13 March 2011

92 - MAIS UMA HOMENAGEM A MALANGATANA

Só agora me chegou às mãos este artigo de Mia Couto (com fotos de Abraão Vicente), que sendo um verdadeiro hino à memória de Malangatana, não podia deixar de o reproduzir  neste cantinho onde por várias vezes recordei o "Mestre", a última das quais e com muito pesar para anunciar a sua morte ocorrida no passado mês de Janeiro (Ver postagens 87 e 88). 


A Alma


Texto de Mia Couto, fotografias de Abrãao Vicente 


O país chorou e, com verdade, Malangantana. Todos, povo, partidos, governo foram verdadeiros na dor da despedida. Vale a pena perguntar, no entanto: fizemos-lhe em vida a celebração que ele tanto queria e merecia? Ou estamos reeditando o exercício de que somos especialistas: a homenagem póstuma? Quem tanto substitui pedir por conquistar acaba confundindo chorar por celebrar. E talvez o Mestre quisesse hoje menos lágrima e mais cor, mais conquista, mais celebração de uma utopia nova. Na verdade, Malangatana Valente Ngwenya produziu tanto em vida e produziu tanta vida que acabou ficando sem morte. Ele estará para sempre presente do lado da luz, do riso, do tempo. Este é um primeiro equívoco: Malangatana não tem sepultura. Nós não nos despedimos.

Existe, na verdade, um outro equívoco. E o logro pode ser este: Malangatana não foi apenas um grande artista. Ele foi a alma de um país. Foi alma de todos nós, Moçambique e moçambicanos. Através dele fizemo-nos ser escutados como gente, capaz de ter rosto e nome, capaz de sonhar.

O pintor resgatou e colocou não apenas em tela, mas em toda a sua vida, aquilo que eram os nossos quase sempre atabalhoados sonhos, povoados mais de monstros do que luminosas certezas. Malangatana fez por Moçambique o que todas as embaixadas do país juntas não fizeram. Não se trata aqui de menorizar o trabalho diplomático, certamente intenso e árduo. Trata-se sim de entender o quanto pode a arte como linguagem universal e como veículo de afirmação e dignidade de um povo.





O que estamos celebrando, mais do que um exímio artista, é a sua dimensão humana feita de afecto, verdade e universalidade. Mais do que um homem de cultura, ele foi um homem de culturas. A sua individualidade construiu-se na pluralidade. A necessidade dessa pluralidade é, talvez, a mensagem mais importante que ele nos deixa. Num momento em que vivemos uma versão única da nossa própria história, num momento em cresce a tentação de um pensamento único, esse legado do Mestre torna-se quase uma urgência. A diversidade é o maior alimento da alma humana.Tendo militado politicamente, não foi nunca um político. Não fez favores de conveniência, não se converteu num funcionário, num yes man cultural. A lógica dos seus quadros, mesmo quando ele se entregou à luta política, não foi subordinada a qualquer simplificação ao serviço da causa. O que ele nos revela, na sua pintura, foi o invisível. Tendo sido todos os outros, o que ele mais foi, foi ele mesmo.

Sendo um nacionalista, escolheu o mundo como nação. Tendo erguido Matalana como emblema e raiz, ele olhou como terra natal todos os lugares onde renascia, desde Tóquio a Nova Iorque. A sua Matalana era uma centopeia, um pé junto ao rio Incomáti, os outros em cada canto do mundo. Em todos esses recantos ele sentia-se à vontade. Trauteava com o mesmo à vontade as canções tradicionais rongas, uma ária de Verdi e um fado de Amália. Não tinha medo dessa pluralidade. Não teve receio nunca de nomear os que, sendo portugueses e vivendo num mesmo regime colonial, o ajudaram no início da carreira. Porque estava para além da raça, para além da nacionalidade, para além de si mesmo. Não precisava de veementes proclamações para ser moçambicano. E quanto mais ele era todos os outros, mais se convertia em Moçambique. Generoso, acolhedor, robustecido pela sua pluralidade e respeitado e amado por isso.






A grande pergunta é esta: o nosso país está produzindo mais Malangatanas? Mais Craveirinhas? Mais Fanni Mpfumos?

Não existe resposta. Cada um destes artistas é evidentemente irrepetível e cada época tem a sua dinâmica própria. Mas tenho sérias dúvidas que o nosso ambiente seja favorável à gestação de arte de qualidade. Prevalecem entre nós condições profundamente adversas. O meu dedo não se ergue, às pressas, contra ninguém. É verdade que o governo podia fazer mais. Por exemplo, podia chamar mais a si a política de investimento e apoio às artes e não abandonar esse exercício ao arbítrio dos patrocinadores. Mas seria triste que, em qualquer país, a cultura fosse produzida pelo governo. Parece tautológico, mas a verdade é que a cultura nasce da cultura. E a cultura dominante de hoje, aquela que a nossa elite promove, não é exactamente a mais fértil. Porque apela para o sucesso fácil e imediato, para a fama e o dinheiro como critérios únicos, para o vazio e para a aparência.

O que faz emergir talentos é um ambiente de debate aberto e de gente trocando ideias. Malangatana, Craveirinha e Mpfumo foram o resultado desse cadinho efervescente, onde rivalizaram propostas, escolas e tendências. 





Esse ambiente de pluralidade é hoje olhado com receio. Aos poucos fomos substituindo a mensagem de emancipação por um discurso de aumento de rendimentos. Em lugar de políticas culturais convertemos a política numa cultura. O grande estímulo hoje repetido até à exaustão resume-se ao apelo, ao empreendedorismo e à promoção no vazio do chamado “empresário de sucesso”. A cultura dos Big Brothers saltou do campo do espectáculo televisivo e invadiu o nosso quotidiano.

