14 December 2008

44 - CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO (7)


CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO

(7)

FÉRIAS EM MOÇAMBIQUE

(2008/2009)

ENCONTRO COM GREG CARR, O AMERICANO QUE ESTÁ A RESTAURAR O PARQUE DA GORONGOSA

Grácio Abdula, Zacarias Abdula, Celestino e Greg Carr, durante o encontro no Polana




Este nome - Greg Carr - não passa despercebido a ninguém, tão badalado tem sido, desde 2005, quando este famoso americano iniciou o seu projecto de restauração do Parque Nacional da Gorongosa!

Famoso já ele era antes de chegar a Moçambique, porque o mundo inteiro o conhece pela sua acção no campo da informática, como inventor do Voice Mail digital, que o tornou milionário. Criou a sua Fundação - a Carr Foundation - e através dela desenvolve acções de filantropia que em Moçambique estão viradas para o bem estar das populações rurais, para além daquele Projecto, um investimento que envolve quarenta milhões de dólares americanos!

Mais famoso se tornou quando começou a aparecer nas televisões de todo o mundo como salvador de um dos mais belos santuários da vida bravia de África, que é aquele famoso Parque situado no interior da zona centro de Moçambique. Ainda recentemente a SIC passou em Portugal um documentário da série "60 Minutos" ,da cadeia de TV americana CBS, integralmente dedicado ao Parque da Gorongosa e que é um dos muitos programas televisivos já produzidos sobre o mesmo Parque, onde o Greg Carr aparece como um verdadeiro herói, não só como amigo dos animais, mas também das populações humanas!

A minha ligação profissional à Gorongosa, iniciada em 1963 e que se prolongou até 1990, não passou despercebida a este famoso homem, quando, na fase inicial do seu projecto, teve a preocupação de auscultar todos aqueles que no passado fizeram parte da administração e das equipas técnicas deste Parque. Com bastante pena, declinei o honroso convite que na altura me fez para integrar o seu staff, uma atitude que foi compreendida quando argumentei que a minha idade já não era própria para desempenhar as duras tarefas que o respectivo cargo exige!

Passei a fazer parte de um grupo de "Amigos da Gorongosa", que divulgam o Parque na Internet, entre eles o António Jorge (TóJó), tão bem conhecido pela alta qualidade dos seus sites e pelo manancial de informação que ali coloca, tanto actual como histórica, incluindo aquela que é recebida directamente do próprio Parque através do seu departamento de comunicação que é dirigido pelo nosso compatriota Vasco Galante.

A primeira vez que fui ao Parque depois que o Projecto Carr ali iniciou o seu programa de reabilitação, em 2005, foi em Novembro de 2006. Tive então a confirmação dos progressos que vinham sendo anunciados e observei com grande satisfação que os trabalhos ali em curso caminhavam a bom ritmo e indicavam que a recuperação deste belo santuário era uma realidade. O aumento dos efectivos dos animais, quer regressados quer introduzidos, assim como o restauro das infraestruturas destruídas durante a guerra civil, os novos empreendimentos no Chitengo, a construção de novas pontes e o santuário de adaptação de animais, eram os aspectos mais positivos, sem esquecer o bom trabalho também desempenhado pelo projecto na recuperação florestal da Serra da Gorongosa, nas acções de formação de quadros e no apoio às populações periférica.

Acerca daquela visita escrevi uma crónica para o "My Gorongosa", - http://my.gorongosa.net/ - um site secundário lincado ao site oficial do Parque - http://www.gorongosa.net/ - e criado pelo Projecto Carr para colaboradores e amigos do Parque. Ali deixei as minhas impressões e estabeleci comparações entre o que vira na minha anterior visita, em 2000, e o que então observei, concluindo que os progressos alcançados nos últimos anos foram realmente grandes, sendo mais de noventa por cento da responsabilidade do mesmo projecto!

Sem ter voltado à Gorongosa (espero fazê-lo em Fevereiro próximo), tenho contudo acompanhado o desenrolar dos trabalhos lá desenvolvidos desde a última visita, quer através do Newletter do Parque, quer pelos comunicados recebidos directamente do seu departamento de comunicação. São grandes as diferenças que irei lá encontrar, nomeadamente no aumento dos efectivos dos animais, nas infraestruturas reconstruídas e outras novas e nas acções de apoio à melhoria de condições de vida das populações circunvizinhas.

