-guias de Moçambique com renome internacional. Esta situação não passou despercebida aos Serviços da Fauna que passaram a dispensar-lhe certa atenção e até a requisitar a sua colaboração nomeadamente para acções decorrentes na região do alto Limpopo que ele bem conhecia e cuja língua local dominava com facilidade. Participou em várias acções de combate à caça furtiva e destacou-se sobretudo em duas missões: nos trabalhos de reconhecimento da região do Banhine, em 1971, com vista à criação do Parque Nacional com o mesmo nome e no safari oficial do membro do governo (Secretário Provincial de Terras e Povoamento) Engº Martins Santareno, em 1973, que culminou com o abate de um elefante de grandes proporções.



A equipa que efectuou os trabalhos de reconhecimento  da região de Banhine em 1971 
(em 1973 viria a ser criado o Parque Nacional com este nome).
 Da  esquerda para a direita:
Luis Pedro  Sá e Mello, o autor desta página, o Professor Dr. Jaime Travassos Dias (Director da Faculdade de Veterinária e Presidente da Associação de Protecção da Natureza de Moçambique) e Dr. Armando José Rosinha (Director dos Serviços de Fauna Bravia).
  



safari do Engº Santareno


 O Engº Martins Santareno (à esquerda) e o caçador-guia Luis Pedro  Sá e Mello, junto do enorme elefante abatido durante o safari oficial daquele membro do governo.

O safari  acima  referido decorreu na Coutada oficial 16, na provincia de Gaza, no mês de Novembro de 1973 e foi objecto de algumas especulações na época. Conjecturou-se que o abate do elefante teria sido efectuado com a utilização de um helicóptero e houve quem levantasse o problema da legalidade de tal abate. Não faltou quem tentasse pressionar as autoridades da fauna para que os troféus – duas belas pontas de marfim com 65 Kg cada – fossem retirados ao autor do abate e entregues ao Museu Álvaro de Castro (actual Museu de História Natural). A verdade é que as leis da caça de então previam a concessão de autorizações especiais aos membros do governo e a caçada ao elefante até fora supervisioada por representantes dos Serviços da Fauna. Não houve qualquer irregularidade e o Engº Santareno  pôde assim ficar na posse de tão bonitos e importantes troféus!
O abate de um elefante destas proporções já não ocorria há mais de vinte anos em Moçambique ! Até hoje não voltou a ser visto outro semelhante neste país e provávelmente não voltará a existir!
 Foi opinião generalisada entre caçadores que conheciam a região, incluindo do próprio Luis Pedro, que este elefante se encontrava há poucos dias no território moçambicano, vindo do vizinho Kruger Park, da África do Sul, cuja fronteira na época não dispunha de barreiras que impedissem a passagem destes paquidermes. Eu próprio corroborei esta teoria, pois conheci bem a região quando ali prestei, dezanove anos antes, como administrativo no Pafúri e nessa altura eram frequentes as incursões no interior do território de Moçambique de elefantes saídos daquele Parque, nomeadamente de machos solitários em busca de manadas receptivas.
Vinte e sete anos depois deste acontecimento (em Junho último) o Luis Pedro voltou a descrever-nos a caçada com todos os seus pormenores emocionantes, reavivando-nos assim a memória de factos que na altura bem conhecemos, dos   quais ele muito se orgulha por ter sido um dos protagonistas e responsável por aquela que viria a ser considerada uma das caçadas mais célebres em Moçambique !



Escutado atentamente pelo Dr Armando Rosinha (ao fundo),  por seu filho João Pedro
(em primeiro plano) e pelo autor desta página  (não visível na foto), o Luis Pedro quando
descrevia  a caçada ao elefante abatido pelo Engº Santareno em 1973, na Coutada 16,
caçada essa que ele conduziu e  que ficou famosa pelas dimensões e pêso das presas de marfim 



Um currículo invejável ! 
O Luis Pedro  Sá e Mello, actualmente, será o caçador-guia português que actuou em Moçambique com maior currículo nesta actividade. Ele saíu do país que o viu nascer logo após a independência pela razão única de terem sido suspensas, a partir de 1975, as actividades de caça. Tal como a maioria dos caçadores da época, rumou para outros países africanos, passando pelo Sudão, República Centro Africana, Camarões, Zimbabwe, África do Sul e nos últimos anos na Tanzania ao serviço da prestigiosa empresa “Tanganyika Wildlife Safari”. Em todos estes países tem somado  êxitos sobre êxitos encontrando-se cotado entre os melhores  Professional Hunters que actuam em África !
Poucos são já os portugueses que exercem esta arrojada actividade. Ele é o único entre os 20 caçadores-guias brancos que trabalham na referida empresa concessionária das afamadas áreas de “SELOUS GAME RESERVE”, “RUVU MASAI” e “KITWAI”.
Trinta e oito anos de actividade ininterrupta numa profissão desgastante como é a de caçador-guia em África, é um admirável record entre os portugueses que o Luis Pedro diz não ficar por aqui já que a sua forte paixão por este tipo de vida e o facto de ter uma saúde de ferro, o prendem a novos contratos !