Somos ricos em homenagens e, grande parte das vezes, fazemo-las tardiamente. Arriscamo-nos, desse ponto de vista, a ser um país póstumo. As homenagens podem bastar para gente que tem ausência. O legado de moçambicanos como Craveirinha, Mpfumo e Malangatana merece que nos questionemos sobre como Moçambique se manterá como nação geradora da sua memória viva.

Publicado no jornal moçambicano O País, 15/1/2011


Saudações amigas!

Marrabenta, 13 de Março de 2011

Celestino Gonçalves



02 March 2011

91 - GORONGOSA NA BTL 2011

CONVÍVIO DE AMIGOS DO PNG NO DIA DE ENCERRAMENTO 
DA BOLSA DE TURISMO DE LISBOA




A propósito da representação do Parque Nacional da Gorongosa na importante Bolsa de Turismo de Lisboa, que decorreu na FIL de 23 a 27 de Fevereiro último, um grupo restrito de amigos e ex-colegas do mesmo Parque reuniu-se num almoço-convívio num dos restaurantes do Shoping Vasco da Gama, a dois passos dos pavilhões onde tal certame teve lugar. 

Este encontro, onde também participou o director de comunicação e turismo do referido Parque, Dr. Vasco Galante, decorreu em franca alegria e camaradagem, proporcionando  momentos muito agradáveis  porque  ali se recordaram  os tempos e momentos inesquecíveis  que a maioria dos presentes passou no famoso santuário da vida bravia de Moçambique.

No final do almoço o grupo visitou o   pavilhão de Moçambique onde a Gorongosa esteve  integrada com a sua mostra de cartazes, fotografias e panfletos.  Mais uma vez o PNG foi o sector do pavilhão mais solicitado pelos visitantes da BTL.

Do almoço-convívio e da visita ao pavilhão, registamos alguns desses agradáveis momentos nas fotografias  que podem ser vistas no Álbum que se segue:



Concentração para o almoço

Já na sala o Vasco mostra as novidades do Parque

 Rita e Mizé trocam segredos

 O Vasco sempre ocupado com as novidades registadas no PC

Conversa animada conduzida pelo Zé Canelas 

O canto do fundo escuta com atenção


Já na BTL - Luís Fernandes, Celestino Gonçalves,
André Couto e Luís Pedro Sá Mello

Saudações amigas!
2 de Março de 2011
Celestino Gonçalves

NOTA POSTERIOR

Com a concordância do seu autor, o nosso companheiro do convívio de  27 de Fevereiro último, José Canelas de Sousa, que foi o último director da SAFRIQUE (Sociedade de Safaris de Moçambique) durante a década de 70, transcrevemos a carta que a propósito do mesmo convívio enviou a Adelino Serras Pires, conhecido industrial de safaris e autor do Livro "Ventos de Destruição" : 


Bom dia Adelino,

Reenvio-lhe o mail do amigo Celestino, que para além de ter organizado tudo, está a preparar um album alargado da reunião que tivemos.
É natural que o Adelino não conheça algumas das pessoas, nomeadamente as senhoras, pois os anos passam e conviviamos mais com os cavalheiros.
O almoço foi simples, mais á base do celebre bife com batatas fritas no restaurante Lusitania ( tipo Portugália ) , na Expo,  mas o convívio foi excelente.
O amigo Celestino é um óptimo contador de histórias e conheceu bastante bem a “ familia SAFRIQUE “, caçadores, clientes , etc , pelo que recordámos momentos vividos e amigos comuns.
É sempre com nostalgia que “regresso ao passado “ e lamento que a “independencia “ não tivesse sido feita de forma diferente, sem tantos traumas, sem tanta destruição de património , sem tantas separações e percas irreparáveis ...
 Mas tenho de reconhecer que fomos uns privilegiados. Vivemos uma vida única, tivemos o previlégio de viver África convivendo de perto com o fantástico, quase mágico, mundo da fauna bravia, que só poucos conheceram. Muito poucos .
E convivemos com pessoas unicas que nos visitavam para partilharem comnosco esses momentos. E vivemos felizes os melhores anos das nossas vidas, pois estávamos a fazer aquilo de que gostávamos .

A nostalgia vem quando olho para trás e constacto que FOMOS OBRIGADOS  a deixar toda essa vida que adorávamos e reconhecer que a Africa que vivemos jamais voltará a existir como a conhecemos.

Várias pessoas me perguntaram se tinha voltado a visitar Moçambique, ou quando pensaria faze-lo. Tive várias oportunidades de voltar, mas preferi não o fazer. Assim, continuo a reter na minha memória todo um filme de vivências , de momentos , de amigos e lugares que sei já não iria encontrar. E assim segui o conselho de alguém que disse : Nunca voltes ao lugar onde foste feliz !

Tenho as recordações e ainda alguns amigos. Por isso é importante fazermos estas reuniões, convivermos e pensarmos que seria bom, com a participação de todos, unirmos as nossas recordações e memórias, para deixarmos um registo de toda essa fantástica geração que ajudou a colocar Moçambique como um dos melhores lugares do mundo para fazer Safaris, bem organizados e com a calorosa recepção que só nós portugueses sabemos dar.

Fica o desafio . Colaborarei modestamente no que puder .

