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Título: CAÇA EM MOÇAMBIQUE
Ano de publicação: 1952
Editora: Litografia Nacional - Porto
Trata-se de uma das primeiras monografias editadas em Moçambique sobre a sua fauna bravia, ao tempo designada simplesmente por "caça" e que foi apresentada pela Comissão de Caça da Colónia por ocasião do IV Congresso de Turismo Africano realizado em Lourenço Marques (actual Maputo) em Setembro de 1952.
Através das suas 7o páginas, de texto e fotos, são descritas e mostradas as potencialidades faunísticas do território, de forma a tornar conhecido não só este fabuloso património que a natureza nos legou, como a entusiasmar os amantes da caça a praticarem aquele que sempre foi designado - e ali é referido - como o desporto mais nobre pela antiguidade, e o mais viril pelas qualidades que requer, de todos os desportos conhecidos!
À boa maneira das narrativas românticas que na época faziam a delícia dos apaixonados pelas histórias de caça vividas em África, também o autor desta monografia brindou os seus leitores com excelentes trechos poéticos, a raiar a ficção, tanto na definição das emoções das caçadas como na descrição das belas paisagens povoadas de grandes manadas dos mais dignos representantes da fauna selvagem! Fala-se também ali do perigo eminente que o sertão oferece ao mais valente aventureiro, outra das técnicas atractivas para os fanáticos do desporto mais nobre e viril!
Estes são alguns dos trechos que preenchem as belas narrativas do primeiro livro da série que pretendemos divulgar a partir de agora:
Em planícies sem fim à esquerda e à direita, ao perto e ao longe, manadas
compactas de búfalos, de antílopes de toda a espécie, separados por
delgados fios de água, ou por alguma mancha de verdura, donde, não raro,
surge a manada dos elefantes, por vezes, grupos de dez a vinte indivíduos
que se apossaram de uma ilhota de verdura onde pastam com a
tranquilidade de quem está no que é seu, ou o solitário a que a idade ou a
fraqueza negam os prazeres da sociabilidade.
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Todo aquele que se aventurar no interior destas regiões carece de robustez física de ferro e de dotes de vontade e inteligência acima do comum.
Uma vez afogado no mar de fogo do capim, onde tudo é desesperadamente
igual, sem um só acidente característico, monte, árvore, dobra de terreno
que sirva de referência, o caçador, perdido o trilho, fica isolado do Mundo,
exposto a toda a espécie de perigos, dos quais o prazer irresistível da
perseguição é o mais traiçoeiro.
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Desde o Maputo e Panda, no Sul, às margens do Rovuma, no extremo
Norte, quantos lugares onde pôr à prova as qualidades de destreza e
vontade, e ainda mais estas do que aquelas, não encontram todos aqueles
para quem a fascinação dos perigos do mato, a ânsia de emoções não
experimentadas sobrelevam aos prazeres duma sessão de box, e - o que
não é menor vantagem ainda - a facilidade de escolher em quase todos eles
a espécie de caça que se deseja ou a que a maior ou menor experiência
aconselha a procurar! Por maiores que sejam as exigências do caçador, e
apesar das necessidades do progresso e, por vezes, dos abates
indiscriminados a que se procedeu, Moçambique é ainda suficientemente
rica para as satisfazer inteiramente.
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Quando se está debaixo de telha, num meio amigo, cuja segurança e
conforto imuniza do medo; quando ainda se não foi esbarrar com um
elefante, que, a 30 ou 40 metros, atravanca o caminho, ou se não ouviu
"cantar" o leão nestas solidões, é fácil rir e descrer das histórias da caça.
Mas que se experimente! Que o mais incrédulo vá de Montepuez a Mueda,
passando pelo Nairoto, que atravesse as matas que vão de Negomano a
Mecula, ou que desça de Necaloje a Metarica, e também esse, depois,
nas reuniões em que a essas histórias se dá o crédito dos contos das
"Mil e Umas Noites", erguendo-se e tomando o aspecto grave de quem
presta um juramento, começará: "Um dia, indo eu....."
Pode dizer-se que toda essa África Negra é uma mancha única de caça!
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Marrabenta, Junho de 2007
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