Um belo exemplar de Leão (Panthera leo) é sempre orgulho de qualquer caçador, mesmo que a sua participação no abate seja, como neste caso, a de organizador e condutor da respectiva caçada ! 
(safari recente na Tanzania).

Conhecedor profundo da fauna africana  e estudioso dos problemas envolventes, tem  sido convidado a escrever artigos para revistas deste fôro nomeadamente nos Estados Unidos da América, assim como para proferir palestras em Clubes de caçadores de vários países.  É membro de várias organizações como o prestigiado Safari Club International (USA),  do Game Coin (USA), da International Professional Hunters Association of South Africa (África do Sul) (fundador) e da Association de la Chasse Professionnel (França). É ainda medidor oficial do Rowland Ward’s – Records of big Game, a mais antiga e principal organização mundial que coordena e publica em edições periódicas especiais as listas dos animais bravios abatidos em todo o mundo e nomes dos respectivos caçadores, cujos medidas se enquadram nos limites estabelecidos para figurarem nos anais dos melhores troféus.


O mais pequeno dos animais classificados como os “Big Five” africanos – o leopardo (Panthera pardus) (os restantes são: Elefante, Rinoceronte, Búfalo e Leão) é dos mais difíceis de caçar precisamente pelos hábitos silvestres que o encobrem fácilmente da vista dos caçadores. 
Tal como acontece com o Leão, as artes de caça a este felino envolvem um trabalho aturado por parte dos guias e seus auxiliares ao longo de vários dias, por vezes durante todos quantos dura o safari e nem sempre é coroado de êxito.
Daí serem estes troféus muito desejados por todos os caçadores-turistas, como este que está na foto (à esquerda) e cuja satisfação é bem patente no seu rosto !
  


Uma família de caçadores 
Um outro aspecto curioso que torna este caçador-guia ainda mais emblemático é o facto de ser filho de um caçador – António  Sá e Mello – e ter um filho – João Pedro Sá e Mello – também caçador, todos eles guias profissionais ! O pai, já falecido, depois de uma carreira  diferente na província da Zambézia passou os seus últimos dez anos como caçador-guia nas Coutadas do sul de Moçambique. O filho, ainda jovem quando a família se radicou em Portugal em 1975, acabaria também por escolher a profissão do pai e dedicar-se a partir de 1992, na Tanzania, a esta apaixonante actividade, frequentando mais tarde, em 1996, um curso de caçador profissional numa escola da especialidade na África do Sul.
Três gerações abarcando ideais comuns numa vida sertaneja africana tão árdua quanto emotiva, é herança de que muito se deve orgulhar esta família !
Acresce ainda que mais um outro caçador profissional , o José Afonso Ruiz (já falecido), que foi concessionário da Coutada 17, fazia também parte desta família: era tio da mãe do João Pedro, portanto tio avô deste!



Como filho de peixe sabe nadar, o João Pedro não deixa os créditos da família mal parados e como caçador-guia tem já um currículo apreciável ! 
Na foto junto de um excelente troféu – búfalo (Syncerus caffer) – abatido na Tanzania. 


Uma vida atribulada ! 
Encontrar o Luis Pedro durante o período das suas férias em Portugal é muito difícil!  Por norma passa seis meses em África (entre Junho e Dezembro) directamente ocupado nos safaris. Os restantes seis meses divide-os entre a família em Portugal e as viagens para outros países  para cumprir compromissos ligados à sua profissão. É a missão de propaganda dos safaris na sua empresa; são as solicitações para visitar clubes de caçadores e proferir palestras; são os convites dos amigos para efectuar caçadas fora do ambiente africano ( a última caçada foi na Argentina, em Abril último, onde abateu um veado “Colorado” com 16 pontas e direito a figurar no Rowland Ward’s).
Uma catrefa de tarefas que o ocupam mais tempo do que aquele que a família e os amigos próximos desejavam !
Em Portugal o Luis Pedro foi já objecto de atenções por parte da comunicação social, nomeadamente a Rádio Televisão Portuguesa que seguiu um dos seus safaris no Zimbabwe e integrou a respectiva reportagem no seu programa “Portugal Sem Fim”. Ao mesmo tempo a revista “Grande Reportagem”, na sua edição de Novembro de 1999 inseriu uma bela reportagem paralela ao trabalho da RTP, fazendo-se assim juz ao valor deste profissional que, como muito bem se diz nesta mesma reportagem, “…..continua a caçar na tradição dos nossos velhos sertanejos, esses exploradores anónimos do século passado que, em verdade se diga, desvendaram bem mais do interior de África que todos os Livingstone deste mundo.”

 
Nos últimos 25 anos este foi o quarto encontro com o Luis Pedro  
Na foto estão,  para além dele  (ao centro),  o Dr. Armando Rosinha (à esquerda) e o autor  (à direita).
Local:  o cantinho onde se dá forma a esta página – o escritório da casa Marrabenta. Data: 15 de Junho de 2000.
Marrabenta, Outubro de 2000
 
Celestino Gonçalves