Um abraço amigo

Zé Canelas


 Saudações Amigas!
5 de Março de 2011
Celestino Gonçalves

15 February 2011

90 - GORONGOSA - SUCESSOS EM 2010




Forte Incremento do Turismo na Gorongosa em 2010, Cinquentenário do Parque e Inclusão da Serra da Gorongosa são outros Destaques


04.02.11 - Parque Nacional da Gorongosa

De acordo com as estatísticas de visitantes de 2010, O Parque Nacional da Gorongosa está prestes a tornar-se de novo num dos primeiros destinos de ecoturismo em África, tal como acontecia nos anos 60 e 70, quando estrelas de cinema, astronautas e outras celebridades visitavam a Gorongosa. 

O número de turistas que visitaram a Gorongosa em 2010 excedeu os 5.500, o que representa um aumento de 20% em relação aos visitantes de 2009! Este resultado é ainda mais impressionante se tomarmos em consideração que a  Gorongosa é um destino turístico específico e remoto e que as visitas de turistas a África cresceram somente 6% no último ano. Os visitantes internacionais representaram a maioria dos turistas, contudo estamos muito orgulhosos por ver um extraordinário aumento dos turistas Moçambicanos em 2010. As visitas de Moçambicanos ao seu Parque Nacional aumentaram 45% no último ano e muitos deles deixaram mensagens de congratulação no Livro de Honra do Parque como forma de comemorar a primeira das que esperamos sejam muitas visitas! 

Este aumento da procura ajuda a perceber a importância do Concurso Público Internacional para atrair novos Operadores Turísticos para o Parque Nacional da Gorongosa. Conhecidos operadores de safaris, cadeias hoteleiras e operadores turísticos de todo o mundo entregaram as suas propostas para algumas das áreas seleccionadas no Parque, que foram destinadas ao desenvolvimento turístico sustentável pelo Governo de Moçambique.

Cada área de desenvolvimento turístico - a maior das quais com um pouco mais de 47.000 hectares - irá albergar vários acampamentos de tendas de luxo e acampamentos de tendas volantes. Duas áreas situadas na periferia do Parque poderão construir cabanas de luxo. Os novos acampamentos serão construídos de acordo com as estritas políticas ecológicas do Parque e serão, sem dúvida, das mais “verdes” estruturas turísticas de Africa e de todo o mundo. A maioria dos acampamentos será construída perto de (mas não em) zonas húmidas, áreas cársicas, terrenos de reprodução e áreas onde o zoneamento do Parque permitir safaris de jipe, passeios a pé acompanhados de guia e outras actividades para turistas. Algumas áreas de desenvolvimento turístico incluem “zonas de natureza selvagem”, onde serão efectuadas excursões de forma restrita ou exclusivamente limitadas a caminhadas a pé. Todas estas novas iniciativas turísticas começarão a ser construídas em 2011 e irão criar empregos de longa duração para os membros das comunidades situadas na zona tampão do Parque.

O Ministério do Turismo de Moçambique e o Projecto de Restauração da Gorongosa estão a seleccionar os projectos que melhor se enquadrem nos elevados padrões ecológicos do Parque, assegurando “que o ecossistema seja preservado e que seja criada uma indústria turística sustentável.”

Cinquentenário do PNG
O Parque Nacional da Gorongosa - um tesouro mundial de biodiversidade – celebrou em Julho de 2010 o seu Quinquagésimo Aniversário. A Gorongosa em 1960 passou oficialmente a ser designada por Parque Nacional; anteriormente era uma Reserva de Caça, onde, por decreto, desde 1935 a caça não era permitida.

O Parque da Gorongosa, tal como outras reservas naturais em todo o mundo, pode vir a desempenhar um papel preponderante no que respeita à protecção das espécies e respectivos habitats. Se geridos de forma correcta, os parques nacionais protegem a  biodiversidade e portanto contribuem para diminuir o número de espécies terrestres que se irão extinguir neste século. Os parques também proporcionam inúmeros empregos directos o que para além de significativo, tem um efeito positivo e multiplicador nas comunidades circundantes.

A gestão do Parque da Gorongosa adoptou uma nova filosofia sobre a finalidade dos parques nacionais -- diferente portanto da filosofia de gestão para áreas protegidas, vigente há algumas décadas atrás. Agora, reconhecemos que um parque nacional deve ajudar os seres humanos que residem nas suas redondezas e não apenas preservar a natureza.

A parceria público-privada de 20 anos para a co-gestão da restauração da Gorongosa disponibiliza-nos um mandato de forma a prosseguir os dois objectivos relativos ao desenvolvimento humano e à protecção da biodiversidade. Esta abordagem holística à  restauração do ecossistema da Gorongosa, em que o bem-estar dos seres humanos é parte integrante do projecto de restauração, pressupõe a interligação entre os seres humanos e a natureza.

Os seres humanos precisam da natureza: os ecossistemas dão-nos ar puro, água, solo fértil, abrigo, nutrição, inúmeros recursos naturais e recompensas estéticas e espirituais. Os seres humanos são também eles próprios uma componente da natureza. A actividade humana afecta a natureza de forma positiva e também negativa. A conservação é a maneira que temos de reduzir os impactos negativos resultantes da vivência e interacção dos seres humanos com o meio ambiente.

Para fomentar o apoio político à conservação, as necessidades dos seres humanos têm de ser atendidas à medida que pedimos à sociedade para preservar e proteger os "pontos quentes" de biodiversidade. 