Entretanto, tive hoje a feliz oportunidade de me encontrar, aqui em Maputo, com o homem responsável pelo milagre de recuperação do Parque, o Greg Carr, encontro esse que teve também a presença dos meus particulares amigos, os irmãos Zacarias e Grácio Abdula, naturais de Manica e Sofala, e também amigos do Parque que conhecem desde crianças e visitam com regularidade. Mais tarde juntaram-se ao grupo o director de operações e infraestruturas do Projecto Carr, João Vizeu (digamos o homem forte da gestão administrativa e financeira do mesmo Projecto), assim como Jorge Ferraz, administrador da MIPS (empresa que explora o Porto de Maputo).

Zacarias, Celestino, Greg, Ferraz e João Vizeu

Durante esse encontro o Greg Carr fez-nos a descrição do andamento dos trabalhos no Parque e dos sucessos já alcançados até à data, que são significativos. A troca de impressões foi enriquecedora pois satisfez a nossa curiosidade em relação a vários aspectos do Parque e sobretudo quanto aos animais, cujos efectivos garantiu estarem a ser aumentados a olhos vistos. Salientou o caso das pivas e dos leões, estes agora mais vistos e que voltaram a ser uma das principais atracções dos turistas que visitam o Parque.
Sobre os vários problemas que naturalmente vão enfrentando, referiu como mais preocupantes a caça furtiva e as queimadas, dois grandes males que mesmo combatidos por uma grande equipa de guardas bem preparados continua a ser um flagelo que dificulta seriamente a recuperação efectiva do Parque.

Mais do que as informações prestadas pelo homem que em boa hora veio salvar o Parque, o que muito nos agradou ver foi o seu enorme entusiasmo quando se referia aos progressos que o seu projecto já alcançou e aos planos que tem para o futuro. Os seus olhos brilham e as suas mãos parecem as de um maestro a dirigir uma orquestra! No meio desse entusiasmo e de punho cerrado, num gesto característico dos treinadores quando as suas equipas marcam golo, pronunciou, mais que uma vez e em bom português, Gorongosa, Gorongosa! Ele fala já razoavelmente o idioma de Camões e logo no início do encontro pediu que o questionassem e respondessem nesta língua, o que levou os presentes a elogiá-lo e um deles (eu próprio) a perguntar-lhe quantas teachers teve já!...


Gargalhadas não faltaram!


OUTRAS FOTOS DO ENCONTRO



Celestino e Zacarias na entrada do Hotel Polana


Celestino e Grácio


Com os manos Zacarias e Grácio Abdula na sala de espera do Polana


Greg e João Vizeu



Greg e Jorge Ferraz

Saudações amigas, aqui da beira do Índico!

Maputo, 14 de Dezembro de 2008.

Celestino (Marrabenta)

5 comments:

Manuel Palhares said...

Celestino,

Para além de todo o historial, tão bem relatado como sempre aliás, fico com a alegria de te ver entre amigos e com toda essa boa disposição.
Um abraço,

MPalhares

Celestino Gonçalves said...

Obrigado Manel!
És sempre bom ver-te e sentir-te por perto!
Grande abraço!
Celestino

carlosschmidt said...
This comment has been removed by the author.
carlosschmidt said...

Ora bem, já estás mais perto da Beira, minha rica Beira ao falares da Gorongoza, morei tão perto dela e se Deus quiser, voltarei lá um dia para rever esse magnífico "santuário" selvagem.
Um grande abraço para ti meu "velho" extensivos a todos eles que formam o núcleo duro do PNG.

Carlos Schmidt

Celestino Gonçalves said...

Olá Carlos!
A Beira ainda está longe, pois com o adiamento da minha viagem ao Parque agora só em Fevereiro!
Mas não deixarei de vos dar coisas lindas da capital do nosso querido e cheiroso Chiveve!
Grande abraço!
Tio Celestino