Presentes de Aniversário do PNG: Serra da Gorongosa e Centro de Educação Comunitária
Em Julho de 2010, o Governo de Moçambique tornou pública a decisão de alterar os limites do Parque Nacional da Gorongosa e nele incorporar a Serra da Gorongosa (acima dos 700 metros) dando assim satisfação a uma velha aspiração – de facto uma necessidade - que tinha sido apresentada nos anos 60 pelo então ecologista do PNG, Dr. Kenneth Tinley. As florestas da Serra proporcionam a função essencial de captação das águas das chuvas que alimentam os rios que fluem para o Parque e para os seus lagos e planícies aluviais. Nesta data foi também estabelecida oficialmente uma zona tampão com cerca de 3.300 quilómetros quadrados. 

No mesmo mês inaugurámos o Centro de Educação Comunitária da Gorongosa. Este Centro é o lugar onde convergem os esforços multi-disciplinares da Conservação, da Saúde Pública e da Educação do Projecto de Restauração da Gorongosa. Este Centro servirá como lugar de encontro para os diferentes parceiros sociais poderem discutir e debater os sérios aspectos humanos e ambientais com que o ecossistema da Gorongosa hoje se confronta.

Profissionais nas áreas da ecologia, silvicultura, fauna bravia, agronomia, saúde, planeamento, economia, ciências sociais, ecoturismo e outras estão a colaborar no planeamento e execução do Projecto de Restauração da Gorongosa. Obviamente apoiam-se nos conhecimentos e nos líderes locais de forma a que este ecossistema interligado possa apoiar a diversidade de vidas que dele depende.

Estamos seguros que os próximos anos vão ser ainda mais apaixonantes e estão todos desde já convidados a visitarem Moçambique e a Gorongosa, para poderem testemunhar o renascer de um destino turístico de características únicas e que é simultaneamente um dos mais belos e espantosos parques de fauna bravia de todo o mundo.

FIM DO ARTIGO DO PNG


NOTA FINAL

O presente artigo, da autoria do Departamento de  Comunicação e Turismo do Parque Nacional da Gorongosa, foi-nos enviado pelo seu director Dr. Vasco Galante e encontra-se publicado no site oficial do mesmo Parque:


O referido quadro superior do Projecto de Restauração do PNG estará presente na BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa) que decorrerá  de 23 a 27 de Fevereiro corrente, em representação do mesmo Parque que ali terá uma mostra das suas potencialidades e desenvolvimento, integrada no Pavilhão do Ministério do Turismo de Moçambique. Ali o podemos abordar sobre todas as questões que se prendem com a situação actual daquele famoso santuário da vida bravia de Moçambique.
Como tem acontecido nos anos anteriores, contamos relatar aqui como decorreu esta representação após o encerramento da BTL.




Grupo de amigos e antigos funcionários do PNG com Vasco Galante (o mais alto)
 no dia de encerramente do BTL em 2010


Saudações amigas!

Marrabenta, 16 de Fevereiro de 2011

Celestino Gonçalves


09 February 2011

89 - ÁLBUM HISTÓRICO DE MOÇAMBIQUE

ÁLBUM DE MOÇAMBIQUE
IMAGENS HISTÓRICAS DO INÍCIO DO SÉCULO XX


SELOS  DA COLÓNIA





HOSPITAL MIGUEL BOMBARDA
 - ACTUAL H. CENTRAL DE MAPUTO

CLÍNICA ESPECIAL

ENFERMARIA DE 3ª CLASSE

ENFERMARIA PARA INDÍGENAS

O MERCADO MUNICIPAL DE HÁ 30 ANOS
 E O MERCADO MUNICIPAL DE HOJE

CINEMA GIL VICENTE

OS AUTOCARROS (MACHIMBOMBOS) DE LOURENÇO MARQUES

OS RIQUEXÓS DE LOURENÇO MARQUES

OS ELÉCTRICOS DE LOURENÇO MARQUES


A "BAIXA" DE LOURENÇO MARQUES

AS  PRAÇAS DE TÁXIS

CASA FABIÃO DO ALTO MAÉ E JOHN ORR (ACTUAL BCI)

PROPAGANDA DA COMPANHIA DE MOÇAMBIQUE

O EDIFÍCIO DOS CAMINHOS DE FERRO DE L.M.

AS LOCOMOTIVAS DOS CAMINHOS DE FERRO DE L.M.

A PRAIA DA POLANA (ACTUAL CLUBE NAVAL)
O regulamento das praias, elaborado pela Comissão de Praias em 1910 e mantido em vigor até pelo menos 1934, estipulava  que os não-europeus não só estavam impedidos de frequentar o Pavilhão de Chá, mas também de banhar-se nas mesmas praias que os brancos.

A PARTIDA PARA AS MINAS DO RAND



FIM DO ÁLBUM


NOTA DO AUTOR DESTE BLOGUE

Este Álbum foi recebido hoje mesmo de um amigo moçambicano
sem qualquer comentário para além das legendas das 
próprias fotografias que aqui estão reproduzidas na íntegra.
Sem pretender entrar em polémica seja com que for a propósito
das imagens e legendas, sobretudo em relação à quarta e às duas
últimas que revelam aspectos de uma errada política colonial 
praticada  anteriormente aos anos 50 do século passado,
desejo esclarecer que o que mais me motivou em publicar aqui o
mesmo álbum é justamente para despertar em algumas pessoas
de gerações posteriores que desconhecendo essa realidade ainda
se recusam a aceitar, ou mesmo negar, o que estas fotos nos
mostram: a segregação racial e os preconceitos da sociedade 
da época. Estou a lembrar-me, por exemplo, de alguns 
protagonistas em discussões que ocorreram e ficaram registadas
 em sites do MSN das comunidades moçambicanas que em anos
 anteriores estiveram muito em voga.


Saudações amigas!


Marrabenta, 9 de Fevereiro de 2011


Celestino Gonçalves


16 January 2011

88 - FUNERAL DE MALANGATANA NA SUA TERRA NATAL




NOTÍCIA EXTRAÍDA DO JORNAL "NOTÍCIAS", DE MAPUTO

EDIÇÃO ON-LINE DE 16-01-2011


Arte e Cultura: Malangatana enriqueceu o acervo

da humanidade - Presidente Guebuza no elogio

fúnebre ao pinto-mor em Matalana

05 January 2011

87 - FALECEU O "MESTRE" MALANGATANA


FALECEU O CONSAGRADO PINTOR MOÇAMBICANO
MALANGATANA N'GWENYA VALENTE


A infausta notícia fez parte dos noticiários das rádios e TV´s ao longo do dia.

Faleceu, na madrugada de hoje, o Mestre Malangatana, com 74 anos de idade. Encontrava-se internado no Hospital Pedro Hispano de Matosinhos, não resistindo à prolongada doença que o afectava nos últimos anos.

Figura cimeira da pintura Moçambicana (e até Mundial), mas também exímio escultor, Malangatana deixa uma obra ímpar espalhada pelos quatro cantos do Mundo e na sua Casa Museu de Maputo.

Nesta hora de luto para a Cultura do seu país, também aqui, em Portugal, a morte do "Mestre" está a ser muito sentida não só por parte dos naturais e ex-residentes de Moçambique, mas também por todos aqueles que se habituaram a admirar este Homem que nos últimos anos dividiu a sua residência em Maputo e Lisboa, aqui trabalhando e participando em actos culturais de grande relevo. Uma das suas últimas obras foi a estátua de homenagem aos trabalhadores numa praça da cidade do Barreiro.

Nesta minha singela homenagem ao Amigo de velha data, quero recordar aqui o nosso último encontro ocorrido em Março de 2005 na sua casa em Maputo e que foi motivo para a minha 16ª crónica "Cartas da Beira do Índico" desse ano. Como complemento e pela sua importância, transcrevo também a Biografia que foi publicada em 2006 no site http://mundoslam.com/

Apresento as minhas sentidas condolências à Família do malogrado artista, assim como ao Governo e Povo Moçambicano pela perda do insigne e já saudoso "Mestre" Malangatana!

Paz à sua Alma!

Amor-Leiria, 5 de Janeiro de 2011

Celestino Gonçalves



CARTAS DA BEIRA DO ÍNDICO

(16)

ENCONTRO COM O MESTRE MALANGATANA


(Março de 2005)


O Mestre como era há uns bons anos atrás!

Moçambique teve sempre personalidades de renome mundial, nomeadamente no desporto onde se destacaram nomes como Eusébio e Coluna e mais recentemente Lurdes Mutola campeã mundial e olímpica de atletismo.

Após a independência, em 1975, destacaram-se no mundo das artes e das letras duas outras personagens que são hoje a coqueluche deste jovem país: Malangatana e Mia Couto. Eles são as figuras de topo de uma vasta plêiade de pessoas ligadas à cultura de Moçambique, justamente porque as suas obras se tornaram muito conhecidas e atingiram grande fama praticamente em todo o mundo.

Como pessoas célebres que são, ganharam o estatuto de figuras públicas muito estimadas por toda a gente. Ambos foram dotados, para além das suas capacidades artísticas e intelectuais, do dom da simplicidade que o povo tanto aprecia. Numa palavra, eles são o orgulho dos moçambicanos!

Curiosamente, eles têm excelente relacionamento entre si e, para minha felicidade, ambos fazem parte do número dos meus bons amigos moçambicanos, conforme tive já a oportunidade de aflorar no meu site pessoal e em trabalhos anteriores inseridos em várias comunidades com sites na Internet. Eles se cruzaram na minha vida em situações diferentes, mas tão marcantes que me dão o direito de lhes reclamar alguns momentos de cavaqueira nem que para isso tenha de invadir os portões de acesso às suas casas!

Só que, em relação a Malangatana, as coisas não têm sido fáceis pois que não o encontrava a jeito há mais de quinze anos. Os seus afazeres e constantes viagens pelo estrangeiro não me proporcionaram uma única aproximação durante todo este longo tempo, apesar de várias tentativas que sempre fiz durante as minhas regulares estadias em Moçambique!

Sendo originário do povo humilde, Malangatana prima por ser um homem simples e modesto. Contudo, não é muito fácil encontrá-lo disponível uma vez que a sua ocupação profissional lhe absorve todo o tempo, quer no atelier a pintar e gravar, quer a viajar por esse mundo fora envolvido nas suas exposições pessoais ou a participar em congressos e colóquios do seu ramo. É ainda membro da Assembleia Municipal de Maputo, um cargo político que lhe trouxe imensas responsabilidades nomeadamente na recepção de delegações estrangeiras ou individualidades que se deslocam a Moçambique e cujo estatuto implica atenções especiais da parte do Governo. Ele é um digno anfitrião e um autêntico ex-libris da cidade capital e do próprio país!


O DESEJADO ENCONTRO


Finalmente, o tão desejado encontro aconteceu no passado dia 21 na sua casa atelier do bairro do Aeroporto, em Maputo, tendo para tal recorrido à intervenção do Mia que contactou o Mestre acabado de regressar de mais uma viagem a Portugal.

Como minha filha Paula também tem certo à-vontade junto deste ilustre personagem, foi ela quem completou os acertos finais para o encontro e fez questão de me acompanhar munida da “Olympus” para registar e colher imagens do consagrado artista e do seu magnífico museu.

Antes de tomarmos o caminho para aquele bairro tive ainda a oportunidade de reler as partes mais significativas dos textos do seu Livro-Álbum “Malangatana”, editado em 1998 e que felizmente me fora oferecido no último Natal pelo mano mais velho do meu genro Armando Couto. Isto para reavivar a memória em relação ao fabuloso palmarés deste ilustre moçambicano e ficar mais preparado para o visitar no seu habitat.


O Livro "Malangatana"

A rica biografia deste homem e as considerações sobre a pessoa e sua obra, feitas por consagrados críticos das artes e das letras, quer nacionais quer estrangeiros, expressas naquela excelente obra, deixaram-me francamente confuso sobre o sucesso do encontro que estava prestes a ter com o famoso pintor, sendo que ele agora é um ídolo de reputação nacional e internacional. Interrogava-me se ele me iria reconhecer e se não me dispensava mais que algumas palavras de circunstância para além dos cumprimentos da praxe!

Lá fui a meditar nas minhas dúvidas, confiante apenas nas faculdades persuasivas para dar a volta a eventuais dificuldades e evitar que o desejado encontro com o velho amigo acabasse numa frustrante jornada sentimental!

Ando na tua trás há mais de quinze anos!

Foram estas as primeiras palavras que dirigi ao velho amigo que nos aguardava no atelier de trabalho do rés do chão da sua grande residência, usando assim uma expressão popular muito em voga em Moçambique.

A sua reacção não se fez esperar com um “Bayete Gonçalves” e uma palmada na mão à boa maneira do cumprimento entre os jovens actuais, seguida de um prolongado abraço.


Bayete Gonçalves!

Afinal fui reconhecido e o à-vontade do nosso anfitrião foi tão manifesto que a breves momentos a descontracção era recíproca.

Que alívio!

O que se seguiu durante toda a tarde daquele dia memorável, foi para mim e para a Paula um autêntico deslumbramento! Um desfiar de recordações de um passado já com mais de meio século, desde que nos conhecemos em Marracuene, sede administrativa da sua terra Natal onde iniciei a minha carreira em Moçambique no longínquo ano de 1952. Ele tinha nessa altura 16 anos e eu 20!

Durante os anos que precederam a sua ida para Lourenço Marques, em 1956, Malangatana fez-se notar na vila pela sua participação em várias actividades culturais (música, danças tradicionais, artesanato) e desportivas. Naturalmente que os nossos encontros se sucederam nomeadamente no futebol que ambos praticamos e também na Administração onde ia com frequência tratar de assuntos pessoais ou visitar um seu parente próximo que ali trabalhava comigo. Depois de reavivarmos a memória citando factos e pessoas desses velhos tempos, nomeadamente dos administradores mais marcantes dessa época (Marques da Cunha e Granjo Pires), do padre Lourenço (que nos casou), dos Panguenes, dos Andrades, dos Lopes de Castro, dos Verdes, dos Bourlótos, dos Figueiredos (meus sogros), do velho Nunes (do Pavilhão de Chá), dos Faria Lopes e Lopes Marques (chefes de estação dos Caminhos de Ferro), dos Parentes, do Mendes (das excursões fluvias) e de outras figuras daquela bonita vila à beira do Incomáti, alargamos as nossas recordações ao período do pós independência quando ele era responsável do Departamento de Cultura do Ministério do Trabalho e eu adjunto da direcção dos Serviços de Fauna Bravia do Ministério da Agricultura, altura em que os nossos contactos foram mais frequentes pois estes Serviços forneciam o marfim de elefante para o sector de artesanato do mesmo Departamento.


Com a Paula numa das salas onde estão belos quadros e esculturas

A partir de 1990, data do meu afastamento de Moçambique para me fixar em Portugal, limitei-me a acompanhar, de longe, as notícias sobre a carreira fabulosa deste homem, que se tornou um dos pintores mundiais de vanguarda na actualidade, assim como escultor de grande mérito. A sua fama o tornou uma figura de grande prestígio, acumulando prémios e condecorações, incluindo a de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal. A sua vastíssima obra (Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria e Escultura), encontra-se em vários museus e galerias públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do Mundo. Tem ainda pintados ou gravados imensos murais não só em Moçambique como noutros países africanos, da Europa e do continente americano. O seu espólio pessoal, de valor incalculável, enche literalmente toda a sua grande casa-atelier de Maputo, aguardando o seu próximo destino que será o Museu da “Fundação Malangatana”.


Aspecto parcial do atelier

Toda a actividade artística e social deste grande senhor não o afastou, contudo, dos contactos com o povo humilde e sobretudo das crianças. Na sua terra natal ele impulsionou um importante projecto cultural – Associação do Centro Cultural de Matalana – de cuja direcção é presidente. No seu bairro criou uma escolinha para as crianças aprenderem a pintar. Tem sido membro de Júris de vários eventos nacionais e internacionais das Artes Plásticas, mantendo a ligação à UNICEF relativamente ao Júri para os Cartões de Boas-Festas.

A sua próxima obra, que será a maior, é a sua própria “Fundação Malangatana”, que será erguida também na sua terra natal e para a qual já conta com o respectivo projecto do seu grande amigo, o arquitecto e pintor português Miranda Guedes (Pancho), um dos grandes impulsionadores da carreira deste artista na sua fase inicial quando era ainda um modesto empregado de bar e da cozinha do velho Grémio (o Clube de Lourenço Marques), de parceria com o Dr. Augusto Cabral, actual director do Museu de História Natural.


Crianças angustiadas

As ligações de Malangatana a Portugal são muito estreitas, quer no âmbito institucional quer no relacionamento com as pessoas que o acarinharam nos tempos do seu lançamento na vida artística. Aqui tem feito muitas exposições individuais e elaborou, no Pavilhão de Moçambique da Expo-98 de que foi Vice-Comissário Nacional para a área da Cultura, uma escultura móvel, bem como um bonito painel-mural.

O seu Livro/Álbum “Malangatana” é uma encantadora obra por onde perpassa toda a magia e esplendor de uma vasta colecção das suas pinturas, desenhos e esculturas. Foi numa das páginas brancas deste Livro que o Mestre pintou uma bonita aguarela assinalando a visita que lhe fiz e que simboliza a nossa velha amizade. A todo o tamanho da página do lado esquerdo escreveu uma mensagem que muito nos sensibilizou e que é uma evocação especial dos velhos tempos de Marracuene (ex-Vila Luisa), com especial destaque para as suas belezas naturais, para os hipopótamos e crocodilos do grande rio Incomáti e para as actividades turísticas da vila. Escreveu ainda, numa outra página, uma dedicatória para as comunidades de Maputo, Inhambane, Beira e outras, que aqui deixo reproduzida, como se impõe.


Na fase inicial da pintura


A Paula observando o Mestre quando executava a pintura e dedicatória no Livro


Dedicatória e quadro concluídos


A Mensagem para as Comunidades


Agradecendo ao Mestre

Antes de deixar a casa-atelier de Malangatana, percorremos todas as salas onde se encontram expostos muitos dos seus quadros e esculturas, obras estas que executou ao longo da sua carreira e que foi seleccionando para fazerem parte do seu espólio inegociável.


Subindo para o 1º andar da maravilhosa casa-atelier

A visita acabaria pelas cinco da tarde porque Malangatana tinha tarefas na Assembleia Municipal, até onde o acompanhámos a seu pedido. Antes de nos despedirmos dirigiu-se à Paula e repetiu o que já nos havia dito no seu atelier: não te esqueças que quero fazer uma festa convosco e restante família em Marracuene, na próxima vinda de teu pai a Moçambique!


A despedida junto do Município

Nas horas que se seguiram a este encontro meditei profundamente sobre aquela figura imponente e bonacheirona, na sua simplicidade e delicadeza de trato, na sua sabedoria, na sua obra que os críticos tanto elogiam, na aura que o envolve e como conserva tanto vigor e alegria de viver a pesar de rondar os 70 anos e ultimamente ter sido sujeito a delicadas intervenções cirúrgicas!

Quando deixei este ilustre personagem à porta do Município de Maputo, naquela tarde inesquecível, sentia-me imensamente feliz e, tal como Mia Couto escreveu em 1986 a propósito de mais uma exposição do Mestre - “Sai-se de uma exposição de Malangatana com a sensação de que já não somos os mesmos que éramos quando entrámos”- , também fiquei com a sensação de que já não era o mesmo!

A bordo do avião da TAP, 24 de Março de 2005

Celestino (Marrabenta)


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NOTA FINAL

Esta “Carta” foi alinhavada a bordo do avião da TAP durante a viagem de regresso a Portugal, três dias depois do encontro com Malangatana. Só hoje, porém, é publicada devido a dificuldades que surgiram com o restabelecimento da minha conta Internet, entretanto interrompida durante as férias em Moçambique.

Ela é a última da série de 16 modestas crónicas que ao longo dos mais de cinco meses de permanência em Moçambique tive o prazer de escrever para as Comunidades onde muito me orgulho de participar.

Prometo voltar com outras notícias e imagens que trouxe na minha bagagem!

Um abraço do tamanho de Moçambique para todos os que tiveram a paciência de ver e ler estes escritos!

Amor - Leiria, 10 de Abril de 2005

Celestino (Marrabenta)


BIOGRAFIA DE MALANGATANA

Publicada em 2006 no site: http://mundoslam.com/, por Paola Rolletta e Samuel da Carvalho


Malangatana Valente Ngwenya nasceu em Matalana, Província de Maputo, a 6 de Junho de 1936. Estudou na Escola da Missão Suiça de Matalana e na Escola da Missão Católica de Ntsindya, em Bulaze. Depois de obter o diploma da 3ª classe rudimentar, vai para Lourenço Marques (Maputo), frequentou a Escola Comercial. Foi pastor de gado, aprendiz de nyamussoro (médico tradicional), criado de meninos, apanhador de bolas e criado no clube da elite colonial de Lourenço Marques.

Tornou-se artista profissional em 1960, graças ao apoio do arquitecto português Miranda Guedes (Pancho) que lhe cedeu a garagem para atelier.

Em 1961 efectuou a sua primeira exposição individual.

Acusado de ligações à FRELIMO, foi preso pela polícia colonial quando duma leva de prisões que levou á cadeia, entre outros, os poetas José Craveirinha e Rui Nogar. Contrariamente aos seus companheiros, não se provou tal envolvimento pelo que acabou absolvido, após quase 2 anos de prisão. No entanto, a pressão sobre ele exercia-se continuamente pois os seus quadros, embora não exactamente retratando a realidade, davam-na a entender muito bem. Vejam-se as obras desses anos e toda a simbologia que deles se desprende de denúncia da opressão.

Após a Independência teve vários envolvimentos na área política, tendo sido deputado pelo Partido Frelimo de 1990 até 1994 e hoje é um dos membros da Frelimo na Assembleia Municipal de Maputo.

Foi um dos criadores do Movimento para a Paz e pertence à Direcção da Liga de Escuteiros de Moçambique.

Foi um dos criadores de Museu Nacional de Arte e procurou manter e dinamizar o Núcleo de Arte (associação que agrupa os artistas plásticos).

Muito ligado à criança, tem colaborado intensamente com a UNICEF e durante alguns anos fez funcionar a escolinha dominical "Vamos Brincar", uma escolinha de bairro.

Impulsionador, no passado, de um projecto cultural para a sua terra natal Matalana, retoma-o, logo que a guerra termina, criando-se assim a Associação do Centro Cultural de Matalana, de cujo grupo fundador Malangatana faz parte, sendo actualmente presidente da Direcção. Esta Associação pretende criar um projecto de desenvolvimento integrado das populações em torno do desenvolvimento profissional, de produção de auto-emprego, juntamente com o trabalho artístico, etno antropológico e ecológico.

Desde 1959 que participa em exposições colectivas em várias partes do mundo para além de Moçambique nomeadamente África do Sul, Angola, Brasil, Bulgária, Checoslováquia, Cuba, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Finlândia, França, Grã-Bretanha, Holanda, Índia, Islândia, Nigéria, Noruega, Paquistão, Portugal, RDA, Rodésia, Suécia, URSS e Zimbabwe.

A partir de 1961 realizou inúmeras exposições individuais em Moçambique e ainda na Alemanha, Áustria, Bulgária, Chile, Cuba, Estados Unidos, Espanha, Índia, Macau, Portugal e Turquia.

Tem murais pintados ou gravados em cimento em vários pontos de Maputo e na cidade da Beira; na África do Sul; no Chile; na Colômbia; nos Estados Unidos da América; na Grã-Bretanha; na Suazilândia; e na Suécia. A sua obra, para além dos murais e das duas esculturas em ferro instaladas ao ar livre é composta por Pintura, Desenho, Aguarela, Gravura, Cerâmica, Tapeçaria, Escultura e encontra-se (exceptuando a vastíssima colecção do próprio artista) em vários museus e galerias públicas, bem como em colecções privadas, espalhadas por inúmeras partes do Mundo.

Malangatana foi membro do Júri do Primeiro Prémio Unesco para a Promoção das artes: é membro permanente do Júri " Heritage", do Zimbabwe; foi membro do Júri da II Bienal de Havana; da Exposição Internacional de Arte Infantil de Moscovo; de vários eventos plásticos em Moçambique e Vice-Comissário Nacional par a área da Cultura de Moçambique e para a Expo 98.

Recebeu a Medalha Nachingwea pela contribuição dada à cultura Moçambicana.

Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique.

Algumas Exposições Individuais


1961 - Edifício das Associações Económicas, Lourenço Marques.
1985 - Atelier de António Inverno, Lisboa. Desenho na Galeria Almadanada, Almada.
1986 - II Bienal de Havana. Exposição retrospectiva, Museu Nacional de Arte - 25 anos do artista/50 anos de idade, Maputo. Exposição retrospectiva, Leipzig, Chiverine e Berlim.
1987 - Exposição retrospectiva, Sófia. Exposição retrospectiva, Palais Palphy e AAIC, Viena.
1989 - Grenwich Citizens Gallery, Londres. Exposição retrospectiva, Sociedade Nacional de Belas- Artes, Lisboa. Worlds Maaimat 90, Jaensun, Finlândia.

Algumas Exposições Colectivas

1961 - "Imagination 61", Universidade do Cabo, África do Sul.
1985 - "10º Aniversário da República Popular de Moçambique", Casa dos Bicos, Beira e Núcleo de Arte, Maputo. "Artistas do Mundo contra o Apartheid", Roissy-Ch. de Gaule e La Maison de L'Etranger, Marselha. "Hommage aux Femmes", Berlim.
1986 - Semana de Moçambique, Roma. Exposição colectiva de Paço D'Arcos.
1987 - Semana Cultural de Moçambique, Estocolmo.
1989 - Aniversário da OUA, Maputo. Aniversário da ONJ, Maputo. 5º Congresso do Partido Frelimo, Maputo. "Amor e Arte", Maputo. "Encontro de Escritores de Língua Portuguesa".

Prémios

1959 - Menção honrosa no I Concurso de Artes Plásticas de Moçambique, Associação dos Naturais de Moçambique, com "Mulher na Cidade".
1962 - 1º Prémio de Pintura "Comemorações de Lourenço Marques", com "A Humaninade". 1968 - 2º Prémio de Pintura (ex-aequo)" "Comemorações do 24 de Julho", com "Última Ceia". 1970 - Diploma e Medalha de Prata como Membro "Honoris Causa" da Academia Tomase Campanella de Artes e Ciência.
1971 - Bolseiro em Lisboa da Fundação Calouste Gulbenkian, em cerâmica e gravura.
1982 - Artista convidado para "Artistas do Mundo contra o Apartheid", das Nações Unidas. 1984 - Medalha Nachingwea, pela contribuição dada à Cultura Moçambicana.
1985 - Artista convidado para presidir ao júri da National Annual Art Exhibition os Zimbabwe. 1989 - Prémio de Artes Plásticas atribuído pela secção Portuguesa da Assocition International des Critiques d'Art (AICA-SEC).

Museus e Colecções

Está representado em museus, galerias e colecções particulares em todo o Mundo.
As suas obras estão presentes no M'Bari de Oshogbo, Nigéria, no Museu de Arte Contemporânea de Lisboa, no Museu Nacional de Luanda, na National Gallery of Comtamporany Art de Nova Deli, na National Art Gallery de Harare, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, na colecção do Partido Comunista Português, no Museu Nacional de Arte de Moçambique e em inúmeros países, de Cabo Verde à Nigéria, da Bulgária à Suíça, dos Estados Unidos ao Uruguai, na Índia e no Paquistão.